E o que parecia impossível há dois ou três anos atrás finalmente aconteceu. O Snyder Cut, ou se preferir, a Liga da Justiça de Zack Snyder finalmente estreou e foi revelado ao público. O filme que ganhou ares de lenda devido a seus bastidores conturbados é um alento para aqueles que defendem sempre a visão dos criadores de uma obra.
Antes de mais nada é preciso deixar claro que o Snyder Cut não é um filme apenas para os fãs, conforme alguns sites e perfis gostam de alardear. Zack Snyder consegue extrair o básico da essência dos grandes personagens da DC em um longa que nada lembra a fracassada versão de Liga da Justiça, lançado em 2017 e dirigido por Joss Whedon. Assim, o diretor agrada o grande público que se decepcionou com o longa de 2017 e também os fãs de carteirinha de sua visão endeusada dos personagens da DC, quase sempre tratando-os como deuses contemporâneos inspirados em mitos da mitologia greco-romana.
O diretor consegue condensar a essência de todos os maneirismos pelos quais é conhecido, o slow-motion, a paleta dessaturada e movimentos que parecem saltar das páginas dos quadrinhos para as telas. Nem mesmo as quatro horas de duração e o formato de tela 4:3 são suficientes para entediar o espectador ávido por toda e qualquer diferença em relação ao longa de 2017, e Snyder não decepciona, desde a abertura até os créditos finais o que vemos é uma história muito mais coesa e segura de si.
A “liga” do Snyder Cut
O longa se inicia no momento da morte do Superman (Henry Cavill), em Batman vs Superman, desencadeando o despertar das Caixas Maternas e o início da missão do Batman (Ben Affleck) em reunir os heróis para suprir a ausência do grande protetor do planeta. Ao mesmo tempo, Diana (Gal Gadot) descobre que, além do Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), os heróis terão que se preocupar com um ser muito mais temido, Darkseid (Ray Porter), que em sua busca pela Equação Antivida foi o responsável pela destruição de milhares de planetas.
Embora o Snyder Cut tenha início e fim parecidos com a versão teatral de 2017, é o caminho trilhado pelos personagens que difere as versões. Snyder se preocupa em detalhar todas as conexões, explora o passado e aproveita as extensas horas de filmagens para não deixar nenhum detalhe de fora. Um exemplo disso é Ciborgue, o personagem de Ray Fisher que foi tratado como um simples coadjuvante na versão de Joss Whedon transforma-se na força motriz e catalisador das principais ações do longa.
O personagem nos oferece um olhar mais dinâmico sobre o funcionamento das Caixas Maternas, permitindo que até mesmo aquele espectador que não conheça a mitologia dos artefatos entenda rapidamente o seu propósito. Ainda é Ciborgue o responsável pelas cenas mais emotivas do longa, desde os problemas com o pai ausente (numa cena idêntica à animação Liga da Justiça: Guerra) até a perda da mãe e a aceitação de quem se tornou.
Outro personagem que ganhou um novo tratamento no Snyder Cut é o Flash de Ezra Miller. Sai de cena a versão abobalhada criada por Joss Whedon e entra em cena um Flash novato, bem-humorado mas ciente de seu lugar em meio ao grupo de heróis. O tombo sobre o corpo da Mulher-Maravilha ou a piadinha com a família russa dão lugar a uma homérica cena que lembra e muito o desfecho da animação Liga da Justiça: Flashpoint.
Aquaman e Mulher-Maravilha são os personagens que menos precisam passar por um processo de desenvolvimento. Se a guerreira amazona está com sua franquia consolidada nos cinemas, o atlante tem em algumas cenas a chance de desenvolver lacunas que foram deixadas no longa anterior, criando uma ligação mais homogênea com seu filme solo.
Porém é o Batman de Ben Affleck que acaba mostrando um maior amadurecimento de seu personagem. Continuando o processo de redenção iniciado em Batman vs Superman, aqui vemos um Batman mais otimista até mesmo diante do apocalipse. A “fé restaurada na humanidade” não poderia ser mais visível, o personagem turrão e desesperançoso de Batman vs Superman dá um lugar a um Batman companheiro e disposto a sacrificar-se por seus colegas.
Mesmo com pouco tempo de tela, o Superman de Henry Cavill não é menos importante. É sua ausência que une os demais heróis, que mostra a importância que um dos seres mais poderosos do planeta pode fazer à uma pessoa, não por seus poderes ou proteção, mas sim por sua personalidade, bondade e vontade de ajudar o próximo.
O início do fim
Embora o movimento Snyder Cut tenha sido algo sem precedentes, é difícil imaginar que a Warner Bros. dê prosseguimento ao universo criado por Zack Snyder. Blockbusters custosos como filmes de super-heróis precisam falar com todos os públicos, da criança de 10 anos ao adulto de 50, ou então ele correrá o sério risco de não trazer o retorno esperado pelo estúdio.
E a visão de Snyder é intimista mas carregada de suas assinaturas, os movimentos em câmera lenta com trilha sonora operística, a paleta suja e granulada (e de fato, escura), são características que fazem o diretor ser tão amado e odiado ao mesmo tempo.
Há quem diga que Snyder é um visionário que trata seus longas como grandiosos épicos, outros o chamam de diretor de videoclipes, fato é que Snyder conseguiu resgatar o respeito dos maiores super-heróis da cultura pop que fora perdido em 2017 com um longa sem alma, sem identidade e com um dos maiores fiascos de CGI da história do cinema.
Snyder conseguiu nos deixar com vontade de assistir um longa sobre a primeira tentativa de Darkseid invadir a Terra, nos deixou sedentos pelo embate entre Batman e Exterminador, conseguiu criar curiosidade sobre o passado do Caçador de Marte e sobre o que o poderíamos esperar de seu Eléktron.
O diretor conseguiu restabelecer o respeito do Coringa mais achincalhado dos cinemas, fazendo com que em apenas uma cena o personagem batesse de frente com seu rival através de um monólogo atrevido e, por que não, verdadeiro.
Zack Snyder conseguiu entregar tudo isso ao mundo da cultura pop, mesmo após perder o seu mundo. E se isso não é amor por esses personagens, é difícil dizer o que seria.
For Autumn!
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