Um diretor criativo e um trio de protagonistas caristmático é a receita do sucesso da franquia Pânico, que fez gerações vibrarem com a história de um serial killer que mata de acordo com as regras de um filme de terror. Com uma trama bem peculiar, Pânico já tem mais de 20 anos e continua fazendo muito sucesso. Aproveitando a divulgação da data de estreia do 5º filme da franquia, vamos conhecer um pouco dessa história.
(Atenção! Este texto contém algumas informações que, apesar de não serem spoilers, podem atrapalhar sua experiência. Prossiga por sua conta e risco.)
No longínquo ano de 1996, Wes Craven, que à época já era reconhecido como um mestre do terror, principalmente pelo famoso A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, de 1984, que apresentou ao mundo o assassino Freddy Krueger), lançou nos cinemas o filme Pânico. Recheado de atores e atrizes desconhecidos, com um ar de drama adolescente, e sem contar com um grande investimento (orçamento de US$ 14 milhões, o que para os padrões hollywoodianos não é lá grande coisa), o filme foi um sucesso de crítica e de público, tendo arrecadado em bilheteria mais de 10 vezes o seu investimento.
Fazendo chacota com diversos clichês do gênero terror nos cinemas, Wes Craven conseguiu, ao mesmo tempo que trazia um humor irônico e refinado para quase todas as cenas, ser igualmente assustador, e justamente isso que mais agradou. O sucesso comercial se traduziu muito rápido em paródias (como o primeiro Todo Mundo em Pânico, que o toma como base, de 2000) e superou seus concorrentes de peso do mesmo gênero e época, o mais famoso deles, sem dúvida, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado.
Pânico brinca também o tempo todo com os clichês do gênero que se tornaram os seus próprios clichês. Como exemplo, podemos citar a horda de personagens secundários que morrem de maneira estapafúrdia. Em todo filme de terror slasher, o assassino brinca com os medos das pessoas, mas quase nunca conhecemos bem quem elas são, já que isso não importa muito, elas estão lá apenas para fazer parte do banho de sangue.
Wes Craven faz questão de desenvolver esses personagens, ainda que minimamente, para que a morte deles sempre tenha algum significado para a história. Além disso, ele brinca com as ideias do próprio roteiro, quando coloca os personagens debochando, por exemplo, de um assassino que persegue as vítimas pelo Facebook, ou quando criticam as ideias absurdas de franquias de terror com vários episódios.
A trama se passa na cidade fictícia de Woodsboro, e se inicia com o assassinato da jovem Casey Becker (Drew Barrymore), que recebe uma ligação estranha de alguém fazendo perguntas sobre filmes de terror. Quando ela não sabe responder a uma dessas perguntas, um assassino mascarado invade sua casa e a mata com requintes de crueldade.
As cenas iniciais sempre seguem um padrão parecido, com uma escalada de tensão que vai tomando conta do espectador, amplificada pela trilha sonora elogiada de Marco Beltrami. Começa leve, quase inocente, e vai se tornando mais e mais assustadora à medida que a música também vai crescendo.
Na mesma cidade, vive a jovem Sidney Prescott (Neve Campbell), cuja mãe foi brutalmente assassinada um ano antes. Sidney namora Billy Loomis (Skeet Ulrich), sobrenome que, você deve se lembrar, foi retirado do filme Psicose, de Alfred Hitchcock (mas as referências a filmes de terror não param por aí).
O assassinato chama a atenção da imprensa, e a repórter ambiciosa e “carniceira” Gale Weathers (Courtney Cox, que na época estava despontando para o sucesso como Monica em Friends) vai até a cidade em busca de ter os detalhes à frente da concorrência. O novato policial Dewey (David Arquette, que alguns anos depois se casaria com Courtney na vida real) acaba sem querer se tornando um dos principais responsáveis pela investigação, ao mesmo tempo que se envolve amorosamente com a repórter, interessada inicialmente apenas nas informações que ele pode oferecer a ela.
Sidney tem problemas de autoaceitação justamente pela lembrança da mãe morta, e isso afeta o relacionamento dela com Billy (no sentido sexual mesmo: ele quer transar, mas ela não). Os dois são alunos do ensino médio, andam em um grupo com outros adolescentes cheios de hormônios à flor da pele, e de repente o misterioso assassinato mexe com a vida de todos, sobretudo Sidney, que passa a ser perseguida pelo assassino, o qual mostra um curioso interesse nela.
Em todos os filmes da franquia, as investigações sobre as mortes sempre levam os protagonistas a procurar algum nerd fascinado por filmes de terror. O assassino sempre segue as regras do gênero, o que acaba por gerar o que podemos chamar de meta-filme: o enredo é composto de personagens conversando sobre o próprio roteiro, tentando antecipar os próximos passos do vilão. E se tornam ainda melhores nesse ponto, pois os roteiros de Kevin Williamson (Pânico 1, 2 e 4) e Ehren Kruger (Pânico 3) conseguem sempre surpreender, por mais que possa parecer manjado o modo como o vilão age.
Sidney é o tipo de protagonista que ficou conhecida no slasher como a last girl (a última garota), outro clichê do gênero. Os personagens secundários vão morrendo um a um, sempre com mortes cada vez mais espetaculares, e sempre sobra para ela, no final, encarar o vilão e dar um jeito nas coisas. Sidney, Gale e Dewey são os três personagens recorrentes ao longo da franquia, e, embora sempre estejam na mira dos assassinos (que sempre são pessoas com motivações diferentes), sempre sobrevivem para contar a história.
Em alguns momentos, o meta-filme se transforma em um “meta-filme dentro do próprio filme”, principalmente no momento em que a história vivida por Sidney no primeiro passa, a partir do segundo, a ser material para uma franquia cinematográfica dentro da própria história. Ou seja, o filme passa a discutir sobre como a indústria do cinema influencia serial killers fascinados pelo terror, e para isso cria um filme dentro dele mesmo para discutir como a sociedade vê a violência.
Assim, Pânico aborda como a transformação de fatos reais e tragédias pessoais se torna alvo de incansável exploração pelo mundo do entretenimento (considerando que a franquia dentro da franquia chega ao capítulo 7), criticando, em formato de filme, a banalização da violência e a incapacidade das pessoas de sentirem empatia pelas vítimas, vibrando com os assassinatos porque o que o espectador espera é o sangue mesmo.
A própria história de Sidney desde o primeiro filme revela a influência da tragédia na vida de alguém. Ao longo dos anos ela vai adquirindo a resistência e a sabedoria necessária para enfrentar seus traumas, tanto que em Pânico 4, em vez de correr do assassino, ela vai pra cima dele, pois percebe que não adianta se isolar e tentar esquecer o passado, ninguém vai enfrentar os problemas por ela.
Ela fica tão forte nesse último que aquele típico momento da catarse, quando no final o vilão se revela e acaba sendo pego, não fica restrito ao final, como acontece sempre. Há vários desses momentos em que o assassino apanha feio dela, mas mesmo assim consegue escapar e manter sua identidade escondida. A reviravolta final é simplesmente surpreendente.
Aliás, o último episódio, que estreou em 2011, é uma perfeita inovação na franquia, pois reimagina a fórmula do serial killer que ligava para as vítimas antes de matá-las, inserindo-o em mundo muito mais conectado pelas redes sociais e smartphones (e que sem dúvida cresceu de 2011 até agora). Só conseguimos imaginar que Pânico 5 vai trazer alguma inovação ainda maior, provavelmente ligada com alguma tecnologia contemporânea.
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