Quando Steve Carell resolveu dar um tempo nas comédias e mergulhar no drama, muito se duvidou de sua investida. Hoje, o ator é elogiado por suas interpretações que lhe renderam inclusive, uma indicação como melhor ator no Oscar de 2015 pelo seu papel em Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo. Podemos dizer que Leandro Hassum passa por um processo de transição parecido, migrando da TV para o cinema em papéis que exigem mais da capacidade de interpretação dramática do ator. Sua nova tentativa é Chorar de Rir, filme que chega aos cinemas nesta quinta, 21.
A trama apresenta Nilo Perequê (Leandro Hassum), conhecido humorista que resolve abandonar a comédia e partir para o drama, a fim de ter seu trabalho como ator levado a sério. É como se Chorar de Rir representasse um simbolismo para a mudança de direção na carreira do ator. E isso seria realmente interessante, não fosse as dificuldades que o filme enfrenta para encontrar sua identidade.
A trama que se inicia como uma comédia tenta desenvolver arcos dramáticos que não funcionam devido a superficialidade com que as questões são resolvidas sem qualquer desenvolvimento. A química entre os personagens é inexistente, os diálogos soam forçados e as atuações ainda carregam os cacoetes humorísticos da TV. Descambasse literalmente para a comédia escrachada e essas questões não incomodariam, pois seria uma linguagem já popular transportada para o cinema.
Ao incorporar piadas de gases, drama, magia e um relacionamento mal desenvolvido, o filme se perde prejudicando o desejo de Hassum de mostrar seu potencial como ator dramático, caso fosse sua intenção. Tudo isso ao som de Despacito, uma música animada e dançante, mas que aqui é utilizada à exaustão em uma versão instrumental no momento que o filme tenta emocionar seu espectador.
Mas Chorar de Rir não é de todo ruim, a naturalidade com que Fulvio Stefanini e Jandira Martini desenvolvem seus personagens deveria servir como exemplo para o desenvolvimento dos demais personagens, mas deve se creditar isso também a experiência dos atores. As participações de Caíto Mainier e Sidney Magal são dos poucos momentos que valem a pena, até porque todo filme que utilize o hino Sandra Rosa Madalena merece um pouco de crédito.
O problema gira em torno da figura central de Chorar de Rir. Nilo Perequê é um personagem mal desenvolvido, que busca ser levado a sério como ator dramático ao mesmo tempo que está fazendo piadas. É impossível levar a sério um personagem que minutos atrás fazia uma piada de sexo oral com uma caveira.
Traçando um paralelo entre Leandro Hassum e seu personagem Nilo Perequê, caso o ator tenha o desejo de mudar o estigma sobre sua carreira, talvez tenha que desvencilhar sua imagem de personagens que reaproveitam os trejeitos e cacoetes de Jorginho do Zorra Total. Por mais que possa se discutir a qualidade do roteiro, a direção, ou qualquer outra coisa, a impressão é que os personagens interpretados por Hassum ainda remetem à sua imagem como o gordinho simpático do programa global. E é uma imagem que o ator parece tentar se desvencilhar a cada produção, mas não será realizando piadas do tipo “se eu fosse gordinho você acharia engraçado” que ele irá conseguir. O Candidato Honesto 2, Até Que a Sorte Nos Separe e Não Se Aceitam Devoluções estão aí para provar.
Infelizmente, Chorar de Rir mostra-se uma comédia que ainda carrega os vícios de humorísticos da TV, provando que a comédia nacional precisa se reinventar para não chegar ao ponto de aprisionar os críticos para impedir as más avaliações. Afinal, quem quer rir tem que fazer rir também.
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