A história de Carcereiros O Filme começou como uma série para o serviço de streaming da Globo, que posteriormente foi exibida no canal aberto da emissora. Com duas temporadas exibidas na TV, já conquistou um público fiel, que certamente espera por novos episódios e histórias ainda mais intensas, mostrando a realidade do agente penitenciário Adriano (Rodrigo Lombardi), tendo que lidar com as próprias limitações, além do descaso estatal, para garantir sua sobrevivência e alguma dignidade para os que enfrentam o dia a dia com ele.
O filme, como nos contou em entrevista o roteirista Marçal Aquino, é uma história independente da série, mas inserida no mesmo universo. E garantimos que todo espectador pode ficar tranquilo quanto a ter assistido ou não a produção anterior: há um enredo próprio, que apenas aproveita personagens e elementos, mas não exige conhecimentos prévios sobre a história. Claro que quem já assistiu à série vai se sentir muito mais à vontade, mas quem não assistiu também vai sair bem satisfeito.
Adriano, o protagonista, é um professor de história que, por acaso ou vocação, tornou-se um agente penitenciário atuando em um presídio cheio de gangues e grupos rivais disputando espaço. Os detalhes de como ele abandonou sua formação não são discutidos no filme, mas, para essa história ao menos, não parecem ser relevantes. O único questionamento nesse sentido é feito de leve quando a filha adolescente pede para que ele abandone essa profissão de risco. Ele, no entanto, se nega a fazer isso e a reflexão sobre essa escolha fica restrita a uma sessão de terapia, apresentada bem rapidamente.
Se já não era complicada o suficiente a rotina de Adriano, que administra os conflitos internos do presídio (e isso inclui cuidar até mesmo da saúde física e emocional dos detentos), a complicação maior do roteiro se inicia quando um terrorista internacional, Abdel (Kaysar Dadour, que também entrevistamos na pré-estreia) é levado até lá em sigilo. A Polícia Federal precisa deixá-lo em segurança por uma noite até que ele seja extraditado, e por acaso o único presídio em cujos funcionários se pode confiar é justamente esse onde Adriano trabalha.
Esse argumento pode soar um pouco forçado, mas filmes de ação em geral são bastante dependentes dessas conveniências de roteiro. Aliás, Carcereiros O Filme repete vários desses clichês do gênero para funcionar (como a famosa falta de mira dos vilões com metralhadoras), mas nem por isso deixa de ser interessante e ousado, principalmente por dois motivos.
Primeiro, porque representa uma realidade nacional de forma bastante contundente, ainda que não pese tanto a mão na representação dos problemas sociais envolvidos. A influência do material de Drauzio Varela na composição da história certamente se faz presente nesse aspecto, porque vemos como a produção se preocupa em levar para a tela a linguagem e a problemática de um presídio real. E outra, os bandidos continuam sendo bandidos, e a humanização deles é aquela possível dentro da realidade em que se encontram, sem a tentativa de forçar uma identificação ou fazer com que o espectador sinta pena deles.
Segundo, o filme traz muitos efeitos interessantes, com tiros, bombas, explosões e uma trama bem amarrada, que nos surpreende na solução final. Ainda que você consiga sacar todo o enredo de cara, vai se ver grudado na tela para aguardar a conclusão, que foge completamente daquele final arrebatador e moralizante, como costumavam ser as produções televisivas brasileiras. Lembrando que o filme é derivado da série, mas se afasta dela para ter uma história própria, e isso foi extremamente bem executado.
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