“Sua maior batalha é contra você mesmo”, quantas vezes as pessoas não utilizam essa frase no dia a dia para encorajar alguém? Essa talvez seja a principal mensagem a ser captada por quem assiste Creed II, afinal, do início ao fim vemos todos os personagens travando batalhas internas que só poderão ser resolvidas por conta própria.
A franquia de Rocky Balboa nunca foi sobre boxe, isso sempre foi uma metáfora para a superação de lutas internas que os protagonistas precisavam travar consigo mesmo. E Creed II amplia exponencialmente as batalhas internas de seus personagens ao acrescentar em sua trama novos conflitos, personagens e principalmente, o legado que cada um é capaz de deixar para o futuro.
Bastou Adonis Creed (Michael B. Jordan) se tornar o novo campeão mundial dos pesos pesados para que fosse desafiado por Viktor Drago (Florian Munteanu). Viktor é filho de Ivan Drago (Dolph Lundgren), que acabou matando Apollo Creed no ringue décadas atrás. Tanto Adonis quanto Viktor buscam por vingança por seus pais, um pela morte e outro pela reputação, tornando-se ironicamente responsáveis pelo legado de seus pais.
E esse é um dos principais acertos do roteiro escrito por Stallone e Cheo Hodari Coker (Luke Cage), focar nos embates que acontecem fora do ringue. Ao mostrar como a vida e a reputação de Ivan Drago foram ladeira abaixo após a morte de Apollo Creed e o modo como cria seu filho, o roteiro humaniza até mesmo uma figura tida como uma máquina de luta que fora parado apenas por Balboa.
Por outro lado, Adonis lida com seus próprios problemas fora do ringue. A sombra do pai e o desejo de vingança pela sua morte fazem com que o lutador se desestabilize emocionalmente, caindo no jogo da família Drago e deixando de ouvir a sua própria família.
O diretor Steven Caple Jr. não tenta reinventar a roda, ele sabe que o público está ali para ver uma nova jornada do herói, o sofrimento, a derrota, a sabedoria de Rocky e a volta por cima. É o que marcou a franquia, é onde o espectador se vê representado para buscar a confiança para a resolução de seus próprios problemas.
Embora o filme seja sobre a trajetória de Creed, tenha certeza que valerá cada centavo do ingresso ver Balboa e Ivan Drago em cena, criando metaforicamente uma última luta entre os dois, fora dos ringues, sem plateia e o glamour da fama, um olho no olho que representa como pessoas comuns devem lidar com seus problemas.
O roteiro ainda acerta ao mostrar como somos capazes de resolver alguns problemas sem medo e ao mesmo tempo incapazes de resolver coisas simples. É o medo, medo de não ser o bastante, medo de que não sejamos capazes, o medo e frio na espinha que assola cada lutador antes de entrar no ringue, e a essa altura você já deve ter percebido que me refiro a vida como um todo e não um simples ringue de boxe.
Depois de tantos anos, a franquia faz questão de nos lembrar que nunca foi sobre bater, mas sobre o quanto ainda aguentamos apanhar e continuar em frente, arcando com a responsabilidade e o resultado de nossas escolhas, evoluindo como pessoas e construindo nosso próprio legado.
[rwp-reviewer-rating-stars id=”0″]
Deixe um comentário