O Preço da Verdade (Dark Waters) é a adaptação de uma história real da luta quase solitária do advogado Robert Bilott (Mark Ruffalo) contra uma das maiores empresas do mundo. Baseado em uma história real publicada em 2016 pelo The New York Times, o longa mostra como um fazendeiro serviu de estopim para a revelação de um dos maiores crimes ambientais que se tem conhecimento, prejudicando o ecossistema local e levando a morte de inúmeras pessoas.
Se hoje a sociedade brasileira vive uma era de fake news em que se associa a preservação ambiental “exagerada” como um entrave para o crescimento econômico, os americanos provam neste longa o que o crescimento desenfreado sem preocupações com o meio ambiente podem custar ao homem, e é bom frisar, a história se inicia há quase meio século.
Talvez a batalha do advogado Robert Bilott contra a gigante DuPont não chegasse ao conhecimento do grande público não fosse Mark Ruffalo. Grande defensor do meio ambiente, o ator também é produtor do longa. A paixão de Ruffalo pela defesa do meio ambiente é visível em tela, a atuação do ator expõe tudo aquilo que ele cobra diariamente em suas redes sociais.
O Preço da Verdade é a versão moderna de Davi e Golias
Em 1998, o pequeno fazendeiro Wilbur Tennant (Bill Camp) procura o advogado Robert Bilott (Mark Ruffalo) em busca de auxílio para investigar supostas irregularidades ambientais da empresa DuPont que está levando a destruição de sua fazenda e a morte de seu gado. Perplexo, Bilott tenta explicar ao fazendeiro que defende empresas químicas e que deveria procurar outras instituições que poderiam lhe auxiliar da maneira adequada. Ocorre que Wilbur já havia procurado todos os órgãos competentes sem sucesso; e também todos os advogados da região, que não toparam levar a investigação adiante.
Advogado de defesa ambiental de grandes empresas, Bilott reluta em aceitar o caso, mas conforme se aprofunda na história, descobre que o setor que defende não é tão correto como imaginava. A partir desse momento, Bilott inicia uma batalha quase solitária contra uma das maiores empresas do país, colocando sua saúde e casamento em risco numa versão moderna de Davi contra Golias.
A fotografia cinzenta e quase sem vida de Ed Lachman cria uma paisagem desumana até mesmo em meio aos campos que deveriam reluzir vida e cores. O diretor Todd Haynes conta a história sem atropelos, criando uma linha do tempo que servirá para deixar o espectador ainda mais indignado com a demora para resolução de casos de vida ou morte.
Haynes ainda consegue simplificar termos técnicos (químicos e jurídicos) que pareceriam cansativos e complicados de uma maneira muito simples e didática, utilizando-se disso para criar um ambiente de suspense que irá prender a atenção do espectador e aumentar sua indignação. E isso se deve também ao roteiro de Matthew Carnahan e Mario Correa, que trata de eliminar todo o melodrama jurídico que estamos acostumados a testemunhar (desculpe pelo trocadilho) em filmes do gênero.
O Preço da Verdade é a externação da indignação das vozes que quase nunca são ouvidas, dos defensores do meio ambiente. Como atualmente tudo se trata de política, defender o crescimento econômico com uma política de preservação ambiental lhe renderá o título de esquerdista, comunista ou qualquer outra coisa que não o de uma pessoa “sensata”.
As atuações de Mark Ruffalo e Bill Camp estão fora da curva em um elenco estrelado com nomes como Anne Hathaway, Tim Robbins, e Bill Pullman. Ruffalo mostra que a busca pela verdade pode custar caro de maneira física, emocional e psicológica.
Mas é o coadjuvante Bill Camp que rouba a cena ao interpretar um homem humilde que é prejudicado pelo sistema e não se conforma com a situação. Com uma caracterização muito parecida com a do verdadeiro Wilbur Tennant, o ator está sempre raivoso, indignado e emociona com um final que mostra o quão danoso é enfrentar aqueles que controlam o sistema através de políticos comprados, advogados e processos jurídicos que são duram décadas.
Entender a mensagem de O Preço da Verdade é a grande questão para nos tornarmos cidadãos mais conscientes e criarmos consciência de que trocar vidas por progresso econômico não é um avanço.
Não estranhe ao sair da sessão cheio de dúvidas sobre o que consumimos, sobre o processo de produção duvidoso de itens que costumamos ter em nossas casas, expor os fatos reais e causar esse sentimento parece ser a missão desse longa que custou apenas US$ 10 milhões.
Talvez o longa sirva para acordarmos o Wilbur Tennant dentro de nós e possamos nos levantar contra as negligências corporativas que rompem barragens de dejetos, que causam queimadas ou entrega água suja em nossas torneiras.
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