A história do cinema se confunde com a história da humanidade ao longo do século XX. Nesses tempos em que estamos sem muitas possibilidades de distração fora do nosso lar, doce lar, o cinema tem sido um companheiro de muita gente que quer espantar o tédio. Hoje temos acesso a ele com a ponta dos nossos dedos, mesmo não tendo um projetor potente e uma poltrona confortável em casa, mas nem sempre foi assim.
Até o final do século XIX, se quiséssemos assistir a uma história sendo encenada por atores com efeitos visuais e sonoros, precisávamos ir a um teatro. Não havia outro jeito: a eletricidade até já tinha sido descoberta, mas não chegava à casa de todos, e não havia também muitas aplicações práticas pra ela, além de talvez movimentar máquinas em fábricas e iluminar algumas ruas de noite (e isso falando somente das cidades mais desenvolvidas da época, a maioria das pessoas que viveu naquela ocasião nem viu uma lâmpada funcionar).
A fotografia como conhecemos hoje também já existia desde 1840 pelo menos, mas como você sabe, só registrava imagens estáticas. Foi a partir de uma invenção dos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière de 1895 que foi possível registrar as primeiras imagens em movimento da história. O cinematógrafo (de onde veio então a palavra “cinema” para definir a arte) era, pra resumir bem, uma máquina fotográfica que conseguia registrar várias imagens por segundo (em torno de 18). O mesmo aparelho tinha uma lâmpada que projetava as “fotos”, que quando exibidas em sequência, davam a impressão de movimento. A história do cinema começa aí.
Aquele que é reconhecido como o primeiro filme da história também foi produzido pelos Irmãos Lumière: ele se chama Saída dos Operários da Fábrica Lumière em Lyon, e não tem nada de emocionante, é só o registro da saída dos operários da fábrica da família. Mas pense no tamanho da revolução que foi isso lá naquela época. Pela primeira vez na história, conseguíamos ver registros de seres humanos em movimento.
https://www.youtube.com/watch?v=BO0EkMKfgJI
Conta-se que os Irmãos Lumière viam o cinematógrafo muito mais como uma experiência científica, e que não tinham a intenção de produzi-lo em massa para obter lucros com o produto. Eles então rodaram o mundo exibindo sua criação, e os mais diversos diversos filmes produzidos com ela, em geral, retratando cenas cotidianas (como a chegada de um trem à estação e um pai dando comida ao filho bebê).
Entre esses inúmeros minidocumentários, era possível até mesmo encontrar alguns com um pequeno roteiro ensaiado, ainda que de forma muito inocente, como no caso de L’Arroseur Arrosé (algo como “O Regador Regado”) indicando que o destino do cinema era realmente a arte de contar histórias.
https://www.youtube.com/watch?v=s_vGEbwUWQ0
Não chegou nem ao final do século XIX e outros inventos semelhantes começaram a surgir aqui e ali, afinal, a época era de muita procura e pesquisa por novas tecnologias. Do lado de cá do Atlântico, por exemplo, antes mesmo dos Lumière, o famoso Thomas Edison (mais conhecido como inventor da lâmpada, mas que teve papel fundamental na história do cinema) já havia investido na construção de um aparelho semelhante, que exibia imagens em movimento.
A diferença é que o cinetoscópio de Edison (que aliás nem foi inventado por ele, mas por um dos engenheiros da empresa dele, William Kennedy Laurie Dickson) era um aparelho individual e sua função era somente exibir o filme. O espectador depositava uma moeda na máquina e via um filminho de alguns poucos minutos como se estivesse olhando um microscópio.
Edison no entanto, ao contrário dos Lumière, estava mais interessado nos lucros que poderia obter com seus inventos (ou, como no caso do cinetoscópio, com os inventos de seus empregados). Suas empresas desenvolveram e patentearam diversos produtos ligados à então nascente tecnologia de produção de filmes (muitos deles, obviamente, não foram criados do zero), e nos Estados Unidos, para qualquer um poder usufruir dessas tecnologias, deveria pagar pra ele.
Se Edison achou que isso só ia encher os bolsos dele, achou errado. E pelo contrário, os primeiros produtores de filmes (nem dá pra falar de uma indústria do cinema ainda) acabaram desistindo da ideia, porque o empresário colocou até mesmo bandidos pra vigiar os locais de exibição e garantir que ninguém ia usar câmeras e projetores sem pagar os direitos.
O resultado? A maior parte deles migrou para a costa oeste americana, onde alguns anos mais tarde nasceria a multimilionária indústria hollywoodiana, mas isso é assunto pro próximo texto sobre a história do cinema.
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