Michaela Coel não é nem um pouco desconhecida do público e ela está de volta com I may destroy you, pronta para trazer uma série maravilhosa e desconfortável em vários sentidos, como foi Chewing Gum. A nova série estreou na HBO já faz algumas semanas e está no quarto episódio dos 12 prometidos, mas o enredo é tão difícil de tratar, que só agora consegui parar, assimilar e escrever.
I may destroy you é uma série sobre consentimento sexual e racismo, por isso pode ser um gatilho para algumas pessoas. Conta a história de Arabella, uma escritora que está tendo dificuldades para entregar o seu novo livro. Em uma noite, ela decide sair e encontrar os seus amigos ao invés de ficar em frente ao laptop escrevendo. Essa noitada, que na realidade era de apenas uma hora, fica marcada nela, sem que ela se lembre do que aconteceu.
Por meio de flashes, Arabella vai traçando o caminho que ela percorreu e percebe que o machucado de sua testa não é a única coisa errada da história. Ela se lembra de um homem em cima dela e percebe que foi sexualmente abusada e a sua bebida foi alterada para que ela não recordasse de nada ou sequer entendesse o ocorrido.
Essa é apenas uma parte de I may destroy you, que para mim, promete ser a melhor série dramática do ano. Na trama até o momento, muitos outros eventos chocam e nos colocam no lugar das pessoas retratadas, desde um crime sexual, que passa a ser investigado, até um simples ato sexual, no qual o parceiro decide retirar a camisinha sem pedir permissão.
A produção é conjunta da BBC com a HBO e o destaque, é claro, vai todinho para Michaela Coel, que não é apenas a protagonista da série, mas a escritora dos 12 episódios, a co-diretora, juntamente com Sam Miller (Luke Cage, American Crime), e a produtora. Para completar tudo isso, I may destroy you ainda é baseada na vida da estrela, que fez sucesso primeiro com seus pensamentos no Twitter, como Arabella, e também sofreu abuso sexual, na época que escrevia Chewing Gum.
A série não é, portanto, tão engraçada quanto esta última, tratando de um tema muito mais pesado, apesar de ainda ser extremamente irônica, ocasionando um desconforto proposital. Não apenas a protagonista se vê em situações relacionadas ao consentimento, mas seus amigos também, além do racismo, sexismo e relações de poder.
O mais interessante de I may destroy you é a construção da personagem principal, que apesar do ocorrido continua sendo ela mesma. Ela não tem palavras para descrever o que sente para a sua psicóloga em uma sessão do quarto episódio, porém ela demonstra que também é insensível e dura, não entendendo como funcionam as diferentes experiências, pelas quais seus amigos passam, assim como eles também não entendem e não sabem como lidar com as dela.
Os amigos de Arabella, como qualquer outro ser humano, machucam e são machucados por outras pessoas, como Terry (Weruche Opia), Kwame (Paapa Essiedu) e Simon (Ami Ameen), demonstrando como funcionam, também, as relações de amizade entre essa geração chamada de Millennial.
De maneira geral, podemos dizer que I may destroy you é a perfeita tradução do cenário sexual que vivemos hoje em dia, com pessoas buscando alternativas para o encontro casual, através de aplicativos, como é o caso de Kwane, viciado em Grindr, e os relacionamentos, que caminham cada vez mais para uma fluidez. A autora explora o aspecto relativo e interpretativo, que acaba aparecendo entre as relações. Até que ponto existe o consentimento? Quando ocorre uma violação?
São muitas as formas de consentimento, e Coel sabe muito bem como tratar todas elas, demonstrando como podemos viver momentos de perversidade e contato indesejado das pessoas que menos esperávamos. Existe, também, um debate sobre a própria consciência e o que pode ser lembrado e esquecido pela nossa mente. Seria certo utilizar aquilo que não pode ser lembrado contra você mesmo?
Não apenas o enredo é incrível, ou a direção, mas também a trilha sonora, as roupas, maquiagens e os cabelos, impossíveis de passar despercebidos. Todos esses elementos e cortes feitos pela edição, nos leva para dentro dos pensamentos e sentimentos dos personagens, em especial de Arabella.
I may destroy you pode ter um peso difícil de aguentar, principalmente para aqueles que já tenham sofrido algum tipo de abuso ou tenha tido o seu consentimento violado, mas é uma série necessária e dá um imenso orgulho de saber que ela existe.
https://www.youtube.com/watch?v=vrUGIQ2ItE8
E você, já viu I may destroy you? Comente aí e deixe sua sugestão.
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