Quando a primeira temporada de Cobra Kai estreou no YouTube há aproximadamente quatro anos atrás, muito se perguntou qual seria a dinâmica da série já que grande parte da nostalgia da franquia é oriunda das frases, trejeitos e ensinamentos do lendário Sr. Miyagi, personagem imortalizado por Pat Morita.
Ao longo das duas primeiras temporadas, a série mostrou que ainda tinha muito para apresentar ao seu público. Com uso certeiro de flashbacks e cenas retiradas dos filmes, a série pode prover ao espectador uma nova perspectiva sobre Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka), mostrando que nem sempre o “preto no branco” é a melhor maneira de desenvolver uma produção deste porte, afinal, são os personagens que perambulam por zonas cinzentas que possuem as melhores histórias para serem contadas.
E é nessa situação que se encontra Johnny Lawrence, ou como diria Barney Stinson: “o verdadeiro Karatê Kid”. Quando as coisas são vistas a partir do ponto de vista do outrora antagonista de LaRusso é que a série engata de verdade, acompanhar seus medos, as consequências do passado, e de certa forma até sua reinserção em uma sociedade que nada condiz com a de 30 anos atrás faz com que a série entregue seus melhores momentos.
Não me entenda mal, Daniel LaRusso é um bom personagem, mas a sua falsa vida de comercial de margarina e a tentativa de impor sua filosofia goela abaixo dos outros, considerando-se quase sempre como o correto em qualquer situação faz com que aquela simpatia que criamos com o personagem em Karatê Kid seja esquecida rapidamente.
Só que após 3 temporadas de conflitos e picuinhas entre os experientes senseis, era necessário apresentar algo novo para que a série se mantivesse relevante entre seu público. E a Netflix que não é boba nem nada atendeu o que grande parte dos fãs pediam desde o início da série, colocando LaRusso e Lawrence lado a lado contra aquele que sempre foi o verdadeiro vilão de Karatê Kid: Kreese (Martin Kove).
Com a balança do poder alterada na nova temporada, Kreese foi obrigado a recorrer a um antigo aliado, Terry Silver (Thomas Ian Griffith). Embora pudesse parecer que o foco da nova temporada de Cobra Kai seria o embate dos lutadores sessentões que não conhecem o termo terapia, os jovens foram novamente o grande destaque da temporada ao proporcionarem momentos novelescos dignos de uma temporada de Malhação, e não entenda mal, isso é algo realmente positivo.
Cobra Kai sempre foi aquela série conforto com algumas pitadas de lição de moral que seria facilmente exibida no fim de tarde da Globo. E Cobra Kai sabe como atingir em cheio o coração daquele fã mais nostálgico assim como os novos fãs de novelinhas e séries teen, mesclando nomes consagrados da franquia e jovens adultos ansiosos para resolver qualquer conversa em um tatame.
O grande problema nessa forma de conduzir a série é que tudo parece soar artificial demais, problemas que seriam resolvidos com meia dúzia de palavras são elevados a um nível que é comum nos perguntarmos onde estão os pais dessas crianças que não veem eles chegando em casa machucados dia sim e dia não?
Desta forma, a quarta temporada de Cobra Kai parece se utilizar dos jovens para recriar problemas antigos onde tudo se resolve na pancadaria, com destaque para Samanta LaRusso (Mary Mouser) e Tory (Peyton Roi List). A dupla protagoniza um revival de Daniel e Johnny, enquanto a primeira acredita estar certa acima de tudo, a segunda tende a lidar com problemas reais sem pedir ajuda, ao passo que é orientada por um péssimo sensei.
E é nesse ponto que se sobressaem Miguel (Xolo Maridueña) e Johnny Lawrence (William Zabka). Miguel ainda lida com as consequências de seu problema físico da última temporada e se vê dividido entre dois senseis, fazendo com que suas cenas emotivas sejam o grande destaque da temporada, o que o levará também a buscar informações sobre seu passado, uma maneira inteligente de preparar uma possível saída do ator da série tendo em vista que logo será um dos astros dos filmes da DC (Xolo interpretará o personagem Besouro Azul em filme que será lançado em 2023).
Já Johnny tenta se livrar de vez da sombra de Kreese, ser um exemplo para seus alunos na medida que precisa deixar de lado as diferenças com LaRusso, iniciar uma vida amorosa e reconquistar o filho. Percebem o motivo do personagem ser novamente o grande destaque de Cobra Kai? São os problemas reais de Johnny que o aproximam da vida de espectadores que não podem resolver tudo em um tatame.
Tudo parece caminhar para que a quinta temporada de Cobra Kai traga mudanças ainda mais significativas para a série, e a julgar pela última cena, a Netflix e os criadores do programa parecem caminhar para a inserção de mais personagens da franquia clássica como personagens regulares da série.
Restará saber se Cobra Kai apresentará algo realmente novo ou se Johnny Lawrence continuará sendo o grande destaque da série, enquanto tramas antigas são requentadas episódio após episódio.
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