O filme Dois Irmãos: uma jornada fantástica é a mais nova produção da Disney Pixar, que chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta, dia 5. O filme não teve uma grande campanha de marketing envolvida, mas é uma produção do nível das demais do estúdio, como Wall-E, Procurando Nemo e Toy Story: promete divertir e emocionar, e se propondo a dar uma linda mensagem ao final.
A história se passa em um universo fantasioso, no qual magia e seres encantados, como elfos e centauros, eram comuns. Ocorre que, com a evolução dos aparelhos tecnológicos, todos se esqueceram de como usar a magia (afinal, trata-se de algo difícil de dominar), e deixaram de fazer aquilo que suas espécies faziam tão bem (correr, voar, enfrentar monstros etc.).
Nesse mundo, vivem o inseguro e solitário Ian, um elfo que acaba de completar 16 anos, e seu irmão Barley, um jovem adulto fascinado pelas narrativas fantásticas do passado (um nerd fã de RPG, pra ser mais preciso). No aniversário de Ian, a mãe dos dois resolve entregar um presente a eles, preparado pelo pai já falecido, que deveria ser entregue quando os dois chegassem à maioridade.
O presente é um cajado com poderes mágicos e as magias necessárias para trazer o pai de volta à vida por um dia. O sonho de Ian de conhecer o pai de verdade (já que ele não tinha qualquer lembrança) poderia finalmente se concretizar, mas algo dá errado e o feitiço traz de volta apenas as pernas do homem. Agora, os dois irmãos precisam encarar uma jornada fantástica para encontrar uma gema capaz de reviver o pai por inteiro, lembrando que seria por apenas 24 horas, e o tempo já estava contando.
O filme sofre com um ritmo lento e um ar muito infantil no início. Lógico que ele se destina às crianças, mas em geral os filmes da Pixar capricham nesses momentos iniciais para prender a atenção do público. Mesmo que a comparação seja injusta, parece que seria possível inserir alguns conflitos iniciais maiores para já deixar mais dinâmico, a exemplo do que acontece em Procurando Nemo, por exemplo.
Mas quando a história engrena, aí percebemos a marca característica do estúdio. O enredo nos deixa com uma sensação muito agradável de diversão, com boas piadas e momentos de descontração que nos lembram muito os melhores filmes de aventura. Nesse aspecto, não há o que falar: a Pixar sempre consegue nos fazer babar numa história. Há toda a jornada do herói que descobre seus poderes e precisa aprender a usá-los, mas o pano de fundo é de uma relação familiar muito bonita e que vai até mesmo emocionar no final.
Dois pontos do enredo merecem um comentário especial. Dois Irmãos causou certa polêmica mundo afora por supostamente apresentar uma personagem homossexual (em certo momento uma policial, aparentemente uma ciclope, fala da “filha da namorada”). Como já falamos no início, é importante lembrar que o universo aqui é fantasioso, então falar da sexualidade de seres mitológicos nem deveria entrar em questão.
De todo modo, esse é um detalhe tão ínfimo de uma história tão mais densa do que isso, que dá vergonha até de ter de noticiar a suposta “polêmica”. Mas enfim, se isso realmente te ofende, não vá ao cinema, mas saiba que vai perder um filmaço por causa de um detalhe que não dura dois segundos (e não, não tem beijo gay nem doutrinação esquerdista no filme).
Outra coisa muito importante é o tratamento sensível e humano dado ao luto. Os Dois Irmãos do título sentem muito a ausência do pai e se doam por inteiro ao descobrirem a chance de revê-lo, ainda que por um dia. Mas Ian se dá conta de que a relação entre ele e o irmão pode ser tão importante quanto a relação de um pai com um filho, basta que ele se dê a chance de perceber isso.
A vida pode não ser totalmente justa com todos, e pais, mães e outras pessoas queridas podem morrer, mas o que importa é a marca que elas deixam em cada um. Para as crianças, que muitas vezes são poupadas desses momentos tristes, é importante também viver o luto.
Resumindo, o filme é muito bom, trata de temas importantes, principalmente para as crianças, e mostra como é importante acreditar na magia e viver o presente, aproveitar aquilo que a vida te proporcionou, ainda que seja um direito lamentar o que não tem. Filmes como esse mostram que, se as coisas não estão funcionando às mil maravilhas, tudo bem, afinal, sempre teremos alguém em que confiar para nos dar o apoio necessário.
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