Millennium, a trilogia de livros escrita por Stieg Larsson foi adaptada para o cinema em duas ocasiões, a primeira em 2009 com Noomi Rapace no papel de Lisbeth Salander e a segunda no remake norte-americano em 2011, com Rooney Mara no papel da ativista hacker. A coincidência entre os filmes dava-se pelo modo que ambos se desenvolviam, focando no mistério e caráter investigativo das obras.
A nova adaptação, Millennium: A Garota na Teia de Aranha coloca todo o senso de mistério de lado e trata de transformar o filme num blockbuster com uma versão feminina de James Bond ou até de Frank Castle, se preferir. Claire Foy interpreta a justiceira que nas outras adaptações tinha um forte senso investigativo e utilizava-se da inteligência para fazer justiça e trazer a verdade à tona agora é uma “super-heroína” com direito a um hacker como sidekick, uma moto e um esconderijo no melhor estilo Justiceiro.
Com direção de Fede Alvarez (O Homem nas Trevas), Millenium: A Garota na Teia de Aranha é um prato cheio para os amantes de blockbusters explosivos com direito a aparatos tecnológicos que resolvem qualquer situação. Para quem gosta de um pouco mais de história, o filme deixa muito a desejar.
O filme se inicia com a vigilante fazendo justiça à uma esposa espancada pelo marido, um ricaço agressor sexual. A forma como isso é retratado em outros depoimentos de esposas e mulheres salvas por Lisbeth dá o tom da maneira que a vigilante age, mas isso é deixado de lado para que a heroína aceite uma missão (no melhor estilo Ethan Hunt) para impedir o vazamento de uma tecnologia de controle de mísseis nucleares! Sim, Lisbeth Salander terá de lidar com uma ameaça nuclear que pode pôr fim ao mundo como conhecemos.
É a partir deste momento que a coisa degringola de vez e a hacker (para quê ela precisa de outro hacker?) precisa pedir ajuda ao jornalista Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason), seu antigo parceiro/interesse. Se não bastasse a situação inédita que a vigilante teria de enfrentar, o filme a mostra preparada tecnologicamente para toda e qualquer situação, como se ela esperasse pelo momento de colocar a capa e virar uma verdadeira super-heroína que resiste a explosões, tiros e até veneno.
A trama do filme poderia ser interessante, descobrimos mais sobre a infância de Lisbeth e os abusos que sofria do pai. Focar no seu passado e na resolução de problemas que ainda atormentam o psicológico de Lisbeth poderia apresentar uma trama mais pé-no-chão e com cunho investigativo. Mas misturar suas perturbações psicológicas, fantasmas da família e a ameaça de um ataque nuclear resultou num filme genérico do 007 sem o carisma de Daniel Craig.
Falando em Daniel Craig, aqui ele faz falta como o jornalista Mikael Blomkvist, já que o personagem interpretado por Sverrir Gudnason é incapaz de se impor em qualquer uma das cenas que aparece, tornando-se muito mais um peso do que um aliado de Lisbeth. Ao abraçar o estilo hollywoodiano de se fazer um blockbuster, Fede Alvarez deixa de lado o cunho investigativo dos livros e entrega um filme que seria perfeito como a adaptação de uma HQ ou game (vide a sequência de ação final), com um roteiro simplório e incapaz de se sustentar ao apresentar situações que seriam resolvidas com uma simples busca na internet.
Ao entregar um filme que segue à risca a cartilha de blockbusters de ação, talvez Fede Alvarez tenha criado um filme que venha a chamar a atenção do grande público, mas que enterra de uma vez por todas a identidade de Lisbeth Salander.
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