Quando foi anunciado, o novo longa baseado na obra de Stephen King, ao mesmo tempo em que criou grande expectativa, também levantou preocupações, pois não é de hoje que a maioria dos remakes e sequências produzidas não conseguem manter o nível da obra original. Felizmente, IT é a prova de que uma adaptação bem trabalhada pode sim ser superior.
O filme se passa na pequena cidade de Derry, que começa a ser atormentada por uma sequência de misteriosos desaparecimentos. É então que um grupo de crianças se une para acabar de uma vez por todas com o tenebroso palhaço Pennywise.
Diferentemente do filme original, o novo longa adapta somente uma parte do livro de Stephen King, retratando apenas a primeira fase da história, tornando possível desenvolver o enredo sem atropelar fatos e eliminando personagens rasos. Apesar de ter mais de duas horas de duração, o que foge dos padrões do gênero, o longa consegue prender a atenção do espectador sem ser cansativo.
Logo no início, o conjunto de fotografia e som nos remete a um filme da “Sessão da Tarde” dos anos 90, impressão que é rapidamente derrubada por um acontecimento macabro, mostrando imediatamente na sequência de abertura que o objetivo do longa é aterrorizar e causar desconforto no espectador.
A escolha de elenco foi um dos grandes acertos da produção. Comumente, atores mirins em filmes de terror são inexpressivos e amarrados, mas definitivamente não é o que ocorre aqui. Todos conseguem conquistar seu espaço em cena e desenhar muito bem a personalidade individual de seu personagem. Com destaque para Sophia Lillis e Finn Wolfhard. Sophia transborda carisma em cena, tornando impossível não se apegar a sua personagem Beverly. Finn, famoso por interpretar o pequeno Mike em Stranger Things, consegue novamente mostrar seu talento, mas desta vez sendo o alivio cômico da história, a ponto de ser irritante com suas tiradas maliciosas. O restante do grupo de jovens atores não fica para trás: mesmo com o protagonismo sendo compartilhado entre vários personagens, nenhum deles é ofuscado, todos têm seu momento e sua importância no desenrolar da trama.
Bill Skarsgård (da série Hemlock Grove) também mostra a que veio, dando vida a um Pennywise que consegue causar arrepios somente por aparecer em cena. A caracterização do personagem está diferente do palhaço original eternizado por Tim Curry, pois, enquanto o mais antigo aparentava ser um palhaço convencional, não transparecendo suas reais intenções, as feições do novo deixam claro que o palhaço não tem um objetivo muito amigável.
Orbitando o arco principal do palhaço macabro, existem também problemas individuais de alguns personagens que são apresentados através de fragmentos e culminam em revelações que fazem até os mais fortes se sentirem desconfortáveis.
A fotografia da produção está impecável com um fabuloso trabalho de iluminação e ambientação que contribuem e muito para que seja criada uma atmosfera tensa. Sob a responsabilidade de Andy Muschietti a direção mostra a que veio e consegue arrancar sustos e suspiros sem abusar de jump scares, provando que o desconhecido pode causar muito pânico e aflição. Montando uma estrutura que oscila continuamente entre momentos tranquilos e situações aterrorizantes, o roteiro e a direção deixam claro que, logo após todo momento de calmaria, virá uma tempestade cada vez mais macabra e perturbadora.
Na maioria das cenas nas quais o palhaço demoníaco aparece, o diretor usa a câmera com o eixo principal travado no personagem, imprimindo em tela sequências horripilantes como se o palhaço realmente estivesse no comando da situação.
Apesar dos muitos acertos, o roteiro acaba caindo em alguns clichês do gênero, como portas fechando e separando o grupo de amigos, ou aquele plot twist dramático utilizado somente para marcar a transição para o ato final da história.
O tempo todo no background do filme temos pistas sobre o que pode acontecer a seguir, pistas essas entregues em diálogos no rádio ou na TV, artifício que engana o espectador o tempo todo, fazendo com que se acredite estar ciente do que está por vir.
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