O romance ambientado em futuros distópicos parece ainda ter uma longa vida no mundo do entretenimento. O filme Máquinas Mortais, baseado na série de livros best-seller do autor Philip Reeve, com direção de Christian Rivers (vencedor do Oscar de efeitos visuais por King Kong em 2006) e roteiro do renomado Peter Jackson, Phillipa Boyens (que também atuou no roteiro da série Senhor dos Anéis) e Fran Walsh, traz uma aventura que cria um novo universo a ser explorado no campo do mundo pós-apocalíptico.
A intenção é, como em toda adaptação de trilogias de sucesso, produzir uma série de filmes que dê cabo de toda a mitologia dos livros, mas tendo em vista os resultados nada expressivos na bilheteria (mesmo quase um mês depois de estrear nos Estados Unidos), além de um orçamento muito alto (em torno de US$ 150 milhões), já são quase confirmadas as notícias de que não haverá continuação, e podemos atestar que muito provavelmente esse não é um filme de empolgar as multidões.
Ainda que todos já estejamos calejados com histórias do fim do mundo, o enredo é até bem interessante. Num futuro distante, depois de uma catástrofe causada pelo uso de armas superpoderosas (um evento conhecido como Guerra dos Sessenta Minutos praticamente dizimou a vida na Terra), as cidades que antes eram fixas no chão passaram a ter rodas para se deslocar por aí e disputar os poucos recursos naturais restantes. Nesse ambiente hostil, Londres é a cidade mais rica e poderosa, controlada pelo prefeito Magnus Crome (Patrick Malahide), que delegou ao arqueólogo Thaddeus Valentine (Hugo Weaving, único nome de peso do elenco) a missão de comandar os “engolimentos” (no sentido literal mesmo, porque a cidade engole outras menores que dispõem de recursos), a fim de garantir a sobrevivência de todos os habitantes. É uma metáfora que diz muito sobre o mundo atual, mas explorada de maneira um tanto rasa, principalmente por conta do lançamento de diversos plot twists que acabam por ofuscar uns aos outros. Aparentemente, tratam-se de elementos do livro (que não foi lido pelo autor da crítica) que foram um tanto “jogados” na história para não deixar de lado nenhum elemento importante, mas que podem não fazer sentido para quem não leu.
(Divulgação/Universal)
Em um ponto, temos o arco de uma fora da lei, Hester Shaw (Hera Hilmar), que faz de tudo para entrar na cidade predadora de Londres e se vingar do arqueólogo Valentine porque aparentemente ele causou um grande mal a ela e sua mãe. Em outro, temos o aspirante a historiador Tom Natsworthy (Robert Sheehan), que coleta as peças de “tecnologia antiga” (para eles, muito mais avançada, uma vez que tudo foi perdido na catástrofe) e estuda como era a sociedade antes deles. Os caminhos dos dois jovens se cruzam, eles são jogados da cidade e se veem obrigados a conviver, e aí começa a jornada dos heróis, ela por vingança e ele para voltar pra casa, enquanto diversos outros acontecimentos vão revelando a eles um plano maquiavélico de Valentine e uma conspiração contra o sistema dominante (um grupo conhecido como os anti-tracionistas quer derrubar as cidades predadoras), tudo isso tendo que enfrentar ainda os fantasmas que assombram cada um (e isso inclui um “exterminador do futuro zumbi” também com seu arco próprio contado na trama) e as dificuldades do mundo quase selvagem que é a vida fora das cidades.
A duração de mais de duas horas pode parecer muito se considerarmos um filme comum, mas no caso desse, com tantos elementos a serem explorados, parece que tudo se passa rápido e rasteiro demais. Isso é até normal em um filme de início de franquia (vimos isso em Jogos Vorazes, Maze Runner e Divergente), mas como o universo aqui é muito mais denso, o espectador sai com a sensação de que poderia ser muito melhor. Os personagens poderiam ser mais bem desenvolvidos, os arcos poderiam estar mais bem separados para conseguirmos focar em uma história de cada vez e os plot twists poderiam estar mais marcados para não dar aquela sensação de que uma coisa sobrepõe a outra (um personagem que parecia ser importante é esquecido de repente, uma reviravolta que parece importante se mostra indiferente etc.).
(Divulgação/Universal)
No ponto positivo, os efeitos visuais são deslumbrantes, e é muito intensa a sensação de que a cidade realmente se move e engole as outras, além de os cenários serem muito bem trabalhados, apesar de haver muita computação gráfica. No campo das atuações, todo mundo está numa média, o que também é normal por se tratar de um filme de apresentação, mas parece que dificilmente veremos o desenvolvimento dos personagens confirmando-se que não haverá sequências. Ao menos, apesar de todos os problemas, o filme tem um fim e não fica a sensação de história inacabada.
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