Filmes de guerra não costumam chamar muita atenção daquilo que os críticos, de forma até meio preconceituosa, chamam de “grande público”. A expressão carrega em si um ar de superioridade por parte de quem fala, como se fosse necessário separar a grande massa do público (geralmente, as pessoas que só vão ao cinema para ver os blockbusters do momento) dos pequenos e intelectualmente superiores espectadores cult, pois apenas estes, teoricamente, saberiam apreciar o verdadeiro cinema. Hoje, os esforços para fundir essas duas correntes têm sido evidentes em toda a produção mundial, e 1917 é uma desses produtos intensamente pensados para agradar a todos, com um resultado que, sem dúvida, não deixa nenhum ponto a desejar.
A história é ambientada na Primeira Guerra Mundial, também conhecida como a Grande Guerra, ou Guerra das trincheiras, o maior conflito armado que o mundo já havia conhecido até a data que dá título ao filme. Começamos a história acompanhando dois soldados, Tom Blake (Dean-Charles Chapman) e Will Schofield (George MacKay). Ambos estão descansando quando são chamados à trincheira para receber uma ordem do General Erinmore (Colin Firth): eles devem partir imediatamente levando uma mensagem a outro front de batalha, o objetivo é parar um ataque programado para o dia seguinte, pois o Exército Alemão preparou uma emboscada e 1600 homens serão sacrificados.
O que vem a seguir pode não soar tão interessante para quem não gosta de filmes de guerra, pois se trata justamente da parte em que os dois vão enfrentar todos os desafios possíveis para conseguir entregar a mensagem, passando por paisagens desoladoras deixadas em meio à guerra sangrenta. Mas há um porém muito interessante, pois somos captados desde o início por um clima de tensão, que não se desprende em nenhum momento.
A montagem é cuidadosamente pensada para dar uma ilusão de um longo plano-sequência (quando só há uma câmera e não há cortes entre as cenas), o que ainda reforça a sensação de desespero dos personagens, pois vivemos com eles a angústia de não saber o que se esconde por trás de cada porta ou de cada muro. Essa tensão vai sendo alimentada também por uma trilha sonora que combina com todos os momentos, e, embora não seja um filme de jump scares, não é raro ver o colega ao lado pulando da cadeira no cinema, pois há vários momentos em que algo inesperado acontece.
E falando em inesperado, podemos estar falando aqui do filme com o maior número de quebras de expectativa que existe. A história sempre foge do óbvio, do começo ao fim, e nunca alguma certeza que achamos ter encontrado permanece. Afinal, a guerra é assim: se não há justiça ou código de ética que determine como as pessoas devem agir, não existe como garantir um plano qualquer com segurança, tudo está sujeito a riscos e imprevisibilidade, e sempre se deve estar preparado para o pior.
Reforçando, é um filme que tem todo o ar cult, cuidadosamente planejado, muito bem executado e merecedor de todas as honrarias que tem recebido. Mas é um filme para o povão também, porque tem muita ação, emoção e personagens cativantes, que nos fazem imaginar como é o verdadeiro horror de uma guerra. No saldo final, ficamos com aquela sensação de que são duas horas da nossa vida muito bem aproveitadas em uma sala de cinema. Se você não é daqueles que torce por filmes no Oscar, certamente esse é um dos candidatos a mudar a sua cabeça.
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