Amor no Espectro ou Love on the spectrum é o novo reality show disponibilizado pela Netflix, produzido pela Northern Pictures para a emissora ABC em 2019, filmado inteiramente na Austrália e muito diferente de todos os reality shows que estamos acostumados, mesmo que ainda apresente alguns problemas.
Amor no Espectro segue sete jovens dentro do espectro do autismo em encontros e relacionamentos. Ela quebra diversos tabus da sociedade, que acredita que essas pessoas não têm interesse em se relacionar ou até mesmo, que são incapazes de se relacionar. Somos apresentados, assim, a diversos perfis de jovens neurodiversos, alguns em relacionamentos duradouros e outros em busca de um amor pela primeira vez.
Ao longo dos apenas cinco episódios que compõem Amor no Espectro, vemos como os jovens interagem com outras pessoas, lidam com decepções e encontros, como nós mesmos temos que fazer ao longo da nossa vida. Algo que chama muito a atenção, que parece até mesmo óbvio, mas ainda não é respeitado na nossa sociedade atual, é que eles querem apenas ser tratados como pessoas normais, não importando suas dificuldades ou maneiras de ver o mundo.
O ponto mais interessante da série é definitivamente o acesso, quase que inédito, para nós, neurotípicos, de algum conhecimento sobre o autismo. Os perfis são bem diversos, sendo alguns mais carinhosos, apreciando abraços, por exemplo, e outros mais distantes, sentindo-se confortáveis apenas com apertos de mão. Percebemos, então, que existem dificuldades distintas para cada um deles: alguns possuem síndrome de Down, outros epilepsia, ou deficiência física, e existe o interesse sexual diverso, como uma das meninas que acaba preferindo se relacionar com outras meninas.
Os diferentes interesses e personalidades apresentados por Amor no Espectro, também são tratados de maneira leve e sensível, introduzindo cada um dos jovens como eles são: diferentes. Essa maneira de trazer seus gostos e coisas que desagradam cada um, faz com que nós nos identifiquemos com eles, também.
O produtor do reality show, Cian O’Clery, dá um show de empatia e conhecimento, sabendo sempre o momento de parar de filmar, de dar espaço para os participantes, oferecer conselhos e conversar com os jovens e familiares. Em alguns momentos podemos ver, até mesmo, os bastidores da gravação.
Mas Amor no Espectro ainda está bem longe de ser um programa perfeito sobre Autismo, já que algo muito crucial faltou na produção: o relacionamento e o encontro amoroso de pessoas no espectro com pessoas neurotípicas. A série faz parecer que autistas podem apenas namorar autistas. Ela não reflete o que de fato acontece na sociedade. É claro que em alguns momentos, os jovens dizem preferir relacionar-se com alguém do espectro, mas essa poderia não ser a única opção.
Um segundo ponto, que tem sido muito levantado pela crítica da série, é o excesso de melodrama que ela ganha em alguns momentos, o que faz com que, muitas vezes os neurotípicos subestimem os jovens no espectro e infantilizem seus relacionamentos.
Outro incômodo de Amor no Espectro também é o fato de que pessoas no espectro parecem ter que mudar suas atitudes para se encaixarem na situação do encontro, modificando suas personalidades para tornarem-se aquilo que é considerado como “normal”. Para isso eles contam, até mesmo, com a ajuda de uma coach de relacionamentos, especialista em autistas, Jodi Rogers.
Por fim, o maior problema de Amor no Espectro está em frustrar os próprios autistas, porque acaba não sendo tão representativo para essas pessoas, a quem esperava-se que o programa seria dirigido. O programa acaba servindo mais como uma inspiração para os neurotípicos para refletirem sobre seus relacionamentos e suas vidas.
É necessário lembrar que ainda são raros os programas que tratam de autismo na televisão, por esse motivo, Amor no Espectro é um grande avanço apenas por estar presente na Netflix. Apesar de seus muitos problemas, a série colabora para abrirmos nossa mente, conhecermos um pouco mais sobre esses jovens e quem sabe inspirar um investimento maior no tema. Espero que na próxima temporada os problemas sejam corrigidos e possamos ver uma ainda maior diversidade de jovens no espectro, bem como relacionamentos também com neurotípicos.
No momento deixo apenas registrada a importância de Amor no Espectro ser vista e divulgada, para que algumas barreiras sejam derrubadas e estereótipos deixados de lado. Assista com a mente aberta e o coração, percebendo que empatia é fundamental.
Você pode ver a primeira temporada de Amor no Espectro na Netflix.
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