Embora os filmes de festivais sejam considerados muito cult para serem exibidos no circuito comercial (o que inevitavelmente os leva a não serem conhecidos do grande público), chega ao Brasil o longa francês Conquistar, Amar e Viver Intensamente, que narra a história de um romance entre o escritor Jacques (Pierre Deladonchamps) e o estudante Arthur (Vincent Lacoste). Ambientado na década de 1990, em Paris, o filme apresenta uma narrativa um tanto peculiar, que procura antes de mais nada se voltar para os pequenos diálogos do dia a dia, mostrando, assim, como eram os relacionamentos numa época em que AIDS e outras doenças, apesar de conhecidas e tratáveis, ainda representavam uma sentença de morte para quem as tinha.
É claro que um filme francês já gera desconfiança de boa parte das pessoas, e de fato, este aqui apresenta uma linguagem típica da escola francesa, principalmente pela ausência, no decorrer da trama, de um conflito que represente o seu fio condutor. Na verdade, os conflitos foram gerados antes da história que está se passando ali na tela, e cabe ao espectador, por meio de dicas pinçadas aqui e ali, montar o quebra-cabeça que leva ao final, tudo isso sem qualquer diálogo expositivo ou mesmo a intervenção de um narrador. Todo o filme se baseia nas situações cotidianas vividas pelos protagonistas, sua relação com os amigos, com a família e também com as pessoas de seus relacionamentos anteriores. Não espere dentro da história por nenhum momento empolgante, a graça da trama é a sucessão de pequenos acontecimentos, que podem despertar um riso ou outro, e uma lágrima bem discreta se você for bem sensível (mas muito sensível mesmo).
E a intenção dessa história é representar o encontro de duas gerações de homens homossexuais, o escritor já velho, doente e quase sem nenhuma esperança, e o estudante, jovem, cheio de vida e descobrindo os prazeres de se tornar um adulto. Esse choque de gerações, além de proporcionar ao primeiro a chance de viver um novo amor (ainda mais porque ele presencia o definhamento de seu ex, algo que ele acredita que também viverá em breve, pois tem AIDS), dá ao segundo a chance de entender melhor o universo do relacionamento entre dois homens. Tudo é mostrado sem exagero e da forma mais natural possível, sem pedir pela sanção do espectador, indicando que uma história de amor não tem gênero, idade, ou condição social. A ambientação no ano de 1993 é simplesmente perfeita, porque a sociedade da época é recriada nos mínimos detalhes, em cada objeto, roupa, hábitos (você que é mais velho se lembra que era permitido fumar até dentro de um consultório médico?), e também na filmagem, que parece ter sido feita na época, com uma saturação de cores que lembra um VHS.
Divulgação
Como pontos negativos, destacamos a duração de mais de 2h, que acaba deixando o espectador em muitos momentos de tédio, uma vez que meros diálogos filosóficos sobre a vida e as coisas não são suficientes para segurar uma história (e mesmo considerando que o filme foi concebido dessa forma, sabemos que isso já afasta a maior parte do público deste lado do Atlântico). Essa duração excessiva até compromete a montagem do filme, porque ficamos esperando por um momento crucial que nunca vem, e de repente a tela se apaga e sobem os créditos.
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