Encontros chega para nos mostrar que uma comédia romântica não precisa ser óbvia ou clichê, mesmo quando é colocada em um contexto atual, em uma época frustrada por relacionamentos rápidos e fáceis. Aqui entendemos que cada encontro carrega consigo um turbilhão de acontecimentos passados, e que para esse choque de acontecimentos surtir efeito, primeiro precisamos estar felizes com nós mesmos.
Dirigido e roteirizado por Cédric Klapisch (O Albergue Espanhol), junto de Santiago Amigorena, Encontros é um filme linear que nos apresenta uma Paris moderna, virtual e atual, com seu ritmo frenético e as consequências disso. Distribuído pela IMOVISION, o longa entra em cartaz hoje, dia 03 de outubro.
Aqui conhecemos melhor a história de Rémy (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot), dois jovens por volta dos 30 anos, que nunca se encontraram, ainda que vivam em prédios vizinhos e frequentem os mesmo lugares em sua vizinhança.
Ele quase não dorme. É introvertido e pouco sociável. Trabalha em uma grande empresa (vulgo Amazon), a qual substituiu boa parte de seus funcionários por máquinas e isso faz com que ele suba de cargo, ao contrário de seus colegas que são mandados embora.
Ela dorme demais. Trabalha como pesquisadora em um laboratório cedido por um hospital e precisa lidar com o pânico para se preparar para uma apresentação super importante de seu trabalho.
Ele é do interior, mas se mudou para Paris e vive sozinho. Ela é da cidade, mas sua família mora longe dela, com exceção de sua irmã. Ela tem problemas com seus pais, ele não consegue se comunicar com os seus.
Ele desmaia em um trem e se vê obrigado a procurar um psicólogo após ser diagnosticado com estresse severo. Ela se vê obrigada a procurar uma psicóloga por não conseguir superar o fim de um relacionamento.
Ambos querem encontrar alguém para dividir sua vida, por isso ela se torna uma “heavy user” do Tinder e se propõe a encontrar com inúmeros rapazes através do aplicativo, enquanto ele cria uma conta no Facebook e assim espera conhecer novas pessoas.
O longa nos apresenta diversos pontos relacionados entre os protagonistas. Por mais que esses pontos sejam fortalecidas em situações, em sua maioria, oposta ao que o outro está vivendo, a maneira com que cada um trabalha para “resolver” seus problemas, culmina para o final do filme.
E isso o torna interessante, ver como dois opostos se completam em tantas maneiras, mas que por conta de seus problemas, de seu dia a dia corrido, nunca conseguiram olhar para o lado para encontrar um ao outro.
Você consegue se relacionar com eles, consegue entender o sofrimento de cada um, ainda que não ache justificável. E isso se dá pela incrível atuação e entrega de ambos os atores, o que torna o filme ainda mais carismático. Outro ponto a favor é o dono do mercadinho que os protagonistas frequentam, com humor ele torna as cenas leves e divertidas.
Encontros tem uma subtrama que conecta ainda mais os protagonistas, sem ao menos eles saberem, nos levando a entender a importância dos animais em nossa vida. Um gato é doado para Rémy, o que em princípio ele não gosta, mas que aos poucos se apega e que o ajuda a enfrentar o momento depressivo por qual está passando. O gato acaba fazendo parte da vida de Mélanie também, e se torna o mesmo “remédio” que é para Rémy, mas eu não contarei mais para não perder a graça do filme.
Podendo ser comparado com o encantador longa argentino Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual (Gustavo Taretto), Encontros é um filme belíssimo, desapressado e cativante, que nos faz pensar, entre um som de mpb e outro, em como estamos vivendo e o que estamos perdendo ao aceitar o ritmo frenético da vida do século XXI.
Como disse, o longa está longe de ser um clichê e é muito mais profundo que uma comédia romântica sobre um homem e uma mulher e seus encontros e (des)encontros. É sobre como os acontecimentos pelos quais passamos, e como encaramos esses acontecimentos, nos molda na vida adulta. Assim entendemos que, em uma época tão conturbada quanto a que estamos vivendo, é preciso parar e analisar (a si próprio e o mundo ao redor) para entender de fato o queremos e entender o caminho que iremos seguir para sermos felizes.
Vale lembrar que esse foi o último trabalho da prestigiada atriz francesa, Renée Le Calm. Ela, que sempre aparece nos filmes de Cédric Klapisch, faz uma ponta interpretando uma senhora que liga insatisfeita por não ter recebido sua encomenda. É Rémy quem a antende.
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