A série Desalma é um dos lançamentos recentes da GloboPlay, que veio para provar que o Brasil também pode fazer séries de terror, que elas podem ser muito boas e com uma produção de cair o queixo. A série, com direção de Carlos Manga Jr., indicado ao Emmy por Se eu fechar os olhos agora e da, também recente produção da Globo, Aruanas, mobilizou um time enorme, com 36 sets de filmagem, 120 pessoas envolvidas, com gravações no Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, em nove meses de muito trabalho. O resultado foi compensador.
Desalma foi escrita pela novata Ana Paula Maia e, ao ser exibida no Festival de Berlim, arrancou diversos elogios. Conta a história de uma cidade pequena, fictícia, no Brasil, fundada por imigrantes ucranianos, chamada Brígida. Nessa cidade um menina foi assassinada, Halyna (Anna Melo), em 1988, durante as celebrações da festa pagã de Ivana-Kupala. A morte da jovem, porém guarda muitos segredos, que vão além do que todos conhecem.
Trinta anos depois, a festa volta a ser celebrada em Brígida, após ter sido banida, devido à tragédia, no mesmo momento em que Giovana Skavronski (Maria Ribeiro) e suas duas filhas, Emily (Juliah Mello) e Melissa (Camila Botelho), se mudam para a pequena cidade, após o suicídio do marido, Roman (Nikolas Antunes), que por sua vez tem algum envolvimento com a morte de Halyna.
É muito difícil resumir Desalma, porque os fios que interligam os personagens são muitos, a ponto de lembrar a famosa série alemã, Dark – além de ter um clima de suspense descolorido muito parecido com essa série. Para completar, temos a todo momento flashbacks de 1988, na época em que ocorreu o assassinato da jovem, misturados com 2018. O sobrenatural também está muito presente, com a ideia de bruxaria e de que é possível executar uma transmigração de alma.
Vale enfatizar o trabalho primoroso das conhecidas atrizes já muito conhecidas do público, como é o caso de Cassia Kis, como a bruxa Haia. Ela é a grande vilã de Desalma, teoricamente, está perfeita no papel e acaba explicando para o telespectador todas as lendas e rituais que serão mostrados. Outra grande atriz é Cláudia Abreu, que tem cenas muito potentes, envolvidas no drama de seu filho, que está sendo assombrado por uma outra alma.
Outros atores aparecem nos últimos episódios de Desalma, quase como figurantes, que o caso de Alexandra Richter, André Frateschi e Sabrina Greve e que provavelmente aparecerão mais na segunda temporada. Porém, um grande problema no quesito atores é a falta de diversidade. Não vemos nenhum personagem negro. Pode ser que o motivo seja, por ser uma cidade pequena de imigrantes ucranianos, mas Giovana, que vem de São Paulo, poderia, por exemplo ser interpretada por uma atriz negra. É algo a ser pensado para as próximas temporadas.
O ponto alto de Desalma, no entanto, está no nível da produção em si. Com claras referências ao filme de terror Midsommar, a série pode até mesmo se comparar a este filme, com relação à qualidade. Fica claro o trabalho em diferenciar a cidade em duas épocas distintas, através da fotografia, Carlos Manga afirma que utilizou cores mais amareladas para representar Brígida nos anos 80, “mais primaveril, porque nessa época os jovens eram mais felizes, tinham mais vida”, ele diz, enquanto a fotografia atual é mais escura e densa. Já a equipe de sonoplastia foi composta pelo consultor alemão, Alexander Wurz, especialista em produções de suspense sobrenatural, como Dark.
Em alguns momentos, Desalma pode parecer muito lenta. Os primeiros episódios demoram para se desenrolar e nos deixa um pouco impacientes, mas também é o clima desejado pela produção. Ao longo do tempo, ela vai te prendendo nesse clima lento, que chega a dar agonia, pelo peso do suspense. Algumas coisas poderiam ser cortadas, como as explicações desnecessárias, bem como os diálogos entre os jovens, poderia ser melhor trabalhado, para não dar tanto a impressão de artificialidade.
Resumindo, Desalma é uma série que pode facilmente ser igualada às produções de terror e suspense de outros países, como Dark e Twin Peaks – com o enredo da morte de uma jovem a ser investigada, misturado com eventos paranormais. Ela tem apenas dez episódios de mais ou menos 40 minutos, mas é capaz de prender o telespectador na trama das famílias, de uma cidade tão pequena, em que tudo parece estar interligado. A boa notícia é que ela já foi renovada para uma segunda temporada e eu estou muito ansiosa para acompanhar o que pode acontecer. Então, que tal conhecer e prestigiar um pouco dessa obra de arte brasileira?
Você pode conferir a primeira temporada de Desalma na GloboPlay.
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