O Juízo, suspense de Andrucha Waddington (Sob Pressão) estreou discretamente essa semana, mesmo contando com nomes como Fernanda Montenegro e Lima Duarte em seu elenco.
O longa conta com duas particularidades, a primeira é o envolvimento quase completo da família de Fernanda Montenegro. Além de sua participação, o filme é escrito por sua filha Fernanda Torres, dirigido por seu genro Andrucha Waddington e ainda conta com seu neto Joaquim Torres Waddington no elenco.
Já a segunda particularidade dependerá de cada espectador. Em meu caso, o filme se conecta com as histórias sobrenaturais contadas por minha avó no interior do Paraná, assustando e entretendo eu e meus primos há anos atrás. Isso por si só fez o filme ganhar alguns pontos comigo, explorando um nicho que poderia ser melhor aproveitado no cinema nacional, a conexão com a memória afetiva do público. Em tempos de banalização da arte por órgãos públicos, qualquer elo que possa fortalecer o cinema nacional é bem vindo.
A trama do filme mostra a história de Augusto Menezes (Felipe Camargo) e Teresa (Carol Castro), um casal em crise no casamento devido ao alcoolismo do marido. Decididos a recomeçarem a vida, se mudam com o filho Marinho (Joaquim Torres Waddington) para uma fazenda herdada do avô de Augusto.
Com a chegada da família ao local, Couraça (com o excelente Criolo) e Ana (Kênia Bárbara) passam a entrar em contato com Marinho e Augusto com o intuito de se vingar por uma traição dos antepassados de Augusto.
O roteiro de Fernanda Torres é coeso, mescla flashbacks dos antepassados com cenas atuais, e em alguns momentos leva o público a se perguntar o que é real e o que é sobrenatural.
Mesmo rodeado por grandes nomes, o estreante Joaquim Torres Waddington não sente o peso da estreia no cinema, mas é Carol Castro que rouba a cena. Deslumbrante, a atriz consegue mostrar em cena o cansaço pelo sofrimento de um casamento desgastado.
Mesmo com pouco tempo de tela, é sempre um prazer ver Fernanda Montenegro e Lima Duarte no cinema, seus personagens são cruciais para o desenrolar da trama e ainda mais importantes quando levado em conta que o real e o sobrenatural podem se parecer muito nesse filme.
Os dois maiores problemas de O Juízo decaem sobre a direção de Andrucha Waddington: cor e edição. Ainda que o diretor consiga captar ótimos planos, a paleta de cores sempre sombria poderá prejudicar a experiência do espectador. Nós (Us) provou no início deste ano que mesmo um filme de suspense/terror pode ser nítido e colorido e cumprir seu papel de assustar.
Por fim, a edição do longa erra em quase tudo que se propõe a fazer. São muitos cortes bruscos que aliados a paleta sombria confunde o espectador em cenas que poderiam ter um acabamento mais refinado.
O Juízo cumpre seu papel com uma história interessante e até instigante, mas que deixa de ser algo maior por escolhas técnicas equivocadas.
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