Estreia nos cinemas no próximo dia 24 o drama nacional 4×100: Correndo por um Sonho, o longa de Tomas Portella (Operações Especiais, Qualquer Gato Vira Lata) foi gravado em 2019 e seu lançamento deveria coincidir com os jogos olímpicos de Tóquio.
Mas aí veio a pandemia do Covid-19 e tanto o filme quanto jogos olímpicos foram adiados para 2021. A mensagem situando o espectador sobre esse fato pode passar despercebido agora, mas futuramente será importante para que outras gerações e novos espectadores tenham noção do quanto a rotina das pessoas foram afetadas ao redor do mundo, impossibilitando que o simples ato de ir ao cinema tenha sido limada de nossa rotina por quase 2 anos.
O longa foca no drama de uma equipe feminina de atletismo que fracassa na final da modalidade das Olimpíadas do Rio de Janeiro, mas que tem a oportunidade de reescrever a história nos jogos olímpicos de Tóquio.
Para aqueles que pensam que a vida de um atleta olímpico é glamourosa e todos saem dos estádios direto para seus palacetes, 4×100: Correndo por um Sonho trata de desconstruir essa ilusão logo nos primeiros minutos. O roteiro (escrito por L.G. Bayão, Carlos Cortez, Mauro Lima, Caroline Fioratti, Juliana Soares e Tomas Portella) acerta ao mostrar a situação das protagonistas sem muita enrolação, situando rapidamente o espectador sobre a situação de cada atleta e de quebra, fazendo uma crítica ao mercado publicitário que parece enxergar apenas um único padrão estético para suas campanhas. Pode parecer algo sem importância, mas é mais uma pedra no sapato apertado de milhares de atletas brasileiros.
A direção de Tomas Portella exige muito vezes uma atuação “crua” das atrizes, fugindo do padrão novelesco que ainda é comum no cinema nacional. E embora todas as atrizes tenham seu tempo de tela, o longa acerta ao focar na relação estremecida entre Maria Lucia (Fernanda de Freitas) e Dri (Thalita Carauta), uma relação que definirá o futuro da equipe e a chance de reescrever a história das atletas.
A ótima atuação de Fernanda de Freitas não surpreende, tendo em vista que a atriz já havia se destacado em outros papéis dramáticos anteriormente. Mas é Thalita Carauta que rouba o filme, a atriz em nada lembra a comediante de inúmeros papéis em Zorra Total, trazendo para sua personagem uma carga dramática que consegue sair naturalmente do riso para as lágrimas, da raiva para a felicidade em instantes fazendo com que o espectador crie ainda mais empatia com sua personagem.
O filme ainda encontra tempo para uma boa atuação de Augusto Madeira, que consegue ser o paizão das atletas e ainda assim exibir traços de egoísmo ao desejar a tão sonhada medalha como algo um prêmio pessoal. Embora tenha menos destaque, o drama vivido pelas personagens de Cintia Rosa e Roberta Alonso escancara ainda mais a dificuldade de uma atleta mulher, conciliar maternidade e carreira, muitas vezes sem a ajuda de ninguém.
É interessante como o roteiro escrito por seis pessoas e que ainda conta com o argumento da atriz Roberta Alonso consegue trazer para a tela o dia a dia das atletas fora das pistas sem parecer uma exploração barata, mostrando-as como pessoas comuns com problemas familiares, flertes, a falta de dinheiro e ainda assim cheias de sonhos e vontade de honrar uma bandeira que teve sua imagem tão desgastada nos últimos anos.
4×100: Correndo por um Sonho prova que há muitas histórias de superação que merecem ganhar as telas, se vamos ao cinema para assistir a saga de um lutador de boxe, pilotos de Fórmula 1 e diversos homens que mudaram o jogo, por que não investir na realidade dos nossos atletas? Ou consideramos cruel demais ver que aqueles que nos representam sofrem com estruturas improvisadas e condições de trabalho precárias e mascaramos isso vendo cinebiografias de sucesso de esportistas estrangeiros?
Se deixa a desejar um pouco no final devido a questões de computação gráfica, 4×100: Correndo por um Sonho resgata o orgulho de ser brasileiro e novamente honrar as cores tão alegres de nosso país, completamente largado ao obscurantismo e ao abandono daqueles que sobrevivem do esporte, cultura e ciência, carregando também em suas costas o sonho de mais de 200 milhões de brasileiros. Se o filme merecesse uma medalha, certamente seria a de ouro!
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