Chegou na Netflix mais uma série de zumbis, Reality Z. E se você achou que não veria uma dessas brasileira, você errou. Já comentamos aqui séries de zumbis, Sul-coreana, Indiana e agora essa, cheia de escatologia, terror, sustos e cenas trashs, com direito até a salto alto enfiado na cabeça dos monstros. Mas, a série é muito mais do que você imagina, e em seus dez episódios de menos de meia hora, se mostra mais atual e divertida do que qualquer outra.
Reality Z foi co-produzida pela Netflix em parceria com a Conspiração Filmes, indicada diversas vezes ao Emmy Internacional, e saiu no serviço de streaming no dia 10 de junho. Na realidade, o terror é uma versão de Dead Set, uma série britânica, adaptada por João Costa, com a direção de Cláudio Torres, que também assumiu a produção executiva juntamente com Renata Brandão. Além de tudo isso, Cláudio Torres ainda dirige os episódios com Rodrigo Monte.
Dead Set, por sua vez, foi criada por Charlie Brooker, autor de Black Mirror, que também anunciou a estreia da série brasileira no painel da Netflix no evento Rio2C (Rio Creative Conference) de 2019. O que ele não previa e nem ninguém que estava envolvido nas gravações é que Reality Z seria tão contemporânea quanto é na situação de pandemia que estamos vivendo. Quem não pensou durante a exibição do Big Brother Brasil em plena quarentena de que ali era o local mais seguro para estar e fugir do Covid-19, por exemplo?
Já adiantando do que se trata a série: Reality Z conta a história de um grupo de pessoas que se refugia em um estúdio de televisão do Rio de Janeiro, aos estilos do BBB durante um apocalipse zumbi. No Reality Show Olimpo, as pessoas são chamadas por nome de deuses e comandados por Zeus, que na realidade é o Brandão (Guilherme Weber), dono do programa que explora seus funcionários, inclusive a Nina (Ana Hartmann), que consegue fugir dos monstros para dentro da casa, onde estão os participantes, e conta tudo o que está acontecendo.
A série brasileira assume o trash e traz as personalidades mais diversas e reconhecíveis por nós: um policial viciado em cocaína, um político corrupto, uma assessora de imprensa elitista, um jovem ativista… Ela não tenta disfarçar que vai mostrar muita nojeira e piadas muito irônicas em momentos oportunos. Os zumbis estão ótimos, bem maquiados e a gravação foi muito bem feita, fazendo com que a diversão seja garantida.
Vale dizer para não se apegar a nenhum personagem, assim como acontece nas séries do tipo, todos podem morrer e o roteirista não tem piedade. Nesse contexto, as mulheres ganham um destaque especial. A começar pela Sabrina Sato – que inclusive foi participante do BBB em 2003 – a grande convidada da série, interpretando a apresentadora do programa, Divina, que logo no início da série é mordida e vira também uma zumbi.
Temos também a Nina, que assume o protagonismo do enredo no início da história, mostrando ser muito mais forte do que imagina. E depois Tereza (Luellem de Castro), que além de mulher, é negra e marginalizada por alguns outros personagens. Ela acaba defendendo o grupo de sobreviventes rumo ao estúdio, ao estilo Michonne de The Walking Dead, e salvando a vida de vários deles.
O elenco de Reality Z conta também com a participação de Carla Ribas (Ana), Emílio de Mello (Alberto Levi), Ravel Andrade (Léo), João Pedro Zappa (TK), Julia Ianina (Cristina), Pierri Baitelli (Robson), Jesus Luz (Lucas), Gabriel Canela (Marcos), Natália Rosa (Veronica), Leandro Daniel (Augusto), Hanna Romanazzi (Jéssica), Arlinda Di Baio (Cleide) e Wallie Ruy (Madonna).
O sacrifício anunciado logo na abertura de Reality Z, na apresentação do programa – simbolizando o “paredão” da noite, com seus eliminados da casa – se concretiza ao longo de todos os episódios, onde cada um desses personagens vai sendo eliminado por vez, diante dos olhos do espectador de casa e dos espectadores sobreviventes do apocalipse, como em Jogos Vorazes.
Mas a ameaça está além dos zumbis, como nas séries do tipo, os humanos são o maior perigo à própria humanidade. Por esse motivo, mesmo que de maneira sutil, Reality Z aborda temas corriqueiros para o Brasil, como a violência policial, o classicismo, racismo e a corrupção política no papel do deputado Levi.
A Trilha sonora é uma diversão a mais, e merece ser exaltada. Reality Z apresenta um rock internacional no início, que vai se abrasileirando depois, com Caetano Veloso, Mutantes (é genial, inclusive, ouvir Panis e Circenses com a imagem dos zumbis comendo os humanos), Secos e Molhados e Erasmo Carlos, misturando um pouco de fora com um pouco de dentro, de uma maneira muito bem trabalhada ao longo de cada episódio.
Essa é uma série que merece ser vista urgentemente, pode parar tudo que você está assistindo e ir para ela, porque vale a pena. Um exemplo concreto e literal de antropofagia brasileira, desde o roteiro emprestado da minissérie britânica até o universo de Reality Shows, como também os zumbis ao som dos cantores tropicalistas.
Reality Z não poderia ser mais propícia para os nossos dias atuais. O julgamento do outro, o consumo da vida alheia e a decisão de quem deve ou não sobreviver pode ser muito dura de ser vista assim, mas também está muito presente durante essa quarentena que estamos vivendo, servindo para refletirmos se as escolhas são justas ou se nós mesmos podemos ser os causadores de uma pandemia.
Confira o trailer da primeira temporada:
Você pode assistir Reality Z na Netflix.
E você, já viu a série? Comente aí e deixe sua sugestão.
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