Saiu na Netflix a nova série de Darren Star, o famoso criador de Sex and the City, Emily em Paris. E mal ela despontava no serviço de streaming já choviam críticas e cancelamentos ao título. Porém, ao mesmo tempo ela subia no ranking da Netflix e até hoje permanece como uma das séries mais assistidas, aqui no Brasil e em alguns outros países. Nós do Coletivo Nerd não poderíamos deixar de ver e avaliar se tudo o que foi escrito sobre ela procede, ou seria Emily em Paris mais uma série que vale a pena ver como aquele Guilty Pleasure bobinho que nos faz rir?
Emily em Paris conta a história de Emily Cooper (Lily Collins), que trabalha para uma empresa de marketing em Chicago, e após sua chefe descobrir que não poderá ir morar em Paris para representar a empresa, pois está grávida, é Emily quem embarca para a nova cidade. A norte-americana não sabe nada de francês e é imediatamente rejeitada pelos seus colegas de trabalho parisienses. Ela termina o namoro com um jovem que mora em Chicago e passa a conhecer os rapazes da nova cidade, inclusive o seu vizinho, o charmoso Gabriel, interpretado por Lucas Bravo.
Para começar, eu já morei em Paris e posso dizer com alguma propriedade que é praticamente impossível viver por lá sem saber uma única palavra em francês, e que grande parte das críticas levantadas pelos sites franceses, que “cancelaram” a série, têm toda a razão. Muita coisa foi dita, desde que a série é deplorável, mal atuada, ridícula, até mesmo, um show de clichês sem fim. Não podemos negar que essa última é a característica principal da série, porque a cada episódio nos deparamos com algum clichê, como os franceses fumantes, fedidos, sexistas e retrógrados.
A impressão que fica de Emily em Paris é exatamente de que os franceses são tudo aquilo que as pessoas acreditam, sem nunca terem ido para a França e, por esse motivo, a mídia francesa ficou furiosa com a abordagem. Parece que eles desconhecem o que é marketing, como atingir o público-alvo e que uma norte-americana é necessária para salvá-los. Outra impressão que a série deixa é de que todos os franceses saem por aí e ficam flertando na rua, mais do que os caminhoneiros em São Paulo.
De algumas coisas erradas que eu posso enumerar sobre Emily em Paris, começa pelo lugar onde ela mora, teoricamente uma “Chambre de bonne”, ou apartamento de empregada, o que definitivamente não é. Esses apartamentos são, geralmente minúsculos de verdade e muitas vezes, o chuveiro fica ao lado da cozinha, é uma portinha, sem vaso sanitário e muito menos sem nenhum equipamento como máquina de lavar, fogão, forno, micro-ondas e etc.
Outra coisa, pode ser também que as leis trabalhistas na França sejam mais bem organizadas e mais justas do que nos EUA, porém não lembro de ter encontrado empresas que permitissem que os funcionários se atrasassem ou começassem a funcionar depois das 10 horas… Isso só para mencionar algumas coisas, porque existem outras muito mais absurdas, que só vendo para tirar as próprias conclusões.
Mas pior do que estar ofendendo os franceses, Emily em Paris é uma ofensa aos norte-americanos, que são retratados como pessoas ignorantes, no papel da personagem, que desconhecem totalmente a Europa, a língua e a história, achando um absurdo as ruas não serem planejadas e que os habitantes da cidade são chatos por não falarem inglês. Emily nos dá a entender que os estadunidenses realmente acreditam que os EUA são o centro do mundo e que outros países deveriam se adequar ao seu, inclusive com relação ao sistema de trabalho.
É certo que Emily é uma personagem forte, com atitude, amante da moda e bem sucedida em sua carreira como a protagonista de Sex and the City, mas ela também é arrogante e age como uma adolescente mimada, que não se interessa em conhecer a história da cidade onde vai morar. Para piorar, ela se apaixona pelo namorado de sua amiga, uma francesa muito boazinha que a recebe na casa de seus pais, e ainda fica com ele escondido.
Em resumo, Emily em Paris é apenas uma série qualquer para distrair-se na pandemia, porque ela definitivamente não vai acrescentar nada na sua vida. Ela poderia ter sido elaborada em forma de paródia, uma piada, mas como tinha outra intenção, acaba sendo um desperdício. É uma série esteticamente bem feita, com cenários magníficos, uma fotografia linda e um figurino impecável, ou seja, acertaram na forma, e pecaram muito no conteúdo.
Você pode conferir a primeira temporada de Emily em Paris na Netflix.
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