E se alguém lhe dissesse que o amanhã não está à venda, o que você diria? Você concordaria ou argumentaria?
Isso é o que reflete Ailton Krenak no seu último ensaio O Amanhã não à Venda, um ensaio curto para os que não gostam de ler textos muito extensos. São apenas 12 páginas com reflexões de um dos maiores pensadores indígenas do nosso país sobre a pandemia que parou a humanidade.
“Quando engenheiros me disseram que iriam usar a tecnologia para recuperar o rio Doce, perguntaram a minha opinião. Eu respondi: “A minha sugestão é muito difícil de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas as atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a cem quilômetros nas margens direita e esquerda, até que ele voltasse a ter vida”. Então um deles me disse: “Mas isso é impossível. O mundo não pode parar.” E o mundo parou.”
Krenak é sábio, direto e incontestável quando reflete sobre os acontecimentos e sobre os ensinamentos que o Covid-19 nos trouxe. Ainda questiona uma volta à normalidade, que ele descreve não ser normal, e os rumos que a humanidade tomará depois desse baque.
Vivemos em uma sociedade que esqueceu o próximo, que se preocupa mais com o que acontece nas redes sociais ou com celebridades do que com pessoas de sua família. Vivemos de aparência. Postamos uma foto linda, mas nos sentimos infelizes. Não conversamos, não sentamos à mesa juntos para comer. Jogamos lixo nas ruas, nos rios, não nos preocupamos com o seu destino final. Não ligamos para os animais e nem para a natureza. Somos a maior ameaça do mundo.
“A natureza segue. O vírus não mata pássaros, ursos, nenhum outro ser, apenas humanos. Quem está em pânico são os povos humanos e seu mundo artificial, seu modo de funcionamento que entrou em crise.”
Uma coisa é certa, depois de ler O Amanhã não está à Venda você não será a mesma pessoa, seus pensamentos e suas ideias serão colocadas em prova e aí que Ailton torna-se essencial para esse momento. Ele nos empresta seu olhar sobre o mundo e divide com a gente seus ensinamentos. Não, ele não traz uma solução para todo o caos que vivemos, mas ele ensina o caminho.
“Já vi pessoas ridicularizando: “ele conversa com árvore, abraça árvore, conversa com o rio, contempla a montanha”, como se isso fosse uma espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou alienado. Há muito tempo não programo atividades para “depois”. Temos de parar de ser convencidos. Não saberemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã.”
Se por um dia eu tivesse o poder de fazer toda a humanidade ler um livro, com toda certeza seria O Amanhã não está à Venda! Krenak contesta líderes mundiais e suas ações e coloca a vida em primeiro lugar. Se você não acredita que esse seja o caminho certo para que a humanidade possa evoluir depois de um baque tão grande, talvez você devesse dar uma chance a O Amanhã não está à Venda.
“Tomara que não voltemos à normalidade, pois, se voltarmos, é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro.”
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