Vice não é um filme que se vê todo dia. Ácido, inteligente e perspicaz, é uma surpresa para quem espera um filme político com personagens verborrágicos e desinteressantes.
O filme conta a história de Dick Cheney (Christian Bale), de sua origem como um trabalhador comum até sua ascensão como o vice-presidente mais poderoso da história dos Estados Unidos e como sua atuação política mudou o mundo como conhecemos. Do início do filme aos créditos finais, o que se vê é a bem tomada decisão de abraçar um humor ácido para pôr em xeque os artifícios usados por Cheney para cada decisão tomada em prol do país, chegando a considerá-lo como uma das pessoas mais mentirosas que já existiu.
Secretário de Defesa do país entre 1989 e 1993 e com atuação determinante durante a Guerra do Golso, Cheney ainda é considerado um dos arquitetos da Guerra do Iraque, elaborando factoides para conectar o regime de Saddam Hussein à Al-Qaeda, bem como a existência de armas de destruição em massa no Iraque. Suas ações moldaram o modo que os Estados Unidos passaram a se relacionar com o restante do mundo, influenciando o sentimento do que significa segurança para a população até os dias atuais.
Um personagem que poderia ser retratado como um monstro cruel, é hilariamente humanizado através de mais um trabalho marcante de atuação de Christian Bale. O ator engordou para o papel, fez exercícios físicos específicos para engordar o pescoço e aperfeiçoou seu timbre vocal para se assemelhar ainda mais ao vice-presidente.
Embora o trabalho de Bale seja marcante, a figura que o ator interpreta é desprovida de carisma e para que esse sujeito faça sentido em meio as situações que se encontra, é necessário se rodear de personagens que funcionem como um contraponto. É aí que entram Amy Adams e Steve Carell nos papéis de Lyn Cheney e Ronald Rumsfeld, esposa e mentor de Cheney. Enquanto a primeira funciona como a força por trás do político imputando-lhe desejos de voos mais altos, o segundo serve como referência para Cheney.
Não menos importante é a figura de Jesse Plemons, narrador da história que serve como um guia, quebrando a quarta parede e falando diretamente com o espectador, além de proporcionar um dos momentos mais surpreendentes do filme quando sua identidade é revelada.
Mas talvez o grande astro de Vice esteja atrás das câmeras, o diretor Adam McKay consegue simplificar situações políticas e deixar o espectador a par de contextos históricos norte-americanos através de metáforas para simplificar situações políticas para quem não vivencia o complicado jogo entre republicanos e democratas.
Em tempos de fake news e correntes do WhatsApp, Vice mostra que a manipulação da massa não é algo recente ou dependente de tecnologia para subterfúgios que visam apenas o controle do poder, mesmo que para isso quem tenha o poder precise abdicar dos holofotes midiáticos. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
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