Mula é uma palavra ambígua em português, mas no caso do título desse filme se refere a um conceito quase universal: a pessoa que faz o transporte de drogas para os grandes traficantes, estando consciente do que está fazendo ou não. E a mula da vez é o pobre senhor Earl (Clint Eastwood, que também dirige a produção), um veterano da guerra da Coreia obcecado por trabalho e que acabou, por conta disso, esquecendo-se de sua família, perdendo muitos dos momentos importantes ao lado dela. Em meio a isso, Earl acaba vendo seu negócio de cultivo de flores ruir (graças à internet, de acordo com a visão dele) e precisa arranjar algum meio de se sustentar, justamente por estar agora velho, sozinho e rejeitado pelos parentes.
(Divulgação/Warner)
O filme narra essa relação conturbada de Earl com a família enquanto ele vai entrando cada vez mais no negócio de transporte de drogas. A necessidade, o dinheiro fácil e mais tarde o gosto pelas extravagâncias típicas do meio (além da vaidade de ser o centro das atenções) acabam por convencê-lo a continuar, mas ao contrário do que se pode pensar, Earl tem muita consciência do que está fazendo e a diferença que o faz ter sucesso no ramo é justamente essa. Além disso, os traficantes que o contrataram estão muito satisfeitos, ainda mais pelo fato de que dificilmente alguém desconfiaria de um velhinho tão simpático e que dirige tão tranquilamente. E tudo fica ainda mais interessante quando descobrimos que a história é baseada em fatos reais.
(Divulgação/Warner)
A sensibilidade do Clint Eastwood diretor está muito presente em cada cena, e vai nos conduzindo a compreender aquele senhor e todas as decisões que ele toma na vida. O enredo foca bastante nas ações cotidianas de Earl, e aí o Clint Eastwood ator dá um show. Do alto de seus quase 90 anos, ele esbanja carisma e domina todas as cenas, mesmo aquelas em que poderíamos duvidar um pouco da idoneidade do personagem. Tudo é colocado de forma leve e tocante, de maneira que nos simpatizamos até mesmo com os traficantes, uma vez que estes também caem nas graças do “vovô”.
(Divulgação/Warner)
O grande elenco do filme, que conta com nomes de peso como Bradley Cooper, Laurence Fishburne, Dianne Wiest, Michael Peña, Andy Garcia e Taissa Farmiga, entre outros, apesar de apagados em papéis secundários, só dá mais respaldo ainda à atuação de Clint. Não poderia ser diferente porque afinal ele é o protagonista, e o tempo dos outros atores em cena é curtíssimo, mas é impressionante ver um senhor dessa idade segurando uma história dessa forma. O filme não conta com efeitos visuais explosivos e a trilha sonora é bem tranquila e cheia de músicas antigas, para colocar o espectador no ritmo de Earl, que nesse momento da vida não tem pressa nenhuma de chegar a qualquer lugar, ainda que esteja trabalhando com prazos. Em alguns momentos a trama fica até um pouco lenta e chata por conta disso, então, esteja preparado para ter uma certa boa vontade se você não é daqueles que curtem histórias mais “paradas”.
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