Caritó:
1. CASINHOLA.
2. Prateleira ou nicho rústico nas paredes das casas sertanejas.
3. Gaiola em que se prende caranguejos com objetivo de engordá-los.
4. Quarto onde se guardam coisas velhas.
5. Local imaginário onde se abrigam as solteironas.
6. Móvel onde é colocado pertences, e lá é esquecido.
Maria do Caritó é uma mulher sonhadora, ingênua e romântica. Prometida pelo seu pai, desde seu nascimento, para ser entregue virgem a São Djalminha, Maria é uma mulher de meia-idade que tornou-se a santa da pequena cidade de Ursula. Isso porque a todos acreditam que a moça faz milagres com sua reza e com o elixir de seu suor, vendido por seu pai. O Coronel da cidade também é uma figura importante na vida de Maria e da cidade.
A moça é a única que não gosta de toda essa história, afinal, ela sabe que não é santa e que a única coisa que deseja é levar uma vida normal. Nunca tocada por um homem, a moça sonha com o amor verdadeiro e por isso se apega a Santo Antônio fazendo inúmeras promessas para ter o então sonhado homem. Ela vê sua vida mudar após a chegada de um circo na cidade, que traz muita confusão, diversão e uma figura masculina pela qual Maria tanto esperou.
Maria do Caritó é um filme leve e divertido, ótimo para esquecer dos problemas e se deixar levar pelo humor trabalhado no estilo de Cordel. As cores são trabalhadas de maneira fantástica, como se estivéssemos no meio de um sonho. A fotografia enaltece lugares paradisíacos do nosso país e o figuro ressalta a inocência de alguns personagens e a leviandade de outros.
No entanto, o filme está longe de ser uma obra rasa, muito pelo contrário, são discutidos diversos temas atuais, como a influência da religião no comportamento das pessoas, os jogos políticos, a força policial e como tudo isso pode estar interligado, mesmo que não saibamos.
Maria do Caritó é uma adaptação do diretor João Paulo Jabour (Salve Jorge) da peça homônima de Newton Moreno, onde quem dá vida à personagem principal também é Lilia Cabral (co-produtora). Por conta disso o filme tem uma linguagem bem teatral, o que nos dá a sensação de proximidade com a história e tudo o que está acontecendo.
Aqui temos uma Lilia Cabral que traz uma sutileza sem igual para sua personagem, ela nos faz entender que Maria vê o mundo de maneira doce e em muitas vezes até infantil, mas que na medida que a história se desenrola, ela cresce na mesma velocidade. O desenvolvimento da personagem chega ao ápice no terceiro ato do filme, quando ela se vê obrigada a enfrentar seu pai, a igreja, sua cidade e o Coronel ou seguir com tudo o que estava programado para sua vida, mesmo sem seu consentimento.
Outros destaques ficam por conta dos personagens Fininha (Kelzy Ecard) e Anatoli (Gustavo Vaz). Ambos trazem um humor gostoso e até mesmo estereotipado, mas que não incomoda e nem atrapalha o andamento do filme, muito pelo contrário, torna ainda mais gostosa a experiência.
Em Maria do Caritó, a crítica ao nosso sistema, ao machismo, a igreja e ao conformismo vem de leve, ao lado do humor e ao lado de uma demonstração incrível da cultura nordestina, mas essa crítica vem em um momento oportuno, em um momento que é necessário ter esse tipo de discussão para que possamos rever todos nossos conceitos.
Mas afinal, é bom? Não é bom, é maravilhoso! É um respiro necessário entre tantos blockbusters e algumas produções enfadonhas. Sendo bem sincera, se eu pudesse, gostaria de levar todo mundo ao cinema para curtir essa produção brasileira. Maria do Caritó me fez sorrir, rir e passar o melhor momento nos cinemas, ou seja, cumpriu perfeitamente o seu papel.
Maria do Caritó é distribuído pela Imagem Filmes e estreia nos cinemas brasileiros no dia 31 de outubro.
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