“Bella ciao, Bella ciao, Bella ciao, ciao, ciao, ciao”. Se você ainda não ouviu essa música (que virou até funk) e não se deparou com ninguém no carnaval ou dia das bruxas vestido com o macacão vermelho e as máscaras do pintor Salvador Dalí, ou você não tem Netflix, ou está no planeta errado.
A série espanhola, criada por Álex Pina, LaCasa de Papel dispensa longas apresentações, mas aqui vai: um homem decide reunir oito criminosos para um assalto na Casa da Moeda, executando o maior roubo da história ao produzir seu próprio dinheiro com ajuda dos reféns. Por esse resumo é difícil entender como é possível que esse enredo tenha rendido quatro temporadas, afinal, quanto tempo eles demoraram para executar esse plano e para produzir todo esse dinheiro? O que pode ter acontecido nesse percurso? E o melhor, eles conseguiram? Assim como essas perguntas já intrigam, a trama também prende o telespectador misturando personagens misteriosos, com passados obscuros, uma grande quantidade de suspense e ação.
A série tem um total de 31 episódios, que acabam sendo maratonados em poucos dias, e foi divulgada pela revista Variety (1 de agosto de 2019) como a melhor primeira semana de estréia para uma série de língua não inglesa, na ocasião do lançamento da parte 3 em 19 de julho de 2019.
Então se você ainda não viu essa série e gostou do que leu aqui, não prossiga a leitura deste post, porque trarei alguns spoilers à frente para aqueles que querem saber sobre o lançamento da nova temporada, que saiu na Netflix hoje mesmo, dia 3 de abril.
Relembrando tudo o que aconteceu: Na primeira temporada oito criminosos com nomes fictícios são reunidos por Sergio Marquina, conhecido como Professor, para ocupar a Casa da Moeda de Madrid, através de um plano elaborado meticulosamente por ele. Após cinco meses de treinamento, o assalto ocorre com sucesso e os personagens invadem o local e iniciam a fabricação de seu próprio dinheiro, com a ajuda das pessoas que são feitas de reféns no local. Em meio aos acontecimentos podemos destacar o reconhecimento pela polícia de alguns dos sequestradores, as tentativas de fugas dos reféns e o início de um sentimento amoroso do Professor pela própria investigadora do caso, Raquel Murrillo.
Na segunda temporada a polícia investiga a casa em Toledo, utilizada para o treinamento do grupo e Raquel descobre quem é o Professor. Ele, sem poder se comunicar com o interior da casa, provoca o desespero do sequestradores, culminando na expulsão de Tóquio da fábrica e a sua detenção pela polícia. O desfecho da temporada mostra Raquel acusada de cúmplice e o grupo fugindo através de um túnel ao encontro do Professor.
Esse parece ser o fim da história, porém na terceira temporada podemos espiar a vida dos criminosos depois do assalto, sendo procurados pela polícia e as maneiras que encontraram de escapar dessa perseguição. Rio acaba sendo capturado pela Interpol e precisa ser resgatado pelo grupo. Todos são reunidos e iniciam o planejamento de um novo assalto, dessa vez ao Banco da Espanha. Novos personagens são então incorporados, dentre eles Palermo, a inspetora agora chamada de Lisboa e Monica Gaztambide, Estocolmo. O plano segue como o outro, o grupo invade o Banco, enquanto o Professor e Lisboa seguem os acontecimentos do lado de fora.
Ufa! Para os viciados na série, adianto que a quarta temporada conseguiu manter as características das anteriores e permanece intrigante e cheia de ação. O ritmo é tão acelerado quanto o desse resumo e os acontecimentos narrados por Tóquio voam diante dos nossos olhos. Nada disso nos impede de entender as ações dos personagens, calculadas e explicadas através dos flash backs, já conhecidos do público. Parece que o Professor sempre tem tudo sob controle, mesmo em momentos de quase impossível resolução. É interessante observar a construção dos personagens incluídos na última temporada, como é o caso de Palermo e seu relacionamento com Berlim (que morreu ainda no final da segunda temporada).
Alguns problemas da série acabam passando quase despercebidos, como os personagens super poderosos, que nunca são acertados pelas balas e conseguem a todo custo aquilo que buscam. No caso dessa temporada temos por exemplo o segurança do Banco, Gandía, o típico vilão, disposto a dar sua vida pelo seu trabalho, o que acaba não tendo muito sentido para os telespectadores.
Apesar das repetições de enredo das temporadas anteriores, o que torna essa temporada um pouco mais cansativa, o mais interessante continuam sendo os relacionamentos humanos, que nos fazem constantemente esquecer de que deveríamos estar torcendo pelos policiais e não pelo grupo. É praticamente impossível não se colocar no lugar dos membros da Resistência e ficar indignado com as ações da polícia, que como vimos, foi capaz de torturar Rio. Na série temos ainda, para deixar ainda mais claro de que lado devemos ficar, a reação das pessoas que acompanham os acontecimentos do lado de fora do prédio, sempre em protesto e em defesa dos assaltantes, enquanto o lado dos teoricamente “bonzinhos” tenta desviar a opinião pública com diversas manobras de mídia. Aqui, o capitalismo parece estar ele mesmo em cheque e começamos a pensar sobre o lugar do dinheiro na nossa sociedade e a corrupção daqueles que o detêm.
Destaco ainda a trilha sonora, como sempre maravilhosa, e o poder das mulheres, que tomam para si grandes responsabilidades do enredo, tanto do lado dos assaltantes, com a inspetora Morrillo, Tóquio e Nairobi (Que comece o matriarcado!), como do lado da polícia, com a inspetora Alicia Sierra.
Então, se preparem para comer todas as unhas, não perder nenhum minuto dos acontecimentos, torcer e chorar junto com os criminosos. Todos nós somos a resistência!
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