De 7 a 15 de outubro todo o Brasil terá a oportunidade de conhecer o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Com a atual situação do país e do mundo, com o isolamento e salas de cinema ainda fechadas, a 9ª edição do evento acontecerá online possibilitando um novo alcance de público. Entre as mostras do festival estão a Olhares Brasil, uma seleção especial com filmes nacionais que vêm se destacando ao longo de festivais, e a Mirada Paranaense, com um recorte da recente produção do estado.
Falamos por e-mail com os diretores do festival, Antônio Gonçalves Junior (diretor artístico) e Eugenia Castello (diretora executiva) sobre a expectativa para o novo formato e os desafios dessa nova edição, em formato online. Confira abaixo:
Apesar de todo o caos que gerou, a pandemia trouxe consigo um universo de novas possibilidades para os grandes eventos, ainda que ninguém estivesse planejando. Como foi organizar esse festival totalmente on-line? Vocês planejam edições futuras nesse mesmo formato?
Certamente num primeiro momento foi triste pensar no evento online, porém depois começamos a enxergar algumas coisas legais que esse formato nos possibilita, por exemplo os filmes do Olhar de Cinema serem acessados do Brasil todo. Acredito que várias decisões que fomos obrigados a tomar este ano vão ser incorporadas no festival em edições futuras. Mas nossa vontade é voltar pras salas de cinema o quanto antes.
Estamos vivendo um momento de polarização política no mundo, e sobretudo no país, que acaba gerando uma ansiedade enorme, e de um lado e de outro do espectro político as pessoas enxergam a chamada “doutrinação” vinda do que acreditam ser o “lado oposto”, numa eterna síndrome de perseguição. Vocês consideram que grandes eventos culturais têm uma responsabilidade de desmistificar essa polarização? Como é possível fazer isso?
Eu acredito que o Olhar de Cinema tem algo muito especial que é a possibilidade de trazer filmes do mundo todo de diferentes origens e repertórios. Com isso, conseguimos notar que há alguns pensamentos em comum no mundo todo. O festival tem o objetivo de trazer essa multiplicidade de vozes e olhares.
Além da organização de eventos, a pandemia afetou o nosso próprio olhar sobre a realidade, e isso se reflete, sem dúvida, na produção artística. Como vocês veem essa nova realidade nas produções audiovisuais?
Todos filmes selecionados foram feitos num mundo pré-pandemia. De qualquer maneira a seleção foi impacta, pois diversos deles foram ressignificados por conta do que vivemos. Mas acredito que 2021 e 2022 vamos ver mais fortemente esse impacto nas telas.
Muito se fala hoje em dia da valorização da diversidade no cinema e nas produções audiovisuais como um todo. E sobre a diversidade de temas abordados no festival, o que podemos destacar?
Tentamos sempre fazer um recorte mais amplo possível. Mas como o próprio termo já diz: é um recorte. Então temos filmes que nos apresentam a países e universos muito distintos, contudo ficamos contentes ao ver a seleção e entender que diversas das questões que estão sendo debatidas na nossa sociedade estão sendo faladas nos filmes. O Olhar de Cinema busca filmes que tenham uma proposta cinematográfica que fuja dos padrões tanto estéticos quanto temáticos.
Como o evento é on-line neste ano, ficará mais fácil para pessoas de outras regiões do Brasil participarem também. Como o festival investiu na representação dessa diversidade regional brasileira? E como o Paraná está sendo representado para os demais estados e para o mundo?
É uma das vantagens que o online permite. Tem filmes de todas as regiões do país e o Paraná mais uma vez está super bem representado tanto no júri que temos Gil Baroni, quanto na Competitiva de Curtas que temos o filme Chão de Rua de Tomás von der Osten. E claro que a Mirada Paranaense que chega com 10 curtas e o longa A Alma do Gesto de Juslaine Abreu-Nogueira e Eduardo Baggio. Uma estreia mundial de um filme muito potente.
Entre os filmes estrangeiros, temos representantes de países que nunca, ou quase nunca, entram em cartaz em circuito comercial por aqui. Vocês conseguem destacar algum país que tenha um cinema independente bastante produtivo e que mereça mais destaque nos circuitos comerciais?
Acredito que tem um cinema independente todo que é produzido em diversos países que não entram em cartaz no circuito. É uma pena sempre olhar para programação dos cinema e ver que os mesmos filmes se repetem em todas salas. Isso é ruim porque gera um problema que quando é programado um filme que foge de hollywood as pessoas não estão acostumadas a ver. Então acaba não tendo público e entra nesse ciclo de que não é programado porque não tem público, mas não tem público porque não é programado e as pessoas não estão acostumadas com estes filmes.
A proposta de celebrar o cinema independente não é nova, mas só de falar nessa expressão, “cinema independente”, uma boa parte do público já “torce o nariz”, muitas vezes apenas por não conhecer mesmo, fazendo com que as produções independentes fiquem restritas a um determinado público. Vocês consideram que é possível mudar essa opinião com o público em geral?
É o nosso objetivo a cada edição. O Olhar de Cinema é um lugar para quem gosta de cinema, que gosta de assistir filmes e que está aberto/a a descobertas e de alguma maneira ser desafiado pelo filme. É um festival que propõe sairmos da zona de conforto.
Sabemos que todos os filmes que serão exibidos têm algo de especial e merecem ser vistos, mas vocês têm algum preferido ou algum que chame mais a atenção nessa edição do festival?
Temos o filme de Abertura, Para onde voam as feiticeiras que é um filme atual e potente. Além disso, o Antena da Raça que foi selecionado para a mostra Cannes Classics, porém não foi exibido, pois Cannes não ocorreu presencialmente este ano. Aproveito para desejar um ótimo festival para todo mundo.
Sobre o Olhar de Cinema
O Olhar de Cinema é um festival que busca destacar e celebrar o cinema independente realizado em todo mudo. São propostas estéticas inventivas, envolventes e com comprometimento temático, que abrange desde a abordagem de inquietações contemporâneas acerca do micro universo cotidiano de relacionamentos, até interpretações e posicionamentos sobre política e economia mundial.
A seleção apresenta ao público filmes que se arriscam em novas formas de linguagem cinematográfica, que estão abertos ao experimentalismo e que, ainda assim, possuem um grande potencial de comunicação com o público.
O 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema conta com apoio da Copel, Governo do Estado do Paraná, Ademilar, Lojacorr, incentivo da Lei de incentivo à cultura, Fundação Cultural de Curitiba, Prefeitura de Curitiba e PROFICE.
SERVIÇO
9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba
De 7 a 15 de outubro
No site do Olhar de Cinema
R$ 5 por filme
Dinâmica das sessões
Os filmes serão exibidos no próprio site do Olhar de Cinema. Cada título estará disponível até às 23h59 da data divulgada na programação. A venda de ingressos para todas as sessões começa no dia 23 de setembro e o número de ingressos para cada filme é limitado.
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