É difícil falar de O Sentido de um fim sem revelar muito de toda a sua trama, mas pode ficar tranquilo que essa resenha não tem spoilers. O livro escrito pelo autor Julian Barnes, publicado pela editora Rocco e enviado no mês de junho aos assinantes da Tag Livros, é um prato cheio para aqueles que gostam de marcar e rabiscar suas passagens preferidas (como eu!), isso porque quando falamos de frases memoráveis e que te fazem pensar/sentir, Barnes nos entrega um livro repleto delas. 

A trama, vencedora do Man Booker Prize de 2011, brinca sutilmente com as múltiplas versões de uma mesma história, e nos faz pensar sobre temas como a passagem do tempo, a nossa memória traiçoeira e os paralelos da história individual e coletiva. 

O livro é dividido em duas partes onde conhecemos Anthony “Tony” Webster que relata, em primeira pessoa, algumas lembranças de sua juventude. Em um primeiro momento essas cenas nos parecem aleatórias, como ele mesmo pontua, mas aos poucos entendemos suas reflexões e onde ele pretende chegar com elas. 

Na primeira parte, conhecemos Webster jovem, ao longo dos anos 50 e 60. Ele nos conta sobre sua vida e principalmente sua amizade com seus três melhores amigos. Nessas lembranças, destaca-se Adrian Finn, um jovem brilhante, filosófico e tímido, que se muda para o colégio de Tony e que chama a atenção do grupo, sendo visto com um misto de admiração e inveja pela tamanho inteligência e também por seu ar misterioso.

Aos poucos vemos esses personagens crescendo e se desenvolvendo até a vida de estudantes universitários, quando começam a ter experiências que acabam por definir seus futuros. Nesse período, Webster conhece Veronica, seu primeiro amor e também com ela conhece a desilusão e os traumas desencadeados por essa vivência. Aqui também descobrimos que Adrian, seu melhor amigo, resolveu tirar sua própria vida.

Na segunda parte do livro, nos deparamos com um Tony mais velho, mais maduro e divorciado. O rumo da trama passa a ter um significado quando o protagonista recebe uma carta informando o recebimento de uma herança e dois documentos importantes. É com esse acontecimento que Webster se vê forçado a reviver seu passado e confrontar suas lembranças, e consequentemente, perceber que nem tudo que sua memória criou é 100% exata.

O Sentido de um Fim é um livro que, apesar de suas 175 páginas, te faz pensar por horas. Apesar do narrador não ser alguém confiável, como ele mesmo deixa claro em várias partes do livro, no começo ele nos mostra uma versão crível de sua jornada e de suas lembranças, o que nos faz pensar quantas vezes nós ajustamos e editamos nossas memórias para que elas estejam a nosso favor. Assim que iniciamos a segunda parte e nos deparamos com fatos e novos acontecimentos, percebemos que Tony pintou um passado favorável em muitos momentos, não por ser uma pessoa ruim, mas por ser humano. 

Barnes deixa o final de seu romance em aberto para que cada leitor interprete da maneira que achar melhor, o que me deixou com um misto de confusão e alienação pensando em todas as possibilidades que temos para esse final. O Sentido de um Fim me fez pensar na vida, nos acontecimentos e em como registramos tudo isso, por isso é livro que tem um gostinho amargo, mas necessário, que me fez entender um pouco mais sobre os efeitos de nossas atitudes no mundo e na vida daqueles que já esbarraram com a nossa. 

Mas e aí, vale a pena ler? Se você quer um livro para devorar em um dia e passar mais sete pensando e analisando sua vida, esse livro é perfeito! Barnes faz isso com maestria e nos inveja por sua capacidade de escrita filosófica. E quanto ao final em aberto, estou prestes a criar um clube do livro para discutir teorias sobre o sentido de um fim. 😉

Compre este livro aqui! Já conferiu a nossa última resenha de livro? Confira aqui!