I Am Not Okay With This é uma série da Netflix que gera interesse a princípio por alguns nomes de seu elenco que ficaram famosos em It: A Coisa, como a protagonista, Sophia Lillis, que aqui interpreta Sydney, e Wyatt Oleff, cujo personagem coincidentemente se chama Stanley. Fora isso, a primeira cena lembra muito a famosa história de Carrie, A Estranha, da obra de Stephen King.

Esses elementos iniciais poderiam ser um chamariz para uma série de terror/drama adolescente, a exemplo do que foram as obras aludidas, mas I Am Not Okay With This vai um pouco além disso. Seguindo a linha de The End of the F***ing World, a série adapta uma história em quadrinhos do autor Charles Forsman, mostrando um universo um tanto fantasioso, mas que ainda quer manter seus pés no chão, com a finalidade de representar uma metáfora social.

A protagonista é uma típica adolescente que luta para se encaixar no mundo, mesmo que visivelmente ela não tenha muita preocupação em ser como os outros jovens. Seu modo de se vestir, seu cabelo, os assuntos de que gosta de falar são sempre diferentes. Mas nada disso a faz ser uma pessoa alheia ao mundo, ela tem uma melhor amiga, Dina (Sofia Bryant), e rapidamente faz amizade com o estranho Stanley.

Syd, como é chamada, tem uma personalidade rebelde que constantemente entra em conflito com a mãe, Maggie (Kathleen Rose Perkins), mas se dá bem com o irmão Liam (Aidan Wojtak-Hissong). Ela vive ainda na constante sombra do suicídio do pai, que partiu sem deixar qualquer explicação sobre sua escolha, o que deixou Syd muito amargurada, pois eles eram bem ligados.

Ao ser encorajada pela conselheira escolar a manter um diário, Syd começa a se perceber como integrante da sociedade, e por isso começa a ver e analisar não apenas a si mesma, mas também aos outros. É aí que ela começa a descobrir um certo dom sobrenatural, que explode nela toda vez que fica nervosa ou se descontrola, tendo efeito imediato ao seu redor. Ela precisa, então, encontrar uma explicação para conseguir dominar esse dom (e não deixar que ele a domine, causando mal aos outros).

É difícil classificar a série em drama, comédia, ou qualquer outra categorização canônica. Há um fundo irônico e debochado, que se reflete sobretudo na forma como a personagem principal vê o mundo, mas ao mesmo tempo há um drama no sub-texto que nos remete a uma reflexão mais profunda sobre a sociedade. Sydney é uma personagem complexa, que acumula em si muitos dos problemas que qualquer pessoa carrega, com a diferença que ela é capaz de extravasar essa energia de uma forma única.

É praticamente o sonho de todo adolescente rejeitado: redirecionar ao mundo toda a pressão que ele exerce sobre os próprios ombros. Com isso, entendemos rapidamente que I Am Not Okay With This (não estou bem com isso) é a descrição literal daquilo que sua protagonista sente. Nessa fase da vida, há muitos motivos para querermos enfiar a cabeça em um buraco e nunca mais encontrar ninguém, mas a grande questão é: isso é impossível, não há como fugir da sociedade e do que ela espera de nós, portanto, a melhor maneira é aceitar e aprender a lidar com isso.

Os atores desempenham bem seus papéis e conferem um ar de excentricidade característico da HQ. Sem nenhum grande destaque em termos de novidade, todos estão confortáveis em suas interpretações e o desenrolar da trama é muito coeso. Todo o enredo se passa praticamente em uns cinco cenários, e percebemos como as descobertas da protagonista vão modificando a forma como os vemos.

O melhor de tudo: I Am Not Okay With This é uma série que dá pra ver em pouco mais de duas horas (quase como um filme) e sem se cansar, porque os episódios são bem curtos e muito leves. Não há nenhum momento de fazer gargalhar ou mesmo algum ponto muito emocionante, mas certamente, quando nos vemos envolvidos na atmosfera da história, não conseguimos mais parar.

Se estiver em busca de uma série pra ver durante uma tarde preguiçosa, ou mesmo no domingo de tarde quando não há nada pra fazer, I Am Not Okay With This é uma boa pedida, você não vai se arrepender.

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