No início do ano passado, quando as primeiras imagens de Sonic O Filme foram liberadas, a internet não perdoou, afinal o personagem clássico dos vídeo-games estava um tanto estranho demais. Foram tantas reclamações em redes sociais que, num movimento praticamente inédito na história do cinema, o próprio diretor Jeff Fowler veio a público dizer que estavam adiando a estreia do filme (prevista inicialmente para novembro), e as reações foram de muita desconfiança.
Passado todo o burburinho, um novo trailer foi lançado, dessa vez com um Sonic repaginado e bem mais aceitável. Mas nem isso foi suficiente para que as pessoas mudassem a opinião inicial. Não é totalmente sem razão, pois vários remakes/reboots/adaptações dos últimos anos foram bem decepcionantes. Como o movimento do cinema nesses tempos se concentra no lançamento desse tipo de filme, muitos estúdios têm apenas surfado na onda pra tentar abocanhar uns dólares a mais, mas nem sempre demonstrando uma grande preocupação com a qualidade e/ou a experiência do público.
E quando se trata de filmes baseados em vídeo-games, a desconfiança é ainda maior, tendo em vista que quase nunca tivemos uma adaptação que arrebatasse multidões e conquistasse unanimidade com o público. Fora isso, ainda temos o problema das gerações: Sonic é um personagem de jogos “antigos”, que teoricamente faz sucesso com o pessoal mais velho e pode não ter o mesmo apelo com as crianças. Por outro lado, ao focar no público infantil, como fazer um filme que agrade as crianças mas também aos pais, com o objetivo de encher as salas de cinema?
Essas são questões que sem dúvida a produção colocou na mesa antes de lançar Sonic O Filme. E se podemos dizer uma coisa sobre isso é: não poderiam ter acertado melhor! A produção dá uma sensação agradável de nostalgia ao mesmo tempo que consegue divertir com um humor inocente e muito refinado. São inúmeras as referências aos jogos e a diferentes ícones da cultura pop, uma mistura que dá muito certo, porque foi de fato pensada para agradar a todos os públicos.
Aqueles que jogaram os jogos clássicos do Sonic vão reconhecer logo na primeira cena o nome da cidade, Green Hills (referência à primeira fase do primeiro jogo), para onde Sonic vai após ter que sair de seu mundo, um local muito parecido com os cenários dos jogos. Há também a sonoplastia dos jogos, que aparece por exemplo nos golpes de Sonic nos robôs do Dr. Robotnik (Jim Carrey), além da trilha sonora que em muitos momentos é composta por releituras das músicas dos vídeo-games.
Na ponta do elenco, podemos destacar (se é que é necessário) Jim Carrey, que compõe um vilão muito caricato e engraçado, mas ao mesmo tempo odiável, exatamente como há de ser um vilão de jogo. Mesmo sendo um pouco clichê, ainda mais comparando a outros personagens do ator, o Dr. Robotnik acaba por produzir alguns dos melhores momentos.
James Marsden, o protagonista, consegue convencer como um policial amigo da vizinhança, Tom Wachowski, que quer uma emoção a mais na vida justamente por viver em uma cidade muito pacata. Apesar de nunca ter protagonizado um grande filme, ele merece destaque por sua versatilidade (passando de Ciclope a apresentador de musical e até príncipe encantado), e contracenar quase o tempo todo com um boneco computadorizado sem dúvida é um desafio. O restante do elenco de Sonic O Filme (Tika Sumpter como a esposa de Tom, e Natasha Rothwell como a irmã dela, entre outros) não aparece muito, mas garante momentos hilários também.
Assistimos à versão dublada, e o dublador oficial do Sonic no Brasil, Manolo Rey, empresta mais uma vez sua voz ao personagem, e com certeza nos deixa fascinados pelo universo do filme. Aliás, todo o trabalho de dublagem deve ser destacado, então, se você costuma desconfiar de versões dubladas, vá sem medo, e não tenha receio de acompanhar seus filhos, sobrinhos etc. porque você também será cativado. No original, o dublador é Ben Schwartz, também conhecido por vários personagens de animação, mas mais ainda por seu papel em Parks & Recreation.
Além de tudo, Sonic O Filme traz uma ótima mensagem, tanto para as crianças como para os adultos, sobre a questão de pertencimento. Também há aquela jornada clichê de autoconhecimento do herói e, como em muitos filmes infantis, a discussão sobre o valor da amizade e a importância de gostar das pessoas e confiar nelas. Mesmo que isso possa soar um pouco chato, a abordagem do filme nos faz ter uma sensação boa, e não há aquela forçação de barra, tudo acontece naturalmente.
Resumindo: Sonic O Filme é espetacular, supera qualquer expectativa, e tem tudo para se tornar um grande sucesso, quem sabe até criando um universo cinematográfico próprio (e o enredo dá várias brechas para isso). A Paramount acreditou muito no material que tinha em mãos e tomou a sábia decisão de ouvir o público, sabendo que a má impressão inicial não arrastaria as pessoas ao cinema, por melhor que fosse a história. Ponto para o estúdio e para o diretor. Torcemos para que o filme seja um sucesso também de bilheteria e possamos conferir as sequências nos próximos anos.
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