Pulsão é o novo documentário da Trópico, que estreia nesta sexta, dia 4 de setembro e será disponibilizado gratuitamente por tempo indeterminado. Nós do Coletivo Nerd tivemos acesso antecipado ao filme e estamos aqui para contar para você o que achamos.
Primeiramente, me atrevo a dizer que é praticamente impossível não saber nada sobre política no Brasil. Quem não tem aquele tio no grupo do whatsapp que vira e mexe envia alguma coisa relacionada ao Bolsonaro, ou ao PT? As redes sociais que comandam e vigiam a nossa vida também estão repletas de informações, sendo estas verdadeiras ou não. E, por esses motivos, Pulsão é um documentário que veio no momento certo.
Pulsão vem sendo produzido desde 2016, por Diego Florentino e pela roteirista Sabrina Demozzi, que inicialmente fariam um documentário sobre o Circo da Democracia, evento realizado em 2016 em Curitiba, para debater a conjuntura política do momento, conforme é trazido também em algumas cenas no documentário. Ao longo da produção, porém, alguns outros temas foram surgindo e tomando conta do que apresentariam, como os efeitos da desinformação nas redes sociais, as fake news e o uso dos algoritmos para disseminar o ódio.
O documentário é, definitivamente, muito corajoso e busca resgatar os acontecimentos turbulentos do Brasil de 2013, momento em que ocorreram as jornadas de junho, até nossos dias atuais – ou quase, já que cada dia temos uma novidade política despontando. Nas entrelinhas, encontramos as discussões acaloradas que envolveram os brasileiros, como o golpe ou impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, a posse do vice Michel Temer, a Lava Jato e o combate à corrupção, até a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro.
O melhor de Pulsão, definitivamente é a montagem, realizada por Rodrigo Baptista. A pesquisa de imagens é muito bem feita e podemos relembrar ou conhecer tudo o que ocorreu ao longo dos anos. São inúmeros os arquivos de imagens colocados uns após o outro, variando de matérias de jornais, publicidade, arquivos de internet, misturados com a trilha sonora produzida por Cesinha Mattos. Alguns dos sons são perturbadores e podem ser comparados com tiros, quase como se estivéssemos vendo um suspense, ou indo mais além, um filme de terror. Podemos dizer que é uma verdadeira metáfora das dúvidas que estão presentes com relação ao futuro do Brasil.
Existe uma divisão clara em Pulsão: inicialmente, com as manifestações e o povo nas ruas, um momento de esperança, que dura muito pouco, caminhando cada vez mais para os dias atuais e a sensação de desconhecimento e medo. Juntamente a esses sentimentos está a tecnologia e o avanço que ela pode proporcionar para a sociedade, de um lado, e, do outro, as fake news e a manipulação das redes sociais.
Pulsão estabelece uma linha do tempo muito bem feita, porém as informações são tantas, e apresentadas em uma velocidade tão rápida, que o documentário se torna cansativo e até mesmo confuso, em especial se o telespectador não for brasileiro. Esse talvez seja o grande problema do filme, que poderia se aprofundar mais em alguns assuntos. Temos a impressão de que realmente estamos visualizando as informações pela internet – além das imagens colocadas propositalmente dentro do desenho de abas – com os cortes rápidos de um assunto para o outro.
Porém, como mencionamos, é de extrema dificuldade condensar tudo o que tem acontecido no cenário político brasileiro em um filme de um pouco mais de uma hora e Pulsão merece muito crédito por isso. As imagens dos movimentos do MBL e do Vem Pra Rua, ambos de direita, são relevantes e necessárias para entendermos como a elite tirou proveito da efervescência das manifestações de rua.
Posso dizer que Pulsão nos ajuda a entender muitas coisas ao concatenar os eventos de 2013 a 2020, ao mesmo tempo em que denuncia o aumento das notícias falsas, a polarização da imprensa e como a esquerda tem dificuldades em adaptar-se à linguagem das redes sociais. A frase que une todas essas informações e guia o telespectador é justamente de que “os eleitores se comportam como consumidores no mundo digital”, substituindo os interesses coletivos pelos individuais, e por esse motivo são facilmente manipuláveis.
“O único tempo que impera é o presente com todos os seus medos e temores” – diz o documentário em seu final, e de fato, com a agilidade que as informações chegam, é muito fácil apagar a memória. Precisamos resgatar o que já aconteceu, para que não se repita no futuro. Essa é a importância de Pulsão, mostrar que é necessário discutir política, afastando-a da ideia de que esse é um tema polêmico demais, com a consciência de que a internet é sim importante para obtermos acesso às informações, sem deixar de nos questionarmos em quais mãos está esse poder e como ele vem sendo utilizado. Devemos ir além do simples consumir o que recebemos pelas redes e começarmos a duvidar do que lemos e ir além da superficialidade e banalização das informações.
Você poderá conferir o documentário de maneira gratuita, amanhã, dia 4 de setembro no site www.pulsao.tv.br
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