Doutor Sono consegue fazer um feito difícil e pouco visto nos cinemas, o de agradar os fãs das obras de Stephen King (inclusive o próprio autor) e ao mesmo tempo viajar no tempo e resgatar o filme de Stanley Kubrick, imortalizado como um dos melhores filmes de terror.
Mike Flanagan, que dirigiu e escreveu o roteiro junto a Avika Goldsman (Uma Mente brilhante, Eu sou a Lenda e A torre negra), já dirigiu outra obra de King, o filme para a Netflix “Jogo Perigoso“.
Doutor Sono conta a história de Danny Torrance, o garoto que foi assombrado pelo pai e pelo Hotel Overlook em O Iluminado. O longa começa logo depois dos acontecimentos no Colorado e nos mostra como Danny e sua mãe, Wendy, lidaram com o ocorrido e com seus traumas.
A partir disso conhecemos três histórias que culminam na terceira parte do filme, a história de Danny, a de Abra e a de Rose Cartola, líder do Verdadeiro Nó, um culto de quase-imortais que se alimenta de vapor, uma essência produzida quando as pessoas que possuem brilho morrem de dor.
Já adulto, Danny decide se mudar para a pequena cidade de Frazier (bem característico das histórias do King) para fugir de seus fantasmas, traumas e vícios. Ele faz algumas amizades e passa a trabalhar em uma pequena clínica psiquiátrica, onde passa a confortar os pacientes que estão morrendo. Auxiliado por um gato que pode sentir quando alguém está prestes a morrer, Dan adquire o apelido de Doutor Sono.
Abra é uma pré-adolescente que, assim como Dan também é iluminada, e assim ela passa a se comunicar com ele. As coisas mudam quando ela psiquicamente testemunha um ritual de tortura e assassinato do culto Verdadeiro Nó. Cientes da presença de Abra, o culto passa a procurá-la para que possam se alimentar do vapor da garota, que é extremamente poderosa. E a partir disso, Dan passa a ajudar a garota a enfrentar o culto, nos fazendo entender que a história aqui é cíclica, assim como Halloran o ajudou a enfrentar os fantasmas do Overlook que o assombravam.
O filme é muito bem feito e consegue prender o telespectador em suas duas horas e meia, com reviravoltas bem colocadas e cenas bem construídas. Flanagan consegue trazer detalhes dos livros de King, mesmo que muitas coisas sejam diferentes, já que o diretor se propôs a continuar na mesma ambientação do filme de 1980.
Além disso, o jogo de câmera nas cenas psíquicas são um show à parte, muito bem feitas e interessantes, que prendem o telespectador. Outro ponto positivo é o fato de não usaram CGI`s para trazer os personagens de O Iluminado de volta à vida. Os novos atores conseguiram passar o que precisavam e em muitas vezes melhor do que seus antecessores. Por falar em antigos personagens, fica a dica: preste atenção na cena do jogo de beisebol, o ator que deu vida ao Danny de 1980 faz uma participação.
Em compensação, Ewan McGregor (Star Wars) não é o forte do longa. Sua atuação pedia um pouco mais de carisma e entrega, o que não aconteceu, mas que não atrapalha o desenrolar da obra. Já a atriz mirim Kyliegh Curran (I Can I Will I Did) dá um show com seus 13 anos de idade. Ela consegue passar as emoções necessárias, apresentar as mudanças de tons e até mesmo uma pequena arrogância adolescente, ao achar que pode desafiar qualquer um.
Assim como Rebecca Ferguson (Missão Impossível), que desempenha uma ótima atuação de Rose Cartola, principalmente quando entende que Abra é muito mais forte que ela. A atuação de Emily Alyn Lind (A Babá) também encanta, o que me incomodou foi o pouco uso disso. A personagem começa como uma promessa, mas acaba esquecida pelo roteiro.
Em contrapartida, o filme peca quando falamos de terror. Aqui, ao contrário do filme de Kubrick, somos presenteados com jumpscare a todo momento, o que tira a beleza e o medo da obra. Alguns personagens que, em nossa cabeça são tão assustadores, passam a aparecer com tanta frequência que se tornam banais.
Afinal, vale a pena assistir? Vale! É um filme envolvente, com cenas interessantes e uma história cativante. Consegue agradar ambos os fã-clubes e ao mesmo tempo continuar a história. No entanto, não espere um filme de terror para não dormir de noite. Doutor Sono pende mais para o lado de filmes de super-heróis do que de terror.
Eu, como uma boa fã dos livros de King, precisei separar a história para enxergar o filme em um todo. Aqui não temos um retrato fiel de Doutor Sono, mas sim uma adaptação que tentou (e conseguiu), em vários pontos, se aproximar aos livros, levando junto uma antiga adaptação, que apesar de magistral, passa longe da história original.
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