Há décadas se alimenta a teoria de que a chegada do homem à Lua foi um blefe americano em meio a corrida espacial dos anos 60. O que nas mãos de outro diretor poderia se tornar uma produção megalomaníaca que focaria na chegada do homem ao nosso satélite natural, nas mãos de Damien Chazelle se torna uma produção intimista que revela os sacrifícios e percalços ocorridos para alcançar tal feito, e esse é o principal acerto de O Primeiro Homem.
O roteiro de Josh Singer (vencedor do Oscar por “Spotlight – Segredos Revelados”) é baseado no livro homônimo de James R. Hansen, a biografia de Neil Armstrong em que o autor entrevistou uma centena de pessoas e teve acessos a documentos da família de Neil, além de ter gravado mais de 50 horas de entrevista com “O Primeiro Homem”. Tal material permite a Singer criar uma jornada cinematográfica de Neil Armstrong (Ryan Gosling) que arrebata o espectador desde as primeiras cenas, como a morte de sua pequena filha Karen. A forma como o acontecimento é retratado e a maneira que isso impacta em Armstrong ecoa durante todo o filme, enlutando também o espectador.
A trilha sonora de Justin Hurwitz, a montagem de Tom Cross e a direção de cenas com com closes fechados e em outros momentos com a “câmera tremendo” levam o espectador a experimentar momentos de mal-estar físico, principalmente em cenas que recriam os testes e viagens em módulos espaciais que parecem que irão se despedaçar em todo instante.
Mas são os momentos de silêncio que chamam a atenção por aumentar substancialmente o impacto de momentos cruciais do filme, principalmente aqueles relacionados às perdas de Armstrong. Se a personalidade fria e distante do personagem pode ser encarada como desdém com as vidas perdidas, é em Janet (Claire Foy) que se encontra uma personalidade emocional completamente oposta de Armstrong, uma esposa que não sabe até quando seu marido retornará vivo para casa.
Se o final do filme é de conhecimento de todos, são as perdas ocorridas durante a trajetória que levou Armstrong à Lua que ganham espaço na direção de Chazelle, retratando isso de maneira fiel ao levar o protagonista a lembrar das vidas perdidas para que seu nome entrasse para a história. A romantização dessa trajetória se completa com uma homenagem à pequena Karen que fará o espectador vencer o luto e dar-se por satisfeito com tudo que acabara de vivenciar.
Ao focar nos traumas e concessões pessoais dos personagens envolvidos em um dos maiores eventos da história, Chazelle humaniza o frio Neil Armstrong não o retratando como um herói mas como um homem, “O Primeiro Homem”.
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