Recentemente Chambers foi indicada para mim, pela Netflix, claramente devido aos algoritmos do serviço de streaming: série com jovens, suspense, terror, sobrenatural, coisas que tenho visto ultimamente para comentar para vocês. Nem sei como a Netflix consegue calcular alguma coisa para mim, mas enfim, fui assistir, mesmo ela tendo estreado em abril de 2020, com seus episódios longos, 10 de 40 minutos. Agora vocês podem saber o que eu achei, caso estejam pensando em ver essa série.
Chambers conta a história de Sasha Yazzie (Sivan Alyra Rose), uma jovem que sofre um ataque cardíaco e precisa de um transplante de coração para sobreviver. Ela tem descendência indígena e foi criada pelo seu tio, Big Frank (Marcus LaVoi). Como um milagre, ou uma coincidência, uma menina de sua idade, Becky Lefevre (Lilliya Reid) morre eletrocutada em sua banheira e seu coração continua batendo, sendo doado para a jovem. Sasha, então, começa a se aproximar da família da garota morta, Nancy (Uma Thurman) e Ben (Tony Goldwin) e estudar em seu colégio com uma bolsa.
Ao longo do enredo de Chambers, porém, Sasha vai adquirindo memórias e características de Becky, bem como começa a questionar as circunstâncias de sua morte. Quanto mais próxima Sasha está de entender os motivos do suposto suicídio de sua doadora, mais ela vai se tornando a Becky.
Como vocês podem ver, o roteiro tem potencial, a história parece ser interessante, apesar de bem maluca. Isso sem falar nos nomes do elenco. Apenas lendo Uma Thurman, você já pensa, não tem como Chambers ser uma série ruim. Aí é que você se engana. Então, para começar, já aviso, Chambers é uma série bem ruim, com uma produção muito boa. A fotografia é bonita e a edição de som é ótima em criar o clima de suspense. Ela surpreende com as imagens impactantes e diretas, sem poupar o espectador das cenas de aflição, morte e sangue.
Chambers promete falar dos dramas de uma adolescente, questões religiosas e raciais, já que o avô de Sasha – mesmo sendo um personagem quase ausente na série e na vida da protagonista – é indígena e diz que o afastamento da menina dos ensinamentos ancestrais é a causa de sua vulnerabilidade para o mal. E de fato, vemos isso acontecer em uma metáfora do “engolimento” dos povos norte-americanos originários pelos brancos. Sasha vai sendo tomada por Becky e embranquecendo.
Em meio a essa trama complexa, que se fosse mais bem trabalhada poderia ser incrível, temos também o abismo social que separa a família e as diferenças religiosas, já que a família de Becky pertence a Cystal Valley, uma comunidade rica, com estilo de vida alternativo e adepta de uma crença, relacionada à Fundação Anexo, que pouco nos é revelada ao longo da trama, porém envolve possessões, exercícios parecidos com o de yoga e rituais estranhos.
Para completar, Chambers tem um ritmo muito lento, principalmente no início, e não consegue engajar seu espectador. O sofrimento de Thurman e Goldwyn como pais da menina morta é convincente e bem executado, mas as inúmeras reviravoltas vão tirando o foco da história, a ponto de você não saber mais o que está acontecendo. A trama deseja incorporar assuntos que já conhecemos e que são um sucesso de público, como a possessão de corpos e o drama de uma adolescente, mas acaba caminhando para episódios finais intermináveis, com uma luta entre duas meninas diferentes, que se arrasta e exige um esforço desnecessário da atriz principal.
Chambers é uma série que conseguiu trazer uma personagem principal diferente do que estamos acostumados, uma indígena norte-americana atores competentes e conhecidos, uma fotografia bonita e uma ideia interessante, porém, muito provavelmente, tentou englobar assuntos demais, reviravoltas demais e coisas demais, de maneira geral, em uma série tão pequena, fazendo com que ela acabe aparecendo nas indicações de muitas pessoas. Eu arrisco a dizer, porém, que muitas não devem nem ter chegado na metade dos episódios propostos, e talvez esse seja o motivo de ela ter sido cancelada também.
Você pode conferir a primeira temporada de Chambers na Netflix.
Quer saber mais sobre séries? Inscreva-se em nosso canal do YouTube.
Deixe um comentário