Um Crime Para Dois (The Lovebirds) é mais uma produção vítima do Covid-19, visto que antes da pandemia a Paramount planejava lançar a comédia nos cinemas. Não chegou à telona, mas chegou ao catálogo do serviço de streaming mais famoso do mundo: a Netflix.
O filme gira em torno do casal Leilani e Jibran (Issa Rae e Kumail Nanjiani), que está passando por uma crise em seu relacionamento. Quando eles se veem de repente envolvidos em um misterioso assassinato, precisam tentar resolver o crime para limpar seus nomes enquanto tentam salvar a relação.
Leilani é uma mulher que gosta de fazer programas inesperados e exige de Jibran que ele se liberte um pouco de sua mania de querer sempre programar tudo. Já Jibran, por sua vez, acha que Leilani é muito liberal e deveria focar mais sua atenção nele. Esse conflito de personalidades é o que movimenta as discussões do casal.
Apesar da trama parecer meio genérica, até mesmo um tanto clichê (e realmente é), sem dúvidas o ponto forte do filme são as atuações de Issa Rae e Kumail Nanjiani. Os protagonistas esbanjam carisma e conseguem cativar o espectador desde sua primeira aparição, quando ainda se apresentam como aquele casal meloso. Mas conforme o tempo avança, tudo só melhora, e cada nova discussão em meio ao caos resulta em boas risadas.
Ainda falando dos dois protagonistas, a sintonia entre eles é simplesmente impagável, levando-nos a acreditar, inclusive, que muitas das cenas foram feitas totalmente no improviso. Em diversos momentos os dois começam a divagar sem qualquer direcionamento lógico, e de tanto que um sobrepõe a fala do outro, conseguimos até nos ver na mesma situação, vendo como são um tanto ridículas as discussões que não levam a nada.
Um Crime para Dois “cutuca” os preconceitos ao brincar com os estereótipos das minorias, neste caso um casal formado por uma mulher negra e um imigrante árabe. Não são poucos os momentos em que, apesar do tom cômico, são impressos em tela as mais diversas situações racistas e preconceituosas, que as minorias têm de enfrentar diariamente (em especial uma cena com policiais brancos, loiros e de olhos azuis).
A direção ficou a cargo de Michael Showalter (Doentes de Amor). O diretor consegue dar um ar dinâmico ao desenrolar da história, se perdendo em alguns poucos momentos onde pisa demais no freio e acaba deixando o clima esfriar. Mas nada que pese tanto no conjunto final.
Desde o início trabalhando com o estereótipo das relações conjugais (o amor incontestável no início e as brigas que vêm logo em seguida), Um Crime para Dois vai nos levando por uma atmosfera leve e divertida, mas contando ao mesmo tempo com um fundo pesado, que envolve desde a corrupção policial até o ingresso em seitas desconhecidas. Nada disso tira a graça da produção, que conta com um humor muito peculiar, que não se desfaz mesmo nas situações mais tensas.
O filme aproveita elementos de outras comédias já conhecidas do grande público, como Uma Noite Fora de Série e Noite de Jogo, mas fazendo isso de forma bem mais original e intensa. Acompanhar o casal em crise brigando enquanto tenta resolver um assassinato (mesmo sem talento nenhum para isso) é hilário e em nenhum momento nos arrependemos de dar o play no filme.
Um Crime para Dois, apesar de ter recebido um título horrível em português, é basicamente um besteirol policial e deve, mesmo se não conquistar, pelo menos arrancar boas risadas e divertir.
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