O longa Todos Já Sabem é uma co-produção espanhola, francesa e italiana, dirigida pelo iraniano Asghar Farhadi e estrelada por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín. No enredo, acompanhamos Laura (Cruz) viajando da Argentina para a Espanha para acompanhar a festa de casamento da irmã. Laura é espanhola, mas casada com o argentino Alejandro (Darín), um empresário rico que bancou a reforma da igreja do vilarejo onde ela nasceu.
Já em sua terra natal, Laura encontra seus parentes e seu amor de infância, Paco (Javier Bardem), com quem viveu um romance antes de se casar. Praticamente metade do filme é de apresentação de personagens e suas diversas nuances, o que vai definir, na segunda metade da trama, algumas ações importantes. Portanto, se você não gosta de histórias mais focadas em dramas pessoais, pode ser que não te agrade no início, mas a segunda metade vai valer a pena, sem dúvida. Só não deixe de prestar atenção, porque pode ser que perca alguma informação importante.
Como é de praxe na linguagem europeia de cinema, não há aqueles diálogos expositivos que entregam a trama para o espectador, no entanto, a sugestão dada pelo título já nos coloca uma peça importante para a instauração do conflito. Durante a festa de casamento, ocorre um apagão geral, e a filha de Laura, Irene (Carla Campra), acaba desaparecendo. A partir de então, iniciam-se as especulações de todos dentro da casa sobre o que aconteceu com ela, enquanto a mãe desesperada (atuação impecável de Penélope Cruz) tenta a todo custo obter alguma notícia da filha. Outras peças do quebra-cabeça vão sendo dadas aos poucos, o que nos deixa curiosos para entender o enredo e o que, de fato, motiva tal conflito.
No entanto, apesar de ter um fio condutor muito bem definido, o roteiro se perde um pouco na solução final, porque tenta criar um clima de mistério em cima de algo que, desde o início, os personagens já sabiam (daí o título do filme), mas não comentavam entre si, e portanto, não davam essa informação ao espectador. Isso é, lógico, uma representação de qualquer relação familiar em que muitas vezes as pessoas escondem seus podres para manter as aparências, mas que num momento de raiva ou desespero acabam liberando e trazendo à tona velhos conflitos de volta. Nesse ponto, o roteiro é inteligente, mas não consegue surpreender tanto positivamente quanto poderia.
Darín e Bardem também estão muito bem, representando dois homens que, apesar de terem tudo para entrarem em um embate sem fim, fazem de tudo em prol do bem comum. O primeiro talvez pareça um pouco apático no início, mas desenvolve bem o seu personagem conforme a história avança. O diretor, que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017 com O Apartamento (e que acabou não indo receber o prêmio por conta da polêmica de Donald Trump com os países árabes), mostra um ótimo trabalho, embora fique a sensação de que ele poderia ter investido mais no mistério da trama.
Filmes não hollywoodianos não costumam fazer sucesso por aqui e muitas vezes nem são exibidos em muitas salas, mas tendo a oportunidade, não deixe de conferir, principalmente se você gosta de um bom drama europeu. É uma ótima história, focada em tragédias humanas e que vai muito além de um suspense policial a ser decifrado.
Deixe um comentário