Mulheres empoderadas é um termo que vem ganhando força em filmes, séries e discursos do século XXI. Antigamente era muito mais difícil ver mulheres como seres fortes e capazes de fazer trabalhos que, em princípio, eram trabalhos masculinos. Por conta disso, sempre foi mais comum ver homens em papéis de espionagem, representando caras fortes, lutadores e inteligentes, enquanto as mulheres, na maioria das vezes, eram retratadas como frágeis e fúteis.
Porém, As Panteras se tornaram ícones em 1976, mostrando o potencial feminino e quebrando esteriótipos para mostrar que uma mulher pode ser o que ela quiser, e que ser uma figura feminina não é uma problema e sim uma vantagem. O problema é que a predominância masculina ainda era uma realidade por trás das câmeras, tornando muito comum a hipersexualização das personagens.
Tanto no seriado de 1976 produzido pela ABC, quanto na sequência dos filmes dos anos 2000, as Angels são retratadas como mulheres sexy, fortes, destemidas e inteligentes, o problema ficava nessa ordem na qual eram classificadas. Era comum ter cenas focando o peito e a bunda das atrizes, ao invés de encarar um plano mais aberto da cena, principalmente nos filmes de Josheph McGinty Nichol.
Esse ponto perdeu força no reboot de 2011, novamente produzido pela ABC, que focou na vida de cada Angel, nas suas missões e nas lutas sincronizadas, deixando a história em primeiro lugar. Talvez ainda fosse o ano errado para deixar a sensualidade de lado, pois a série acabou sendo cancelada em sua primeira temporada, tendo apenas 7 episódios ao todo.
Em 2019 o cenário é outro, vivemos um período em que mulheres estão quebrando barreiras e sendo ouvidas, assim como vivemos em um momento nostálgico nos cinemas, com diversos reboots, sequências e muitas referências a décadas anteriores. Talvez por conta disso, o novo filme de As Panteras tenha chegado no momento certo.
Com roteiro, produção e direção de Elizabeth Banks (Jogos Vorazes e A Escolha Perfeita), essa é a primeira vez que uma mulher toma as rédeas da franquia, e talvez seja por isso que o novo filme fuja dos padrões, deixando o feminismo, a inteligência e o humor como características principais e flertando com a sensualidade apenas em momentos necessários e oportunos, e mesmo assim, o foco dessas cenas nunca será no decote das atrizes, mostrando que sim, é possível sensualizar sem ser banal e escrachado.
As Panteras é uma sequência dos outros filmes e séries, em vários momentos somos surpreendidos com referências e até participações especiais do universo Charlie’s Angels. Aqui somos apresentados a novas protagonistas que foram treinadas pela Agência Townsend, cada uma possui uma habilidade distinta que agrega muito para o grupo.
Kristen Stewart (Para Sempre Alice e Crepúsculo) interpreta Sabina (seria uma quase homenagem à personagem de Kate Jackson?), uma jovem rica, engraçada e espirituosa que foi salva da reabilitação pela agência. Ella Balinska (Hunted) é Jane, a ex-agente do MI6, tornando-a melhor nas lutas e combates com arma de fogo, que teve alguns problemas no passado e por isso é a mais fechada, diria que é a badass do grupo. Naomi Scott (Aladdin e Power Rangers) é a novata Elena. A programadora do grupo trabalha em um projeto de energia sustentável para uma empresa de tecnologia, a trama do filme se desenrola quando Elena descobre que, se usado por pessoas erradas, esse projeto pode acabar com vidas.
E por último temos Elizabeth Banks (sim, a mulher dirigiu, escreveu, produziu e atuou no filme) como Bosley. A partir disso, as garotas precisam impedir que o gadget chegue em mãos erradas, o que elas não esperam é que alguém de dentro esteja envolvido.
Ao longo do filme conseguimos perceber um laço sendo criado principalmente entre as três personagens principais, apesar de ser algo rápido, de não ter um passar de tempo tão grande, é possível ver a conexão delas e como cada uma cresce com a ajuda e convivência da outra.
Talvez por conta de termos uma mulher no comando, algumas coisas tenham mudado no universo Angels. Bosley agora é cargo da agência, e não apenas uma pessoa que cuida das garotas. Assim como Charlie, que descobrimos ser uma mulher que usa um alterador de voz quando fala com outras pessoas e damos boas vindas a um novo personagem chamado Santo, que cuida da alimentação e do bem-estar das meninas. Vale a pena prestar atenção na trilha sonora, composta majoritariamente por mulheres.
As Panteras não é um filme com roteiro inovador, na verdade segue uma proposta bastante vista em filmes de espionagem. A diferença está no arco principal, no humor inteligente (um humor que muitas vezes coloca o machismo em pauta, tirando sarro do pensamento masculino em relação à mulher, enquanto elas acabam com eles) e na (já esperada, mas muito bem feita) reviravolta que o filme dá no começo do terceiro ato. Assim o filme se torna uma ótima experiência, pois você vai se divertir, rir e vai sair dos cinemas com um sorriso no rosto desejando ser um Angel.
E sim, temos uma cena durante os créditos (então fiquem até o final!), que mostra o treinamento de Elena na agência. O que nos dá a certeza de que o filme terá uma continuação e que a franquia passará a representar a força, a inteligência e a sagacidade da mulher antes de explorar seu corpo.
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