Coringa é acima de tudo o que andavam dizendo, os poucos sites que dizem o contrário, estão mais a fim de chamar atenção do que qualquer outra coisa. Esse, pelo que pude analisar, é um filme que agrada muito aos críticos, pois flerta muito com um ar de poesia artística, baseado numa ótima direção. Os fãs de quadrinhos ficarão aliviados, pois a imersão desse Coringa se assemelha muitíssimo ao dos quadrinhos. Agora o público em geral talvez ache o longa um tanto quanto cansativo, mas explicarei o porquê disso.
O longa retrata um Coringa totalmente diferente dos demais até então vistos já em cinema. Esse é visto com a sua maior definição, a insanidade, mas aqui totalmente justificada, visto que Arthur Fleck (Joaquim Phoenix), possui uma doença mental, acima de tudo um distúrbio com o qual ele não consegue parar de rir, mesmo em situações nas quais ele não o quer fazer.
Todo o desenvolvimento do longa abraça essa ideia, desde o momento da sua precária vida de comediante, sendo que é muito depressivo, pois ele acha que pode ter sucesso algum dia, mas não tem nenhuma aptidão para a coisa. Ele passa a receber medicação gratuita do serviço social, mas ao longo do filme, vemos tudo ir desabando, de uma maneira bem encaixada. Uma peça de cada vez vai caindo e empurrando ele cada vez mais a abraçar sua insanidade, mas ao mesmo tempo sempre ciente do que faz.
O que faz do Coringa (ao meu ver), o maior vilão de todos é por ser um ser de personalidade volátil e totalmente imprevisível, e assim como os demais vilões da galeria do Batman, todos tem um histórico com o Asilo Arkham. Até mesmo o próprio Batman é um ser da frustração emocional. A maneira como a direção de Todd Philips manuseou o ator até o estágio final foi completamente elogiável.
A atuação do elenco é ótima. Robert DeNiro tem um papel importante no longa (Murray Franklin), e uma das cenas mais chocantes do longa está relacionada a ele. Joaquim Phoenix merece mais que elogios, pois sua total capacidade de abraçar essa atuação foi ‘insana’. Ele perdeu peso, abraçou trejeitos, e desenvolveu uma risada absurdamente original e característica. Sua expressão ao rir e ao mesmo tempo se sentir frustrado por não controlar sua doença é algo digno de palmas.
O ar de Gotham, que não deixa de ser a protagonista do longa também é tudo aquilo que já conhecemos. Uma cidade suja, violenta, corrupta e cheia de tristeza. Thomas Wayne (Brett Cullen) tem o papel de tentar mudar isso, por isso se candidata à prefeitura da cidade. E obviamente vemos a presença do pequeno Bruce no filme e todo o desenvolvimento do filme se mostrará crucial para o ponto inicial da história de Bruce Wayne. O longa tem suas pontas amarradas, assim de simples.
Essa película é digna de elogios, pois você se sente totalmente desconfortável ao assistir, já que as ações de Arthur deixam você constrangido e incômodo, aí que fica a sacada do filme. Não sei se isso foi algo proposital ou não, mas aí está. Isso corrobora com uma frase do próprio Arthur em que ele diz ‘o pior de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você agisse como se não a tivesse’. Se isso não é algo que te dá um tapa na cara no âmbito do entendimento do filme, você estará perdendo a essência do longa, por assim dizer.
A maneira como Arthur descobre certos segredos em sua vida, a maneira como as pessoas o tratam, como o sistema falha com ele, e até mesmo como sua mãe o tratou acabam servindo de gatilho para transformar uma pessoa, já com problema mentais, em um ser ainda mais instável e totalmente incompreendido, pois não podemos ter ideia de como sua mente funciona.
Coringa faz e retrata certas atitudes vistas várias vezes em filmes de maneira mais pesada, mais consciente e mais chocante. Isso porque é vista aos olhos de alguém que possui uma doença mental. Mas a partir do momento em que você se acostuma com seus atos, aquilo começa a ser algo normal, e talvez até justificável, isso é o que parece ser aos olhos do Coringa. Tudo foi se encaixando e servindo de um empurrão para um ser até então ‘normal’ ir de mal a pior. A absorção do Coringa dos quadrinhos é algo absurdamente palpável nesse filme, sendo um Coringa muito violento e instável.
Esse longa está seriamente disposto a ganhar uma estatueta de ouro pela atuação de Joaquim Phoenix, isso é certo. Um ótimo filme, que mesmo com seu ritmo e desenvolvimento lentos, são justificados com toda a construção complexa que define o personagem principal. Um longa que respeita suas origens, agrada aos fãs e mostra mesmo aos não fãs o que fez Arthur Fleck se tornar o maior vilão do homem-morcego.
Sem dúvidas a melhor Crítica que vi até agora. Meus parabéns!
Eu já queria muito assistir o filme, acho que o Joaquim Phoenix pode combinar muito com esse “estilo” de coringa. O texto me deixou apenas com mais vontade ainda. Agora é assistir.