Dois Papas (The Two Popes) é o novo filme do diretor brasileiro indicado ao Oscar Fernando Meirelles, e mirando também o Oscar a Netflix lançou o filme nos cinemas no final de novembro. Na semana do Natal, o longa chegou também ao serviço de streaming e mostrou-se digno de todos os elogios que vem recebendo.

O longa conta com Anthony Hopkins como Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI e Jonathan Pryce como Jorge Bergoglio, o Papa Francisco. O filme compreende desde o momento após a morte do Papa João Paulo II até a eleição de Bergoglio como o atual Papa.

Inspirado em uma história real, Dois Papas aborda a eleição de Ratzinger como Bento XVI, cujo papado extremamente conservador acabou afastando os fiéis da igreja, não só pela linha de pensamento mais autoritária mas também por escândalos que vão desde irregularidades no Banco do Vaticano até os casos de pedofilia envolvendo membros da igreja.

Com a saúde debilitada e ciente dos problemas da Igreja, Bento XVI toma a difícil decisão de renunciar ao cargo de líder máximo da Igreja Católica, algo até então impensável e visto pela última vez em 1415, com a renúncia do Papa Gregório XII.

Inicia-se então a busca pelo sucessor de Bento XVI, o que o leva a se aproximar de Jorge Bergoglio, um Bispo argentino de costumes simples e com pensamentos progressistas.

Com opiniões totalmente contrárias que vão do futebol ao modo de vida, os diálogos entre ambos são o ponto alto do roteiro de Anthony McCarten (A Teoria de Tudo), mas que não seria possível sem o talento de Hopkins e Pryce. O humor, a seriedade, a fé, o passado, tudo isso é abordado de maneira simultânea, divididos por uma linha tênue que mostrará mais sobre a vida pessoal dos cardeais em um processo que irá aproximá-los, permitindo que opiniões diferentes possam convergir em benefício de uma causa maior, nesse caso, reconquistar os fiéis da Igreja.

Há de se salientar que os escândalos que motivaram a renúncia de Bento XVI são abordados superficialmente, e isso não se deve ao receio de criar atrito com a Igreja mas sim pela intenção de Meirelles em trazer à tona a personalidade de duas figuras tão importantes e mostrar que apesar dos títulos que ostentam, são pessoas falhas como nós.

O filme conquistou o Prêmio do Público de Melhor Filme Americano no Festival de Cinema de Mill Valley, Prêmio do Público de Melhor Longa-metragem no Festival Internacional de Cinema dos Hamptons e Prêmio do Público de Melhor Longa-metragem no Festival de Cinema de Middleburg e a considerar as críticas extremamente positivas, tem tudo para ser lembrado em duas ou três categorias do Oscar.

O longa não é um filme sobre religião, mas tenta jogar luz sobre a dificuldade das igrejas em se modernizarem e conquistarem fiéis cada vez mais distantes. Ao acenar para a conciliação de pensamentos tão opostos através do respeito e não da fé, Dois Papas tem muito a ensinar para uma sociedade tão dividida.

Dois Papas tinha tudo para ser um filme religioso, mas acerta ao mostrar os cardeais como figuras humanas com suas falhas, dúvidas e até mesmo carentes de fé.

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