Estreou nessa sexta (10) na Netflix, o longa The Old Guard, que adapta a HQ criada por Greg Rucka e Leandro Fernández. O longa mostra Andy, papel de Charlize Theron, como a líder de um pequeno grupo de imortais que sobrevive aos séculos ajudando a humanidade na medida do possível.
Andy (Charlize Theron) é Andrômaca, a Cita; esposa de Heitor, que foi assassinado por Aquiles na Guerra de Troia. O grupo ainda é formado por Joe (Marwan Kenzari) e Nicky (Luca Marinelli), guerreiros que se conheceram durante as Cruzadas estando em lados opostos, matando um ao outro diversas vezes. O membro mais “novo” do grupo é Booker (Matthias Schoenaerts), um soldado de Napoleão Bonaparte.
Escrito pelo criador da HQ, o longa mantém-se fiel ao material de origem, mostrando desde o início a importância de o grupo se manter invisível. Mesmo com a eficiência que o grupo adquiriu ao longo dos séculos, era esperado que esses imortais mercenários seriam alvos de lendas urbanas e entrariam na mira de pessoas poderosas.
O grupo é recrutado por Copley (Chiwetel Ejiofor), um ex-agente da CIA que atua de maneira mais independente, para resgatar um grupo de crianças sequestrados por extremistas. É exatamente aí que a situação desanda e o grupo vai parar na mira de Steven Merrick (Harry Melling, o primo Duda de Harry Potter), CEO de uma indústria farmacêutica, interessada é claro, no fator de imortalidade do grupo.
Aqui é necessário ressaltar um ponto, Harry Melling é um dos pontos fora da curva no longa, conseguindo ser tão perverso e irritante como Merrick que faz o primo Duda parecer apenas uma criança mimada (o que realmente era, de fato).
Há ainda o surgimento de Nile (Kiki Layne), recém imortal que não faz ideia do que está acontecendo, revelada aos demais através de uma conexão psíquica (se é que posso chamar assim) entre os integrantes, dando a entender que esse elo mental existe para que o grupo possa proteger e fornecer apoio aos recém imortais.
Com todas as cartas na mesa, o grupo terá que lidar com a chegada de uma nova imortal, ficar unido e descobrir quem os quer como ratos de laboratório, ao passo que alguns integrantes precisam ainda lidar com fantasmas de um passado milenar. O que poderia ser uma bagunça sem precedentes e cheia de clichês, torna-se uma história bem contada graças ao roteiro de Greg Rucka e a direção de Gina Prince-Bythewood (Nos Bastidores da Fama, Manto e Adaga).
Greg Rucka, escritor com notável passagem pela DC, criou a HQ e também assina o roteiro do longa. Não é a primeira experiência de Rucka como roteirista, tendo ajudado a escrever também o roteiro da ótima animação Batman: O Cavaleiro de Gotham. À frente de um grande projeto de maneira independente, Rucka cumpre bem o seu papel, sabendo dosar a forma como a história dos guerreiros é contada, sem abusar de flashbacks, deixando no público um gostinho de “quero mais” sobre o passado dos personagens.
Já Gina Prince-Bythewood consegue extrair do elenco de imortais o peso que recai sobre seus ombros cansados pelo tempo e assombrados pela amargura de perdas passadas. A diretora ainda entrega cenas de luta que apesar de não serem diferentes do que já vimos em outros longas, são bem coreografadas ao ponto de empolgar e muito o espectador.
O ponto fraco de The Old Guard é a trilha sonora, o que parece não ser exclusivo do longa e sim uma máxima dos filmes produzidos pela Netflix. Mesclando uma trilha sinfônica com músicas pop, sobram momentos que poderiam ser memoráveis e tornam-se apenas comuns pela falta de uma trilha sonora à altura.
Curioso que The Old Guard traz à tona elementos até então não explorados por outras adaptações de quadrinhos, que é o peso de um herói imortal sobreviver aos anos, mantendo-se bom enquanto vê todos aqueles que amam morrendo por conta do tempo, colocando de maneira central no longa o questionamento sobre o real propósito de vida desses seres.
The Old Guard provou-se um achado em meio a tantos lançamentos produzidos pela Netflix de maneira quase “industrial”. O longa apresentou personagens carismáticos, um vilão irritante, deixando perguntas e um cliffhanger sensacional que poderá servir para a trilogia planejada por Gina Prince-Bythewood, matando um pouco da vontade daqueles que já estavam ansiosos por assistir um longa de quadrinhos nos cinemas.
Por fim, fico com o pensamento que um sábio amigo me disse: “mede-se o interesse pelo que está assistindo baseado na quantidade de vezes que você verifica se há alguma mensagem no celular”. Não poderia concordar mais com isso, e em tempos de isolamento social provocado por uma pandemia global, o cinema tem sido a nossa TV já há alguns meses e em meio a tantos lançamentos de qualidade questionável, é uma satisfação afirmar que The Old Guard resiste ao menos à “prova do celular”.
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