Fotografar sonhos sempre esteve entre os desejos da neurociência, a concretização dessa façanha possibilitaria maior controle sobre a mente, avanços em tratamentos psicológicos e até mesmo o total controle sobre um indivíduo, quem impediria?
Simão (Alexandre Nero) é um fotógrafo casado com Catarina (Maria Flor), mas acaba se envolvendo com a atriz Renée (Camila Morgado). Em uma viagem à Jerusalém com a amante, Simão acaba fotografando um atentado terrorista. Enquanto suas fotos rodam o mundo, a fama chega com a mesma proporção que as críticas à sua atitude.
Sucumbindo à pressão, Simão abandona a carreira de fotógrafo e afirma só voltar ao seu ofício quando puder fotografar sonhos. É quando entra em cena Alícia (Andrea Beltrão), ex-namorada de Simão e o convida para um experimento, fotografar seus sonhos no laboratório da neurocientista Dra. Weber (Andréia Horta). A experiência coloca em risco o casamento de Simão e também a sua segurança.
O que os trailers de Albatroz venderam como um suspense, o roteiro de Bráulio Mantovani (Cidade de Deus, Tropa de Elite, Tropa de Elite 2) trata de transformar em uma experiência sensorial contada de maneira não linear, criando propositalmente uma tensão e desorientação que permeia toda a história. Trata-se de um trabalho conjunto de roteiro, direção e fotografia que intencionalmente ou não, coloca o espectador no lugar de Simão, incapaz de distinguir o que é real e o que é ilusão.
Os atores estão muito a vontade em seus papéis, em especial as mulheres que acabam se tornando diferentes representações para Simão: Andrea Beltrão e Andréia Horta simbolizam a noção de tempo e espaço de Simão; Maria Flor entrega uma personagem extremamente emocional que representa o amor do protagonista e Camila Morgado representa seu psicológico.
Percebe-se a intenção do filme em mexer com o psicológico de Simão através de diversas facetas, e Alexandre Nero entrega-se ao papel passando ao espectador a real sensação de falta de controle de suas ações, impossibilitado de distinguir em dados momentos o sonho da realidade.
O filme peca apenas por recorrer a uma conclusão já explorada anteriormente em obras que trabalham a psicologia e distorção de realidade de seu protagonista, mas a maneira como essa conclusão é construída é eficaz ao ponto de ainda nos deixar em dúvida se o que vimos é real ou apenas mais um embuste.
Esteticamente, Albatroz foge de tudo aquilo que estamos acostumados no cinema nacional. Recorrer à neurociência para criar elementos de ficção científica mesmo que com certa liberdade, foi um acerto do roteirista Bráulio Mantovan. Acerto esse que o diretor Daniel Augusto e o diretor de fotografia Jacob Solitrenick trabalham cuidadosamente, fornecendo ao espectador “totens” que o ajudarão na construção de sua própria versão do filme, sim, porque a montagem de Fernando Stutz permite que possamos ter entendimentos diferentes sobre o destino dos personagens de acordo com objetos, cortes e falas que nos apegarmos, um trabalho técnico louvável e ousado.
Ao abordar questões como neurociência e até mesmo livre arbítrio, Albatroz entrega um suspense que trafega entre o sonho e a realidade através de um experimentalismo sinestésico único na cinematografia nacional.
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