Wandavision aparentava ser apenas uma série despretensiosa com personagens do universo Marvel brincando com séries de TV já conhecidas de outras décadas (I love Lucy, A Feiticeira, Três é Demais, Modern Family, só pra citar as mais famosas). E o que se viu até o quinto episódio era isso mesmo, uma sensação de nostalgia misturada ao carisma de dois personagens super-poderosos, Wanda (Elisabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), mas cada episódio ainda trazia também uma certa dúvida, algo que nos dava de longe a mensagem de que nada era o que parecia ser.
E não era mesmo! Pistas aqui e ali iam entregando uma trama elaborada de melancolia turbinada por poderes cada vez mais inimagináveis da personagem principal, a Feiticeira Escarlate (agora reconhecida como tal), que fez os fãs elaborarem as mais insanas (e até divertidas) teorias sobre o andamento do MCU do final de Vingadores: Ultimato para a frente. Todos já sabiam que Wanda sofria com a perda de Visão, mas ninguém ainda tinha noção de que a extensão desse sofrimento fosse causar problemas, ainda mais com uma ameaça a todo o mundo, a partir do momento que fica claro que ela sequestrou uma cidade inteira para dentro de sua ilusão de vida perfeita ao lado do amado.
Sem falar em mais detalhes do enredo de Wandavision para não revelar demais, é importante considerar aqui que essa é a primeira incursão da Marvel no universo das séries, e o resultado não poderia ser melhor. Os desfechos elaborados e as tramas complexas que vão desenhando não apenas possibilidades para o futuro, mas também ligações com o passado do MCU, acabam por amarrar o espectador, mesmo aqueles acostumados à facilidade do streaming, que se renderam à estratégia da Disney em liberar apenas um episódio por semana.
Wandavision poderia muito bem ter sido apenas um filme, ou quem sabe até uma trama paralela dentro de outros filmes dos personagens mágicos do MCU, mas a decisão de torná-la uma série foi de longe a mais acertada. Diferente dos filmes, em que dificilmente vemos uma real evolução das personagens, aqui pudemos conferir toda um desenvolvimento que, apesar de lento em alguns momentos, se mostrou necessário para compreendermos a profundidade com que Wanda se enfiou nós próprios pensamentos. Tudo, absolutamente tudo está ligado e tem uma explicação que mais cedo ou mais tarde acaba vindo à tona.
E não podemos deixar de mencionar algo que em geral não é a grande marca do universo Marvel: as atuações. Elisabeth Olsen e Paul Bettany são importantes em todas as tramas de que participaram, mas muitas vezes ficam esquecidos em seus papéis secundários (sim, porque protagonistas eles nunca foram, mesmo sendo muito mais poderosos que a maioria), e aqui estão muito à vontade, ao mesmo tempo criando ótimas interações (no melhor espírito de uma sitcom), mas passando um olhar sempre melancólico no final de cada episódio.
Todo o elenco de apoio também vai muito bem, com o (grande) destaque de Kathryn Hahn, a qual é mais conhecida pelas comédias, mas que dentro da tragicomédia montada acaba se revelando uma atriz extremamente versátil, e uma adição que só tem a acrescentar ao MCU, caso ela permaneça (o que, pelas reações positivas, deve acontecer). A personagem Agnes vai muito além da vizinha intrometida, conseguindo ao mesmo tempo ser carismática e odiável, e certamente provocou o melhor momento de surpresa da série.
E diante de tudo isso, ainda devemos destacar o brilhante trabalho dos roteiristas. As reviravoltas dignas de cinema em meio a episódios de tramas tão despretensiosas mostram muito mais do que o conhecido fan service (que na verdade acaba por vezes espantando quem não acompanhou toda a série de filmes) da marca Marvel: Wandavision até conta com as inúmeras referências e easter eggs de outros filmes do universo, mas revela um planejamento de anos que aproveita cada detalhe para expandir ainda mais as possibilidades, dando a entender que de agora em diante a tônica entre vilões e mocinhos adquire outras camadas.
Enfim, Wandavision é uma série com praticamente zero defeitos, e que vale a pena até ser revista, para aproveitar ainda mais os detalhes e sutilezas que foram colocados ali. Se você já é fã do MCU, sem dúvida não vai se decepcionar, mas se ainda não é, vai acabar se rendendo ao menos pra saber o que raios está acontecendo com a pequena cidade de Westview.
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