O Mecanismo da Netflix é mais uma adaptação que tenta aproveitar o trem (ainda andando) da operação Lava-Jato no intuito de se tornar uma House of Cards tupiniquim, mas esbarra num roteiro frágil e atuações questionáveis que transformam a série num novelão ao estilo La Casa de Papel, ainda mais com a narração e modo de atuação do personagem de Selton Mello, porém, sem o carisma do Professor.
Uma das diversões propiciadas pela série é tentar adivinhar quem é quem no cenário político real e divertir-se com a troca de nomes como Polícia Federativa, Banco Brasileiro e Petrobrasil.
Apesar do viés político que O Mecanismo tem e a clara escolha por um lado desse cenário, existe a tentativa de bater nos “dois lados”, mesmo que alivie para um lado dessa polarização que vivemos no melhor estilo bate e assopra. A série ainda se propõe a expor logo no primeiro episódio como funciona o real mecanismo de nossa política para aqueles que tendem a torcer para político como para um time de futebol ao retratar o diálogo entre um empreiteiro e político recém eleito:
– Nossa, mas você por aqui?
– Eu estou sempre por aqui, são vocês que mudam a cada quatro anos.
Se O Mecanismo acabasse nesses primeiros minutos, bastaria para entender como giram as engrenagens da política nacional. Mas ela vai além, tentando mostrar da maneira mais didática, ficcional e fantasiosa possível como o buraco é mais embaixo, da escolha a dedo dos ministros do STF ao esquema de cobrança para permitir que “Seu João” encanador possa trabalhar. E não se deixe enganar pela trama fantasiosa da série, pois é assim mesmo que a roda gira.
Os ganchos deixados pela série para uma possível segunda temporada ainda dependem de possíveis canetadas do STF e dos desdobramentos que os políticos brasileiros nos proporcionam dia após dia, com situações tão fantasiosas como as exibidas pela Netflix, esses sim os verdadeiros roteiristas e atores de uma obra que se iniciou em 1500 e parece não ter um fim tão cedo.
Sentir-se ofendido por uma obra de ficção e chegar ao ponto de cancelar a assinatura do serviço como divulgado por algumas pessoas nas redes sociais na tentativa de incentivar seus seguidores a seguirem o mesmo exemplo, nada mais é do que uma atitude infantil de uma geração que diz lutar e ter ojeriza dos meios de comunicação que transformam seus espectadores em massa de manobra, ainda mais quando diziam ser censura quando pessoas do outro lado defendiam o boicote a obras de ficção como Sense 8, Orange is the new black e Dear White People.
Obras como O Mecanismo, mesmo que desprovidas da qualidade de uma House of Cards servem para nos alertar, nos cutucar e principalmente para provar que não somos coxinhas e nem pão com mortadela, mas sim um bando de pamonhas!
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