Chuva, frio, granizo: nada para o Rock! Em noite tumultuada, Europe, Whitesnake e Scorpions dão aula de rock’n’roll e levantam a plateia do Rock Ao Vivo na Pedreira Paulo Leminski.
Ainda estava claro quando o vocalista do Europe, Joey Tempest, deu boa noite para os espectadores do trecho curitibano do Rock Ao Vivo na Pedreira Paulo Leminski.
Isso porque, em função das limitações do alvará de funcionamento do local, que obriga o encerramento de shows até as 23:00 e a total evacuação da área até a meia-noite, ainda não eram 18:00 quando a banda subiu ao palco.
A plateia, ainda em número reduzido, parecia ligeiramente apática. Mas após o bom começo com Walk The Earth, seguida por The Siege, os fãs começaram a se soltar e entrar no ritmo do carismático frontman que derretia corações nos anos 80.
A banda prosseguiu com Rock The Night, Scream of Anger e Last Look At Eden, a medida em que a Pedreira ia recebendo mais e mais pessoas.
Os paredões do local ecoaram com as vozes do público em Carrie, um dos maiores hits do grupo sueco e a sensação da noite era de que os comentários atuais são verdadeiros: o rock não é mais sinônimo de juventude. Ele envelheceu. Na multidão, a maioria era composta por casais entre os 35 e 60 anos com raríssimas exceções.
Foi então que, durante Superstitious – no interlúdio em que Tempest cantarola No Woman No Cry de Vicent Ford, eternizada por Bob Marley – o mundo veio abaixo. A evolução entre o começo de chuva, com apenas algumas gotas, para um absurdo temporal de granizo não levou mais que 40 segundos.
Os músicos do Europe ainda resistiram alguns eternos segundos sob a saraivada de gelo. Porém, a força dos ventos e a violência das pequenas pedras impossibilitaram a continuidade do show. Entre os fãs da banda, a sensação de inconformidade era explícita: ao que parecia, pela primeira vez desde 1986, a banda ficaria sem tocar ao vivo seu maior sucesso, The Final Countdown. Apesar do triste motivo, o show já se tornava histórico.
Mas a noite de 18 de setembro, ainda tinha surpresas guardadas para o público. Às 19:15, cerca de uma hora depois da interrupção, a chuva e o granizo deram uma trégua. Momentos depois, uma equipe de palco gigantesca apareceu com baldes, rodos, panos e o que mais fosse preciso para liberar o espaço para uso novamente.
Uma representante da produção veio ao palco e se pronunciou de forma não definitiva, demonstrando que estavam fazendo todo o possível para viabilizar a continuidade do Rock Ao Vivo em Curitiba, procurando evitar o cancelamento iminente. A plateia, embora consciente em seu íntimo de que a violência da chuva era algo imprevisível, não gostou da incerteza.
Mas, felizmente, o rock envelheceu. E a velha metáfora, meio cafajeste, cabe muito bem aqui: como um bom vinho, está muito melhor assim.
Próximo das 20:00, David Coverdale entrou no palco à frente do Whitesnake, do alto de seus 67 anos, na postura mais rock’n’roll que se pode esperar de um frontman, entoando a poderosa Bad Boys.
Tomando o pequeno palco avançado sobre a Pista Premium como sua sala de estar, ali permaneceu e contagiou homens e mulheres com sua poderosa voz que ainda registra alguns de seus marcantes agudos.
Nem mesmo a volta da chuva espantou o músico do único setor do palco sem cobertura, onde apresentou Slide It In, Love Ain’t No Stranger, Hey You (Make Me Rock), Slow an’ Easy e Trouble Is Your Middle Name sem paradas.
Entre as duas primeiras músicas, somente um cumprimento ao público e uma justificativa: em função do atraso causado pela chuva, eles iriam tentar tocar o máximo possível do repertório programado.
Sem poder estabelecer muitos diálogos com a plateia, a banda se comunicou pela música. E Coverdale fez uma performance avassaladora, sem sair da chuva e sem tirar o sorriso do rosto.
A noite ainda teve Is This Love, Here I Go Again, Still of the Night e um bis com a clássica Burn, música do Deep Purple da fase em que Coverdale estava na banda.
Com Shut Up & Kiss Me, Give Me All Your Love e os solos de guitarra e bateria cortados do setlist originalmente programado, os britânicos fizeram jus à fama da pontualidade, tornando-se os grandes heróis da noite. Despediram-se de uma plateia em chamas, pronta para a grande apoteose.
Assim, o Scorpions entrou no palco com apenas 15 minutos de atraso, atestando o grande milagre realizado pela produção e pelo profissionalismo dos músicos do Whitesnake. Afinal, 41 anos de estrada devem servir para alguma coisa não?
A banda alemã, fundada por seu guitarrista Rudolf Schenker em 1965, estava de fato preparada para um grande show. As animações e projeções no telão com efeito 3D simulado funcionaram muito bem e o posicionamento da bateria em uma porção mais elevada do palco realçava a ilusão de que os músicos faziam parte do cenário projetado.
Com um show equilibrado entre diversos álbuns da carreira da banda, Klaus Meine mostrou que, embora não arrisque alguns agudos mais difíceis, tem suporte de sobra nas vozes da plateia, em uníssono.
Com o show de volta ao horário, o Scorpions pode executar o repertório completo da noite, incluindo o solo de bateria de Mikkey Dee, com o kit sendo elevado no palco e emocionando o público nas clássicas Send Me an Angel, Wind Of Change e Still Loving You.
O óbvio encerramento do bis com Rock You Like a Hurricane, pareceu profético. Os poderosos riffs de guitarra e bumbos da bateria embalaram um sentimento geral de vitória: nem mesmo a chuva, o frio e o granizo param o hard rock.
Numa noite que teve de tudo, o legado dos anos 70 e 80 foi celebrado em uma nota maior. Seus fãs, no entanto, ainda seguiam dispostos a ficar um pouco mais por ali. Afinal, como se podia ouvir nos comentários durante a saída, absolutamente todos os presentes ainda esperavam ouvir The Final Countdown.
Com a colaboração de Alexandre Pires do Prado Baptista, do canal Sobrecapa.
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