Ponto Cego (Blindspotting) marca a estreia de Carlos López Estrada na direção de um filme, o diretor acostumado com videoclipes pode trazer para a produção sua experiência com musicais ao incorporar na trama o uso do rap como forma de comunicação em cenas que tanto instigam como intimidam o espectador, e muito disso se deve também as excepcionais atuações de Daveed Diggs e Rafael Casal.

Daveed Diggs é rapper e atuou na série Black-Ish, mas foi sua atuação no musical Hamilton que chamou atenção, sendo agraciado com um Grammy e um Tony Award. Já para Rafael Casal, este é o seu primeiro papel de destaque.

Pode ser apenas um artifício a mais, mas a amizade de longa data entre Diggs e Casal pode ser percebida em tela, algo que vai além da atuação tamanha a naturalidade com que soa o relacionamento entre os dois. O roteiro do filme, escrito por ambos é inspirado em suas infâncias em Oakland.

O filme foca na história de Collin (Daveed Diggs), que deve se manter na linha nos últimos dias de sua liberdade condicional e ainda lidar com as consequências psicológicas de presenciar a morte de um civil negro por um policial branco. Tudo isso enquanto divide sua rotina diária com Miles (Rafael Casal), amigo de infância e colega de trabalho mas que ainda não deixou de ser um delinquente.

O filme toca na ferida ao expor de maneira brutal a forma como autoridades policiais lidam com civis brancos e negros, chegando a ser exibido um informativo de como negros devem agir em caso de uma abordagem policial.

As lembranças de Collin são as engrenagens que fazem o filme girar, esfregando na cara do espectador que o racismo sistêmico faz parte de nossa sociedade de maneira mais natural do que se imagina, por mais que sempre existam pessoas para falar que isso não existe. E isso é retratado até mesmo na personalidade dos protagonistas: enquanto Collin é responsável e discreto, Miles é extravagante e irresponsável, levando ao momento de maior tensão entre os amigos.

O pano de fundo não poderia ser mais perfeito. A gentrificação que ocorre em Oakland ajuda a corroborar a forma como as pessoas são tratadas, levando os moradores locais a se adaptarem a uma nova realidade que incorpora uma nova cultura oriunda de vizinhos mais abastados.

Carlos López Estrada ainda incorpora ao filme sua experiência musical, algumas sequências do filme são raps freestyle onde os protagonistas conseguem colocar para fora seus sentimentos de uma maneira muito mais eloquente e dramática. Em dado momento, um sonho de Collin é retratado como um verdadeiro videoclipe musical.

Se a trama de Collin move o filme, é atuação de Rafael Casal que se destaca num tipo inconsequente que por coincidência não é vilanizado no filme, referenciando toda a questão de racismo apresentada no filme. As cenas de humor ajudam a quebrar um pouco a tensão dos temas abordados, não é fácil falar de racismo, apropriação cultural sem soar piegas ou pesar a mão.

Por fim, Ponto Cego (Blindspotting) é como uma balança que equilibra perfeitamente uma amizade real e temas como racismo e brutalidade policial.

Ponto Cego (Blindspotting) é estrelado por Daveed Diggs, Rafael Casal, Janina Gavankar, Jasmine Cephas Jones, Ethan Embry, Tisha Campbell-Martin, Utkarsh Ambudkar e Wayne Knight, com direção de Carlos López Estrada.

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