A Netflix tem apostado cada vez mais em um catálogo diversificado, e pensando nisso surgiu Indústria da cura, nova série documental, com o título original (Un)Well, e que promete ser muito importante em meio às diversas discussões sobre saúde, geradas pela Pandemia. Com produção de Stuart Fero, Ken Druckerman, Anneka Jones, Erica Sashin, e Banks Tarver, da Frontline, uma conhecida produtora de documentários nos Estados Unidos.
Indústria da cura, em seus seis episódios, analisa seis tratamentos alternativos que viraram moda nos últimos tempos (alguns já utilizados há vários anos, inclusive), apesar de terem suas origens em tradições quase desconhecidas pelo mundo ocidental. Trazendo com muita maestria a opinião da ciência e de estudiosos, que alertam sobre os perigos e riscos do uso das terapias alternativas, de um lado, e a experiência de pessoas que utilizaram os métodos de cura apresentados e outros que se beneficiaram de maneira indireta dessas utilizações de outro.
Cabe ao telespectador escolher o seu lado na discussão, ao mesmo tempo em que descobre o porquê do sucesso desses tratamentos e adentra as dificuldades de acesso à saúde nos Estados Unidos, que em alguns aspectos pode ser comparada à do Brasil.
O primeiro episódio de Indústria da cura fala sobre óleos essenciais. Vemos como um exemplo de dois lados desse tratamento a situação desesperadora de uma mãe com sua filha no espectro, em busca de acalmá-la e fazê-la dormir mais tranquilamente e também uma usuária dos óleos, que desenvolveu alergias, devido ao uso intensivo do tratamento. Também nos é revelado um esquema de pirâmide de algumas empresas que vendem os óleos essenciais.
Já o segundo episódio de Indústria da cura trata da terapia tântrica, utilizada em terapias de casais e como uma maneira de realizar uma conexão consigo mesmo e com o outro. O sucesso dessa terapia aconteceu com sua disseminação no universo das celebridades.
O terceiro episódio fala sobre a utilização do leite materno por adultos, no caso, um fisiculturista que acredita que esse tratamento é capaz de ajudar a desenvolver músculos e também um homem com câncer de próstata, que utiliza o leite materno na tentativa de cura. Somos apresentados à cultura mongol, que amamenta suas crianças durante longos períodos, geralmente até os 8 anos de idade e também não tratam o ato de amamentar como um tabu, como deveria ocorrer também no mundo todo.
O quarto episódio de Indústria da cura fala sobre o Jejum e o tratamento através do conhecidíssimo jejum intermitente, muito utilizado em culturas orientais, mas conhecidos, muitas vezes por nós, apenas como uma maneira de emagrecer. Podemos ver que algumas empresas parecem estar muito mais à frente no conceito, como no caso de uma no Vale do Silício, onde as pessoas praticam o jejum intermitente com o auxílio de profissionais.
O quinto episódio é sobre Ayahuasca e na minha opinião o mais interessante. O tratamento através dessa substância serve para pessoas que precisam lidar com alguns problemas psicológicos, como dependência química, depressão e estresse pós traumático. A Ayahuasca acabou se tornando um negócio, com grande procura, em Quito, no Peru, e em alguns lugares, em contato com a cultura ocidental, assim como os outros tratamentos apresentados, perdeu sua tradição de cerimônia.
Por fim, o último episódio de Indústria da cura é sobre o tratamento com abelhas, através de seu veneno, a apiterapia. Esse episódio é bem aflitivo, porém vemos que vai além dos tratamentos superficiais de beleza, como conhecemos, e pode ser utilizado também no tratamento da Doença de Lyme e para artrite, como ocorre na Palestina. Vemos que no mundo ocidental é um ingrediente muito caro, diferente da Faixa de Gaza, onde medicamentos são mais difíceis de serem conseguidos e as picadas de abelha são alternativas mais viáveis.
Podemos dizer que Indústria da cura é uma série documental para entretenimento, mas que precisa ser vista com responsabilidade, lembrando sempre de que procurar um médico é fundamental antes de tentar tratamentos como os apresentados. É muito interessante e também relevante que sejam trazidos os estudos científicos, juntamente com as diferentes experiências relatadas sobre os métodos.
Também é muito bom conhecer a utilização primária destes tratamentos, fora da cultura ocidental, bem como a história envolvida nessas terapias, que acabam muitas vezes sendo transformadas em verdadeiras indústrias da cura. Nesse universo capitalista, tudo pode ser vendido, explorando a crença de pessoas desesperadas e visando ao lucro.
Se você se interessa por tratamentos alternativos eu indico essa série. Ela é muito bem sucedida em demonstrar que, quando a ciência falha em oferecer a cura, as pessoas apelam para a fé, nos Estados Unidos e no mundo de maneira geral. Indústria da cura é uma série necessária para os tempos atuais de pandemia, enquanto ouvimos falar de cloroquina, ivermectina e ozonioterapias, na tentativa de deter um vírus do qual ainda temos pouco conhecimento.
Você pode conferir a primeira temporada de Indústria da cura na Netflix:
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