A lenda do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda ganha uma nova roupagem, dessa vez mais direcionada ao público infantil, mas que não se esquece de sua origem para reinventar a obra e inseri-la no contexto atual. Baseando-se na história tão conhecida, O Menino Que Queria Ser Rei não tem aquela pretensão de se tornar um épico, que muitas vezes acompanha algumas produções baseadas em histórias antigas, e justamente por isso funciona muito bem.
O enredo remonta à clássica novela de cavalaria, contando inclusive com uma animação no início que resume de forma lúdica toda a saga de Arthur e a Excalibur, até a prisão da bruxa Morgana nas profundezas da Terra. Nos dias atuais, século XXI, conhecemos o menino Alex (Louis George Serkis, filho de Andy Serkis) e seu amigo Bedders (Dean Chaumoo), que são alvo de bullying na escola por serem gordinhos, baixinhos e nerds. Os valentões que não gostam deles são Lance (Tom Taylor) e Kaye (Rhianna Doris), dois alunos maiores, mais fortes e mais lapidados na vivência em sociedade, mas que no fim não passam de crianças também.
Alex, apesar de não se conformar em ser vítima do bullying dos colegas, ao mesmo tempo que reage à intimidação dos valentões, se recusa a pedir ajuda de um adulto que possa intervir, alegando que ninguém o entenderia. Então, em um dia que ele acaba caindo em um terreno em construção, depois de ser perseguido por Lance e Kaye, acaba encontrando uma espada misteriosa encravada na pedra, decidindo retirá-la e levá-la para casa. Mal sabia ele, mas aquela era a lendária Excalibur, que não somente concedia a ele a responsabilidade como rei da Inglaterra (ainda que oficialmente ele não vá ocupar trono algum), mas também despertaria o mal escondido nas profundezas, incorporado em Morgana (Rebecca Ferguson), ainda sedenta por uma vingança.
(Divulgação/Fox)
Agora, Alex precisa reunir o seu exército para enfrentar as forças do mal que ameaçam não só a sua própria vida, mas toda a Inglaterra. Para isso, ele conta com a ajuda de seu fiel escudeiro Bedders, além do lendário mago Merlin, interpretado por Angus Imrie (versão jovem, que acaba tendo mais destaque) e Patrick Stewart (que faz algumas participações como a “versão original” do mago). Alex também acaba convencendo seus algozes Lance e Kaye para entrar na jornada com ele, e ainda que existam algumas rusgas entre os quatro, todos aceitam a missão.
O enredo é um tanto bobo e as discussões provocadas por ele acabam ficando apenas no plano da superficialidade. Por exemplo, um dos motivos de Morgana despertar e a Excalibur reaparecer são o medo e a falta de esperança vividos nos dias de hoje, com tantas ameaças de guerras, ideais fascistas reaparecendo, pessoas se desinformando cada vez mais etc. No entanto, até pelo público a que se destina, a discussão fica restrita a algumas manchetes televisivas que se sobrepõem no início. É lógico que o filme procura passar uma mensagem de esperança por meio das crianças, porque elas é que vão moldar o futuro, mas poderia ter entrado mais a fundo nessa questão para mostrar que, sem dúvida, o mal está onde as pessoas deixam de acreditar no bem. No mais, é a típica jornada do herói: desacreditado no início, o protagonista ganha aliados e a confiança necessária para acabar com o inimigo, que, apesar de poderosíssimo, não consegue resistir à união de todos no momento crucial.
(Divulgação/Fox)
O diretor Joe Cornish (que assina os roteiros de Tim-Tim e do primeiro Homem-Formiga) capricha bastante no visual. Podem não ser os melhores efeitos do mundo, mas as cenas são convincentes misturando cavaleiros fantasmas flamejantes perseguindo crianças pelas ruas de Londres e também em meio a florestas, e isso, em um filme para crianças, é algo raro de se ver (considerando que não é uma animação). Alguns problemas também podem ser observados nas atuações, um tanto caricatas e canastronas (vimos a versão dublada, então pode ser que o original não cause essa má impressão), mas é preciso levar em conta que o elenco é muito jovem, e talvez os dois atores mais experientes (Stewart e Ferguson) tenham aparecido pouco justamente para não ofuscar os demais.
Por fim, O Menino Que Queria Ser Rei é um filme bem construído, coerente em suas pretensões e atende ao apelo de seu público. Não é, de longe, uma produção espetacular, mas cumpre o que promete, e tem a consciência de que não precisa fazer nada mais que isso. A lenda do Rei Arthur, base de toda a história, não precisa ser conhecida a fundo para se ter uma experiência completa, mas com certeza aqueles que a conhecem bem vão identificar os vários pontos de influência que ela tem sobre o filme. No entanto, destacamos mais uma vez que é destinado ao público infantil, então, dificilmente vai agradar os adultos que não estejam levando uma criança ao cinema.
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