A peça Hermanoteu na Terra de Godah estreou nos teatros brasileiros em 1995, dez anos antes da criação do YouTube e ainda distante do início das operações da internet banda larga em nosso país.
E por que isso é relevante? Ora, jargões como “o mar abriu no meio véio” e “hummm Micalatéia” já permeavam o vocábulo popular duas décadas antes de algo virar meme instantâneo nas redes sociais.
E desde então é seguro afirmar que a peça só não rodou os teatros nacionais durante a pandemia do Covid-19. A mesma pandemia que provocou inúmeros atrasos no lançamento do longa que adapta a peça, e que agora será lançada pelo Telecine.
E o que restava a Hermanoteu após peregrinar os palcos brasileiros por mais de 20 anos, sendo ainda adaptada por outros grupos em diversos países ao redor do mundo? As salas de cinema, é claro. E a julgar pela primeira peregrinação do grupo Os Melhores do Mundo pelas telonas, é de se esperar que a história do pendesgobéio ganhe novo fôlego e passe a figurar em outras mídias além do teatro.
Hermanoteu na Terra de Godah – O Filme
O longa dirigido por Homero Olivetto (Reza a Lenda) se afasta da peça ao tratar a história em duas linhas temporais. No presente, o cardeal Gerônimo (Jonas Bloch) é eleito Papa e antes de ser apresentado como o novo pontífice aos fiéis, acaba tomando conhecido de um segredo mantido em sigilo pela Igreja Católica há séculos. Os cardeais responsáveis por guiarem os espectadores por essa história bíblica são Milton Gonçalves e Marcos Caruso, excelente como sempre.
No passado, acompanhamos a conhecida trajetória de Hermanoteu. Como esperado, o roteiro escrito por Jovane Nunes, Victor Leal e Pedro Neschling preenche lacunas deixadas pela peça para que possa acrescentar um background aos personagens.
Diferente da peça, onde Hermanoteu serve como “escada” para os demais personagens e se vê no meio de situações que fogem de seu controle, no longa o peregrino assume o papel de fio condutor da trama, enfrentando a sua própria jornada do herói. Isso se mostra um fator positivo do filme por exigir de Ricardo Pipo (Hermanoteu) até mesmo uma faceta dramática de seu personagem em vários momentos.
Se elogiamos Ricardo Pipo, é impossível deixar de comentar sobre o restante do elenco. Adriana Nunes, Jovane Nunes, Victor Leal, Adriano Siri e Welder Rodrigues passeiam pelo longa com seus diferentes personagens com a maestria natural de quem convive com essas hilárias figuras há tantos anos. Mas ainda sobre espaço para que os atores possam ser vistos de maneira quase irreconhecível em novos papéis graças a maquiagem e caracterização de Valéria Toth, um trabalho digno de todos os elogios.
Outros dois pontos técnicos do longa dignos de elogios são o figurino e a fotografia. O figurino criado por Bia Salgado eleva a caracterização dos personagens a um nível que exigirá do grupo uma possível repaginada na peça. Embora “ajudada” pela deslumbrante paisagem do deserto do Atacama, a fotografia de Dudu Miranda (Lixo Extraordinário) consegue ambientar um longa num cenário grandioso e inóspito jamais visto em uma produção nacional.
Perdoe o trocadilho, mas “nem tudo são flores na vida de Hermanoteu”. Se visualmente o longa é irretocável, a montagem e a trilha sonora do longa deixam a desejar em relação ao material de origem. Enquanto a montagem acaba desconstruindo o ritmo de várias cenas, a trilha acompanha essa desconstrução ao não proporcionar a grandiosidade musical exigida em momentos chaves de Hermanoteu na Terra de Godah.
Ainda assim, com referências que vão de Joseph Climber a Vingadores, Hermanoteu na Terra de Godah consegue apresentar a obra para um novo público com uma fotografia e figurino deveras interessante, sem perder a essência da obra criada pelos Melhores do Mundo.
Homero Olivetto consegue ainda suprir a ausência e interações com o público da peça através de um final íntimo e bonito que fará o público clamar por uma continuação.
Confira também a nossa entrevista com o elenco do filme:
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