A segunda temporada de Coisa mais linda chegou na Netflix e trouxe problemáticas importantes para os dias atuais. Mesmo que seja um spoiler, para aqueles que não acompanharam a primeira temporada, é de extrema relevância exaltar os temas abordados pelo drama, dentre eles, o feminicídio.
De acordo com o site da Agência Brasil e através do documento intitulado “Violência Doméstica durante a Pandemia de Covid-19”, o número de casos de feminicídio cresceu 22,2% entre março e abril deste ano em 12 estados do país, comparativamente ao ano passado, mesmo existindo a dificuldade de registrar as ocorrências. Esse é um problema muito atual, principalmente estando a vítima obrigada ao confinamento com o seu agressor.
Coisa mais linda arriscou e acertou em trazer esse tema tão conturbado e difícil de ser explorado de maneira leve, como fez, para o seu enredo, nos fazendo ver, logo de cara, que não é de hoje que a morte de mulheres por seus parceiros acontece, mas de muito tempo atrás, apesar da falta de divulgação na época – ou, como também mostra a série, devido a uma romantização desse tipo de assassinato pela mídia, tratado como crime passional.
A série criada por Giuliano Cedroni e Heather Roth, com colaboração de texto de Léo Moreira, Luna Grimberg e Patricia Corso tem a produção de Beto Gauss e Francesco Civita e a direção de Caíto Ortiz, Hugo Prata e Julia Rezende. Teve o seu título inspirado em um verso de Garota de Ipanema e foi a quarta série a ser produzida no Brasil pela Netflix.
A primeira temporada de Coisa Mais Linda contou a história de Maria Luiza, Malu (Maria Casadevall), que se muda para o Rio de Janeiro para encontrar seu marido, mas descobre que ela foi roubada e abandonada por ele. Sem dinheiro e apenas com um local, onde seria construído um restaurante, ela decide abrir um clube de música com foco na bossa nova, que ainda era razoavelmente desconhecida em 1959. Com a ajuda de Adélia (Pathy Dejesus), uma moça negra e moradora da favela, ela consegue realizar seu sonho.
Conhecemos também alguns personagens que serão relevantes para o enredo nessa temporada de Coisa mais linda, como o cantor Chico (Leandro Lima), por quem Malu se apaixona; Lígia (Fernanda Vasconcellos), uma mulher que sonha em ser cantora, mas é duramente reprimida por seu marido conservador, Augusto (Gustavo Vaz). E também, Thereza (Mel Lisboa), uma jornalista que vive lutando pelos direitos das mulheres e que vive um relacionamento aberto com seu marido Nelson (Alexandre Cioletti).
Para quem viu essa primeira temporada, sabe muito bem que a série já vinha tratando sobre empoderamento feminino, apesar de ser muito leve e descontraída, até mesmo apressada. Essa primeira temporada pode ser até mesmo considerada meio bobinha e novelesca, porém com o final pesado, envolvendo o marido de Lígia atirando nela e na Malu, Coisa mais linda teve um ponto de virada, que fez com que os fãs esperassem pelo lançamento da segunda com alguma avidez.
Na segunda temporada, Coisa mais linda já revela o destino trágico de Lígia, assassinada pelo marido. Malu, por sua vez, acorda de um coma, determinada a dar voz a sua amiga e ao mesmo tempo tentando superar o trauma, que é reforçado com o retorno do ex-marido Pedro (Kiko Bertholini), abusivo e que tenta tomar o seu clube e transformá-lo em um restaurante.
Um acréscimo de grande importância para a temporada foi a personagem Ivone (Larissa Nunes), irmã de Adélia, negra e com muito talento, que tenta mostrar sua capacidade como cantora em um lugar dominado por homens. Através dela são explicitadas as diferenças entre o feminismo branco e o feminismo negro, mostrando que a representatividade importa, e muito, nas séries de televisão e na cultura de maneira geral.
A diferença racial fica ainda mais clara com a rivalidade de Theresa e Adélia, que passam a dividir a maternidade de Conceição, apesar de passar ainda um pouco apressada por essa parte da trama. De fato, algumas partes da história poderiam ser mais bem desenvolvidas, mas a sensibilidade com que as personagens tratam dos assuntos acaba por nos fazer relevar os aspectos negativos.
É impossível então não se emocionar com a Malu falando sobre o amor, que pode ter muitas formas, porém nunca é violento. Em seus apenas seis episódios de mais ou menos 50 minutos, Coisa mais linda nos transporta para uma luta feminista, contra o racismo e dá uma aula de sororidade nos anos 1960, nos mostrando que, infelizmente, pouco mudou até os anos 2020. O machismo ainda está presente com força, muitas mulheres ainda sofrem agressões caladas em suas residências e o racismo ainda assume diversas formas na nossa sociedade, reforçada ainda por aqueles que possuem algum poder.
Por fim, Coisa mais linda acabou essa temporada prometendo uma terceira, dessa vez caminhando para outro viés, de um assassinato com possíveis suspeitos. Sem mais spoilers, digo apenas que promete ser bem divertida. Resta saber se será igualmente polêmica.
Confira o trailer da segunda temporada:
Você pode assistir Coisa Mais Linda na Netflix.
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